O Sonho

Eu tive um sonho magnífico, encantador e sublime. Sonhei que estava no alto de um rochedo a beira mar, devia ter bem uns cinqüenta metros acima do nível do mar, ventava muito, mas a vista era maravilhosa. Podia-se contemplar as gaivotas em sua pescaria, famintas brigavam entre si, mas nunca abandonavam o bando. Comigo estavam alguns novos amigos imortalizados por suas obras (Vitor Hugo, Van Gogh e Mario de Andrade), discutíamos sobre as mulheres: suas belezas, suas destrezas, suas sutilezas e suas revoltas.

Vitor Hugo, velho lobo do mar, hábil manipulador das palavras, contou-nos sobre o canal da Mancha, sobre a tranqüilidade das rochas e toda a fúria posta das ondas do mar. Dizia ele, que tal imagem, fazia-lhe lembrar das belas mulheres que teve a oportunidade de conhecer, mulheres tranquilas e furiosas, mulheres amáveis e vingativas. Imaginei...

Van Gogh, louco, mutilado e apaixonado, contou-nos sobre seus dias em Paris, as luzes da noite, o requinte das donzelas e de como amou desesperadamente uma prostituta, de como se deitou com ela e de como através de suas mãos descobriu a verdadeira ascese do prazer. Imaginei...

Mario de Andrade, musicista revoltado escritor, contou-nos sobre a pauliceia desvairada, sobre as belas mulheres, elegantes e discretamente indiscretas que desfilavam glamurosas sobre as calçadas encantadas do Largo do Arouche do inicio do século vinte. Imaginei...

Também falei de mulheres, uma em particular, de cabelos e olhos negros como o de Iracema de José de Alencar, de sorriso e beleza que mudam os humores dos ambientes como a da elegante senhorita Blanche de Dostoievski, de paciência e amor ardente como o da rainha Penélope de Homero. Tais observações puseram arregalados os olhos de meus novos amigos imortais. Questionavam-se sobre a existência de tal mulher, deixei que discutissem entre eles, pois ouvi a beira mar uma doce voz que era como se uma sereia cantasse só para mim, vindo de longe, distante canto chamando meu nome: “Ley”.

Aos poucos meus novos amigos imortais iam desaparecendo em meio às brumas do sonho, indignados e com certa inveja posta nos olhos por não conhecerem tal mulher. Ao despertar, ela estava lá, tão real quanto o beijo, ao meu lado, tão quente quanto o corpo, a me chamar.

Daniela, a mulher de meus sonhos, que surtou a revolta entre os imortais.

Ley Gomes
Enviado por Ley Gomes em 14/11/2008
Reeditado em 27/09/2012
Código do texto: T1282279
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