Música ao longe - Mário Rezende Filho (batman)

Ainda agora, basta fechar os olhos e ouvir...

... O ranger do velho assoalho de madeira,

As folhas das canas no canavial,

Tic, tac do relógio na parede da sala.

7 de setembro de 1971.

Eu na minha expectativa,

Aguardando meu irmãozinho chegar.

Mamãe no quarto com a vovó e a parteira,

Eu na sala com o vovô, sonhando...

Esperando o tal aviãozinho ou a cegonha.

Medo do nenem cair no telhado e se machucar,

Atenta para retê-lo em meus braços, assim que tocasse as telhas.

Mamãe gritando, meu pânico crescendo,

Minha agonia me consumindo,

Um choro, chegou e eu não vi.

Não houveram telhas quebradas,

Houve um corre-corre de bacias,

Água e toalhas, e a tesoura?

Quando a parteira a empunhou,

Lá estava eu, com meu quatro anos,

Olhos arregalados, gritei:

"Não machuca ele!"

Mamãe pediu que eu fosse boazinha e saísse,

Saí, mas hoje, 37 anos depois ainda me lembro,

Do choro de meu irmão Mário,

De como o amei à primeira-vista,

E ao lembrar daqueles berros me emociono,

É como se fosse uma linda música,

A benção de ter companhia na infância e na vida.

Pra mim o choro dele é uma música que não esqueço,

Uma música ao longe,

Com acordes perfeitos que me tocaram a alma.

E por perto está sempre,

Sua presença é real dentro do meu coração.

Por minha causa já se fez super-herói, psicólogo, etc.

Mário Rezende Filho,

Meu amado irmão, presente de Deus pra mim.

Mary Rezende
Enviado por Mary Rezende em 16/10/2008
Reeditado em 16/10/2008
Código do texto: T1232018
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