O SAGRADO DIA DO PROFESSOR

O SAGRADO DIA DO PROFESSOR

Lembro-me com detalhes dos anos que estudei no antigo Grupo Escolar Abel Capella, hoje E.E. Básica Abel Capella.

O velho Grupo Escolar construído em 1962 guarda marcas da história de alunos, professores e funcionários que por ali passaram. No início eram apenas três salas, que abrigavam pouco mais de cem alunos, dois banheiros, uma varanda e um gabinete para Direção, local para recepção de autoridades, pais de alunos e uma espécie de sala-castigo para alunos que se mostravam rebeldes.

O gabinete, o terror dos alunos em que passar por lá era muito mais que um desafio, era sem dúvida um ato de coragem. Com raras exceções, os alunos que passavam pelo gabinete do Diretor (a), sabiam que seriam punidos em casa pelos pais. Muitos traziam no dia seguinte a marca da vara de marmelo como marca registrada da autoridade dos pais.

Eram poucos os pais que duvidavam da palavra do professor, ou que recriminavam suas atitudes, pois entendiam que a escola deveria ser a extensão da casa, o lugar onde o filho deveria reafirmar a obediência e preparar-se para vida, mesmo para a vida difícil de pescador.

Professor tinha status de autoridade, era reconhecido pelo seu trabalho e entendido por suas atitudes.

Os tempos mudaram, as comunidades cresceram e as pessoas não se conhecem mais.

De um lado Leis não cumpridas, favorecendo o crescimento acelerado da impunidade de crianças e adolescentes que usam de seus “direitos” acoitados por pais que perderam o controle de como educar seus filhos e por conta disso, lhes entregam a própria sorte.

Por outro lado a falta de amor, de afeto, de carinho, de cuidados tornam crianças e adolescentes vítimas do descaso.

Os belos tempos que o Professor podia usar da autoridade para manter a ordem e o controle já não existem, ficaram apenas na lembrança de gente que construiu a educação com inteligência e determinação, alguns dos fatores principais para segurar uma escola.

Ficaram para trás os conceitos morais que deram lugar ao desprezo, e a escola, na apreciação de muitos pais, tornou-se um lugar para guardar o filho enquanto alguns trabalham e outros passam de bar em bar. Esses valores que a sociedade moderna quis transformar em liberdade de expressão, liberdade de ir e vir, acabaram transformando a escola num pesadelo para muitos professores que preparam suas aulas e não conseguem executá-las, pela falta de respeito que acabam encontrando no recinto sagrado do trabalho.

E ali se vão todas as esperanças, toda boa vontade, todo preparo.

Anos de estudos, de dedicação, subtraídos de forma grosseira e covarde por uma sociedade que critica políticos, ignora polícia, descumpre leis e não são capazes ao menos de se organizarem em prol do bom censo, e em nome deste participar da escola de seus filhos, ou no mínimo, respeitar quem assumiu a responsabilidade de alfabetiza-los e de lhes formar cidadãos críticos. É talvez porque a escola moderna tem a incumbência de formar cidadãos críticos e não de preparar cidadãos para criticar os outros, que a comunidade não tem enxergado o real sentido dessa formação.

E enquanto as coisas não melhoram ou não pioram, ficamos com as belas lembranças das aulas de matemática de dona Maria Fermina da Cunha, com as aulas de Português tão bem regidas pela dona Sônia Garbelotto, as aulas de Geografia comandadas por Derci Mafra Campos, as aulas de história da professora Diva Siqueira, as aulas de Ciências pela dona Diná Melo entre muitas que registraram seu nome naquele estabelecimento de ensino. Saudosos tempos que Elizabeth Scherer era Diretora.

Essa escola ficou na imaginação de muitas pessoas, um tempo que não volta mais.

Contudo ainda há tempo para um novo caminhar, recheado de bons momentos. E se a comunidade escolar interna der as mãos, deixar de tapar o sol com a peneira e começarem, juntos, a se defenderem contra os inimigos da educação, teremos uma escola transformada. Não uma escola sem problemas, mas uma escola com soluções imediatas, que fará na persistência de seus bons atos, a comunidade saber que o Professor tem que ser respeitado, que o Professor merece a consideração e o respaldo da comunidade para continuar seu trabalho de bom formador de opiniões.

Parabéns Professor pelo seu Sagrado Dia.

Publicado no Jornal Biguaçu em Foco em 10/10 2007