A estátua de Deus
Na Praça da Sé
ao lado dos mendigos
confortavelmente localizados
na calçada do metrô,
onde a guarda civil
impede delitos
e camelôs impedem
a passagem dos ambulantes que,
por sua vez
cravejam o asfalto com bitucas e chicletes.
Lá na Praça da Sé
onde pombas sombreiam os escarros,
e postes, paralelos com as placas
desviam rumos obstinados
existe uma estátua.
A estátua da Praça da Sé
assiste ao perpétuo cotidiano de São Paulo.
Não sei quem lê está imortalizado
é um velho de terno e gravata,
frio e bronzeado
que sorri sutilmente
enquanto as sobrancelhas
esboçam um outro sentimento.
Poucos devem imaginar,
mas vejo na estátua um Deus.
Esse velho
é quem olha à tudo e a todos.
O velho é quem permanece intacto
defronte as desigualdades
e é o velho que chora na chuva
pelo frio dos pedintes descobertos.