SOBRE A TERRA ONDE NASCI

Às margens dos rios da Babilônia, nós nos assentávamos e chorávamos, lembrando-nos de Sião.

Nos salgueiros que lá havia, pendurávamos as nossas harpas, pois aqueles que nos levaram cativos nos pediam canções, e os nossos opressores, que fôssemos alegres, dizendo: Entoai-nos algum dos cânticos de Sião.

Como, porém, haveríamos de entoar o canto do SENHOR em terra estranha? (Salmos 137:1–4).

Por que a saudade da terra onde nasci?

Por que após muitos anos não esqueci o torrão natal?

Por que um encarte de jornal sobre sua data de emancipação política despertou o sentimento de que faz parte de mim – uma volta ao passado?

DEUS não nos criou robôs, muito menos insensíveis.

ELE nos fez humanos, dotados de sentimentos, razão e emoções – numa harmonia infinda.

Formando-nos do pó da terra, agraciou–nos com o sopro da vida, inseriu em nós o abstrato...

O Altíssimo nos fez para exercer domínio sobre a natureza, no sentido de aperfeiçoá-la visando o bem comum.

O concreto é passageiro e limitado enquanto o abstrato nos projeta à eternidade – amplo, incompreensível, complexo...

Vivemos entre avançar rumo ao desenvolvimento, quando somos levados ao distanciamento geográfico;

E manter as raízes que nos garantam estabilidade, embora coloque no peito a saudade da terra querida

onde caminhamos os primeiros passos,

vivemos as primeiras emoções,

tropeçamos nos primeiros obstáculos,

obtivemos as primeiras conquistas.

Creio que DEUS nos formou do barro, conforme relato no Gênesis e, quando em interrogações – enfrentamos os problemas do cotidiano, através de SUA Palavra (A Bíblia Sagrada) ELE nos reanima.

Na saudade da querida Salgueiro, lembro do povo de Israel na distante Babilônia, com saudades da terra natal.

A Saudade da Terra Onde Nasci é saudável e demonstra que sou fiel às raízes.

Como buscar estabilidade na vida sem apego às raízes?

Sinto que a terra onde nascemos é como um pedaço de nós e a distância como uma amputação – uma parte foi retirada do corpo, deixando a sensação que ainda estaria presente.

Por isso, Salgueiro vive dentro de mim,

tão real como os inúmeros dias quando anoitecia e amanhecia entre as suas fronteiras tão singelas,

sonhando tantos sonhos de um futuro melhor não apenas para mim; mas para cada um de seus filhos.

Terra onde vivi tantas desventuras, mas que tanto me ensinou a tentar novamente,

que me deixou partir porque estava em condições de superar obstáculos – pelas lições aprendidas e apreendidas entre teus muros que tanta segurança oferece.

Voltando no tempo, vejo cenas do parque infantil, em frente à capela da Escola Normal ou Colégio Estadual, onde havia um pavilhão destinado ao Ginásio Industrial de Salgueiro.

Quem esteve presente àquela época sabe quão precioso foi um tempo que fez parte do tempo, mas parece tão irreal.

Como não lembrar os desfiles do sete de setembro com requintes e dedicação de alunos e professores?

Salgueiro de Severino Alves de Sá, de Audísio Rocha Sampaio e do Dr. Romão, do Tonheiro Elizeu, Antonio Dedé, Damião Peba com o seu Sertão Propagandas, do Mestre Jaime e do Zé do Mestre, do Coronel Veremundo, do Óleo Asa Branca, do Cine Salgueiro, da Casa de Farinha e do Curtume N. S. de Fátima?

A relação seria enorme e permanece armazenada na memória esperando novas oportunidades de expressar mais um pouco da saudade.

Por essas e outras, a terra onde nascemos faz parte de nós, deixando uma raiz profunda, impossível de ser arrancada, por mais distante que estejamos – inclusive, levamos essa parte de nós, transplantando-a onde quer que se encontre um porto para ancorar o barco da existência.

Chagas dhu Sertão
Enviado por Chagas dhu Sertão em 27/08/2008
Reeditado em 03/10/2008
Código do texto: T1148170
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