Minha imaginação está pintada! Mas está de luto.
Hoje eu pinto minha imaginação... Ela está em pleno vapor pintando a minha mente. Não é alucinação, mas posso ouvir ainda aquele velhinho deitado em sua rede, pés descalços, chapéu na cabeça cantarolando ao som das cordas do seu violão: eu vou para marancagalha eu vou...
Minha imaginação ainda me permite pintar eu ali na minha pequena varanda, sentada no degrau, tentando fugir do sol, mas ouvindo: eu vou pra marancangalha eu vou...
Posso ainda sentir o cheiro da broa saindo do forno, ouvir o som dos passos leves e calmos pela casa o olhar brilhante pra um quadro, a o voz suave falando: eu gosto de me deitar na rede e esperar o trem passar ali cantarolando minhas humildes canções.
Humildes são nossas imaginações comendo costelinha de porco, mas sentindo o gosto de peixe devido as belas palavras sobre a Bahia e seus pescadores que Caymmi nos contava.
É com grande prazer que posso dizer que conheci essa figura, esse ícone que muitas pessoas não conhecerão pessoalmente, mas em alma e coração. Quem diria q no interior de Minas se refugiaria do tumulto das grandes cidades Dorival Caymmi.
Que honra poder tomar o café da manhã vendo seu jardim, o café da tarde ouvindo-o cantarolar, sentir o abraço de avô a espera dos netos a cada visita mensal domiciliar.
Hoje já não estou na cidadezinha do Interior, Dorival não está mais conosco também, então resta-nos seguir seu exemplo: compor a própria vida, dançando no palco do nosso autoconhecimento, pintando a nossa imaginação.