FELIZ DIA DOS PAIS! SAUDADES...
Meu pai foi pai e mãe. Enviuvou aos 49 anos de idade, no auge de sua vida. E, assim permaneceu, até o fim – aos 73 – quando partiu ao encontro de minha mãe – morta aos 50 anos de idade. Não se casou novamente. Talvez tivesse vivido alguns romances, - era um homem bonito, carismático - porém, sempre manteve a sua vida particular distante de nós, de sua casa. Era de uma personalidade forte, muito correto – não admitia erros e, em decorrência desse caráter ilibado, foi um pai duro e repressivo.
Não raramente, a sua forma de nos educar era à base da cinta – os fins justificavam os meios – dizia-nos. Temia que seus filhos saíssem de sua companhia, um dia. Eu era a primeira filha mulher, após minha mãe ter parido sete filhos homens. Sempre fui duramente castigada, por conta de minha natureza rebelde, contestadora. Nós éramos muito parecidos, embora seguíssemos linhas de pensamento, completamente opostas.
No fundo, ele sabia que um dia eu acabaria por sair de casa – o que aconteceu, com apenas 20 anos - desprovida de experiência de vida, mas com muita determinação sobre o que eu queria para mim, para meu crescimento pessoal. Então, embarquei naquela, que seria uma viagem sem volta para meu ninho, alçando meu vôo de liberdade. Sem aviso, sem despedidas. E foi assim que, em uma noite quente de 20 de Dezembro de 1.970, aportei nesta cidade imensa, assustadora – sem nenhuma bagagem de conhecimentos, trazendo apenas a certeza de que essa atitude - considerada por todos, na época, um tanto quanto maluca - era o melhor para meu crescimento e evolução, substancialmente. Nada me deteria naquela caminhada que considerava ser o início de uma nova etapa. No fundo, eu queria provar a meu pai que eu poderia ser alguém, sem castigos e repressões e tendo apenas a mim mesma como amparo.
Muito tempo depois ele entendeu e admirava-me por isso. Tornamo-nos bons amigos, daqueles que varavam a madrugada conversando – o que seria totalmente inviável, quando eu vivia ao seu lado. Com seu jeito matuto – mas de uma inteligência impressionante, apesar da pouca instrução – meu pai conseguiu estabelecer certos parâmetros, pelos quais eu me norteio até hoje, procurando segui-los.
A sua honestidade, a preocupação de que “levar vantagem em tudo” não é o caminho correto, o saber colocar-se no lugar do outro, antes de lhe causar algum prejuízo, o hábito de dizer sempre a verdade, entretanto, sem ferir as pessoas. Tudo tem o seu momento e critérios.
– “Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura, jamás”!
Meu pai, certamente, não conheceu Che Guevara, mas algumas de suas atitudes bem que poderiam ser comparadas a essa frase.
E, ao longo de todos esses anos, vi-o chorar, copiosamente, pela perda de um filho – aos 41 anos de idade – e, olhe que eu jamais havia presenciado meu pai derramar uma lágrima sequer, mesmo quando perdeu aquela que era a fiel companheira de sua vida, o seu grande amor – minha mãe! Assisti-o definhar, dia a dia, por conta de um câncer incurável e, só não o vi morrer, porque fugi da cena em seu leito de morte.
Meu pai – como todos dirão sobre os seus – foi um grande homem.
Pude constatar muitas alegrias em seus olhos. Quando viu-me - aos dez anos de idade – ganhar um Concurso, promovido pelo Governo do Estado de Minas Gerais, com alunos do primeiro Grau das Escolas Estaduais – em todo o Estado. Era a instituição do “Dia da Ave” e fiquei em primeiro lugar – todos os concorrentes fizeram Redações e eu fui única, entre centenas que participaram, a escrever um Poema, intitulado “Voa, Passarinho”. Meu pai ficou tão feliz que pude ver as lágrimas em seus olhos. Chorava de puro contentamento. De ver a alegria nos meus.
-- Por onde será que andam essas velhas anotações?
Talvez, isso já demonstrava o que eu queria ser, de verdade – Escritora e Poetisa. E hoje, feliz, vejo esse meu sonho realizado, tendo em mãos o meu primeiro Livro. É indescritível a emoção. É como um filho.
Obrigada, Pai, por ter-nos feito pessoas de bem, com princípios e qualidades essenciais para se ter uma vida da qual podemos nos orgulhar – apesar das dificuldades que sempre nos rondaram – e deixá-lo feliz.
* A TODOS OS PAIS DO RECANTO, FELIZ DIA DOS PAIS*