Libertado
Ao José Pansica (1923-1997)
Era a última semana de agosto
E a madrugada beijava-o no quarto.
O Anjo da morte e o Anjo do parto
Brigavam p’ra ocupar o mesmo posto.
Não era derrame e não era infarto,
Nem a velhice esculpida no rosto.
Era um câncer, que se fez de encosto
Na medula óssea, subido do sacro.
A família triste em pranto e desgosto
Assistira o parto vencer a morte:
Pois morrer é renascer doutro lado!
E o homem que nos fora tão disposto,
Deu adeus a Terra com vivas da sorte:
Do corpo podre se viu libertado...
Gigio Jr (Poemas da Meia Idade)