Anjo Sobre Duas Rodas
Trânsito caótico de São Paulo, 07h26min
Horário de entrada: 07h30min
À quase 100 km/h, vinha eu e meu irmão voando baixo pela avenida.
Sinais Verdes... Beleza!
De repente, primeiro sinal amarelo: ultrapassado.
Segundo sinal... VERMELHO!
- FREIA! FREIA! FREIA!!!
Cruzamento, duas pistas...
- NÃO! NÃO!!!
Fecho os olhos. Bate a perna no aço frio do carro. Impacto do crânio de encontro ao solo. O Sangue tapa minha visão, e minha consciência se esvai.
Abro os olhos. Alguém me carrega até um local seguro.
O corpo dói, alguém continua a me carregar.
Deixa-me na calçada.
- Tenta ficar em pé moça... Não, não. Senta aí um pouco e espera o susto passar.
Voltou, trouxe a moto, trouxe meu irmão.
Á essa altura eu já estava bem, consegui levantar. Minha calça tava rasgada, com um pouco de sangue, mas nada demais. De súbito olhei as horas.
- tenho que correr pra chegar ao serviço, vou de ônibus.
- Mas você quer que eu te leve?
- Não. Está perto, mas valeu a boa vontade moço, vai com Deus!
E ele pegou sua moto, eu fui ver se estava tudo bem com meu irmão, quando olho ao redor, cadê? Pra onde ele foi??
* * *
E a historia seguiu. Sofri apenas alguns arranhões, meu irmão também.
Mas essa introdução toda foi a descrição do acidente que sofri á pouco mais de um mês. Estou aqui para homenagear esse anjo, maravilhoso, que me tirou da avenida em seus braços e deu toda assistência.
Seu nome, bem, eu não sei seu nome. Não sei aonde mora, o que faz da vida, se tem filhos, para onde ia naquele momento. Não sei dos problemas pessoais dele, das dificuldades, dos medos, dos seus sonhos eu também não sei nada.
E ele também nada sabe de mim. Mas mesmo assim, no momento em que eu mais precisei de alguém, era ele que lá estava, e foi ele que me auxiliou.
Um desconhecido. É admirável, é emocionante ver isso hoje em dia.
Os motoqueiros, no geral, são mal afamados, sofrem muito preconceito, etc.
Mas uma coisa que eu admiro muito é a solidariedade que existe nessa tribo. Essa homenagem não é apenas para aquele anjo, mas sim para todos os motociclistas, que vivem e sobrevivem no dia a dia, correndo contra o tempo, expostos ao perigo, e nessa união, prestando uma pronta ajuda aqueles que precisam.
Resolvi escrever isso hoje, porque depois de mais de um mês eu o vi! No mesmo local do acidente, Seus olhos são verdes, sua jaqueta é de couro, as letras de sua placa é DYY, não consegui ver o numero, porque ele passou do nosso lado, me olhou com olhar terno, cumprimentou, e saiu, voando baixo pela avenida, não tem um par de asas, mas rezo sempre para que esse anjo continue iluminado por Deus, voando sobre suas duas rodas.