A SAMPA DE SEMPRE...

De ontem, de hoje, e de amanhã...

E que pouco ou quase nada mudou.

Quando optei pela categoria deste texto" homenagem"- na realidade além de São PAulo cidade, pensei em homenagear Caetano Veloso, esse poeta que rima com "maravilhoso", e que tão lindamente nessa composição cantou a São Paulo e a saga poética que a migração enfrenta ao chegar à cidade.

Não faz muito tempo. alguém aqui me pediu para que eu cantasse a Sampa...de Caetano.

A tarefa não é muito fácil, e deixo aqui as minhas rateadas.

Mas confesso que nunca havia parado para interpretar a mensagem da poesia, como hoje eu parei... para cantá-la..

Acredito que Caetano estava iluminado quando tão lúcida e brilhantemente poetizou o choque emocional do sincretismo cultural, ao trazer poeticamente a África para a América, e ambas para São Paulo.

É de emocionar a maneira artística como os versos são colocados numa linda melodia.

Obviamente Caetano também sentia o que se sente ao se chegar por aqui.

A feia fumaça ...essa continua.

Mas a velha garôa...já quase não existe mais...

E hoje, muito pouco se pode curtir..." numa boa"...

Mas... Sampa continua.

Palco de histórias...de sonhos, de emoções...e decepções, como é a própria saga...da vida de qualquer um de nós.

Porque muita coisa sempre acontece nos nossos corações...

Segue a composição em versos.

******

SAMPA

COMPOSIÇÃO DE CAETANO VELOSO.

Alguma coisa acontece

No meu coração

Que só quando cruza a Ipiranga

E a Avenida São João

É que quando eu cheguei por aqui

Eu nada entendi

Da dura poesia concreta

De tuas esquinas

Da deselegância discreta

De tuas meninas...

Ainda não havia

Para mim Rita Lee

A tua mais completa tradução

Alguma coisa acontece

No meu coração

Que só quando cruza a Ipiranga

E a Avenida São João...

Quando eu te encarei

Frente a frente

Não vi o meu rosto

Chamei de mau gosto o que vi

De mau gosto, mau gosto

É que Narciso acha feio

O que não é espelho

E a mente apavora o que ainda

Não é mesmo velho

Nada do que não era antes

Quando não somos mutantes...

E foste um difícil começo

Afasto o que não conheço

E quem vende outro sonho

Feliz de cidade

Aprende depressa

A chamar-te de realidade

Porque és o avesso do avesso

Do avesso do avesso...

Do povo oprimido nas filas

Nas vilas, favelas

Da força da grana que ergue

E destrói coisas belas

Da feia fumaça que sobe

Apagando as estrelas

Eu vejo surgir teus poetas

De campos e espaços

Tuas oficinas de florestas

Teus deuses da chuva...

Panaméricas

De Áfricas utópicas

Túmulo do samba

Mais possível novo

Quilombo de Zumbi

E os novos baianos passeiam

Na tua garoa

E novos baianos te podem

Curtir numa boa...