AFFONSO MANTA - In Memoriam

AFFONSO MANTA - O POETA NÃO MORRE!

Homenagem ao grande poeta baiano - In Memoriam

Desde crianças fomos amigos incondicionais, em Poções, quando estudávamos no "Alexandre Porfírio". Depois em Salvador, costumávamos sair juntos aos domingos à noite e nas férias de junho, curtíamos versos e violadas nas madrugadas frias de Poções.

Tínhamos muitas afinidades na poesia, na música e, em algumas oportunidades, disputamos algumas namoradas. Entretanto jamais brigamos. O seu livro "O Retrato de Um Poeta", publiquei às minhas custas. As fotos de capa são de autoria de Carlos Napoli e eu escrevi as orelhas.

Participei do seu velório com muita tristeza e do seu sepultamento, em Poções, que teve pequeno acompanhamento. A cidade perdeu a referência dos seus grandes filhos, de nascimento ou adotivos. Já foi bem diferente!!! Estou com um roteiro pronto e guardo um banco de imagens que pretendo utilizar para o documentário áudio-visual que projetei para homenageá-lo, mas que não consegui dar consequência por falta de patrocínio. Alugamos equipamentos profissionais e entrevistamos o Dr. Irundy Alves Dias, seu irmão, bem como alguns amigos mais chegados. Sua residência, seu local de trabalho, locais que ele freqüentava. Também guardo uma fita que Edilson Mendes, seu afilhado, presenteou-me e que diz respeito a uma tertúlia no Bar "Quintal" no Passeio Público, em Salvador, cuja qualidade não é boa, mas que pretendemos tirar alguns segundos para enriquecer nosso documentário com o poeta declamando. Quem tiver algum vídeo sobre o poeta Affonso Manta e queira prestar um serviço à cultura, ficaremos gratos em receber uma cópia.

O Retrato de um Poeta

No livro O RETRATO DE UM POETA, por mim organizado e editado, as fotos da capa e da contra-capa, em cores, foram feitas pelo saudoso amigo e poeta, advogado Carlos Napoli. Neste livro há uma novidade que tentamos iniciar em títulos de poesia, não numerando as páginas. Muita gente achou boa a idéia, o próprio Affonso vibrou com a novidade, mas como não pegou e o mercado não mudou e jamais mudará, achamos por bem deixar a experiência em banho-maria. Affonso Manta foi meu colega de sala na escola Alexandre Porfírio no antigo curso primário. Ele gostava de cantar e fizemos muitas serestas juntos, com os amigos Walter Carvalho e Carlos Napoli. Ficávamos noite adentro falando de poesias e de autores famosos e suas manias. Em Salvador, a partir de 1954, passamos a nos encontrar com freqüência, principalmente aos domingos, quando íamos juntos para a Barra paquerar as belas meninas de Salvador! Nas férias. em Poções, nos encontrávamos diariamente, às tardes e às noites. Depois nos afastamos um pouco para um reencontro que tivemos em Poções em 1975 quando eu morava no Rio. De dois em dois meses passávamos uma semana em Poções para rever parentes e amigos e os bares eram o nosso ponto de encontro. Tivemos grandes momentos, inclusive na Festa do Divino, quando nos reuníamos com os demais amigos de infância, nas barracas ou no pavilhão. Ali saia de tudo, música e poesia, causos, anedotas e brincadeiras. Também trocávamos confidências e impressões sobre nossos amigos e outros nem tanto que sempre tiveram um quê de inveja pela genialidade de Affonso e por muitas vezes tentaram nos intrigar, sem êxito. Desde criança fomos amigos, até a sua morte. Mesmo depois da sua passagem, sentimos a sua presença em nossa vida, quando estamos compondo um poema ou cantando certas músicas que ele gostava! Encontrei-o no velório e participei do seu sepultamento com emoção. Minha voz ficou embargada ao dirigir-lhe o último adeus! Ao eterno poeta Affonso Manta, as saudades do amigo Ricardo De Benedictis

GRANDE POETA, GRANDE AMIGO!

Conheci Affonso assim que chegou de Iguaí. Ficamos amigos, desde então. Seu pai, o Dr. Ary Alves Dias ficou amigo da nossa família e quase todos os dias passava em nossa casa, na Rua da Itália para jogar uma partida de buraco, antes de ir para a Farmácia, após o almoço. Eu e Affonso tínhamos muita coisa em comum: gostávamos de música, fazíamos serenatas juntos - cantando os sucessos de Nelson Gonçalves (Adelino Moreira) para as namoradas. Tanto em Poções quanto em Salvador. Em 1983 publiquei seu livro O RETRATO DE UM POETA.

Sempre gostei de escrever, mas sentia-me constrangido em mostrar meus poemas a aquele que sempre considerei O MAIOR POETA DO NOSSO TEMPO, Affonso Manta. Pedia para recitar seus poemas e ficava horas e horas ouvindo-o. Também levávamos horas e horas conversando sobre assuntos os mais diversos. Certa feita, depois de ter publicado os meus primeiros livros de prosa e de poesia, ele me confidenciou: "Rico, eu gosto mais de você como cronista e contista. Você escreve melhor em prosa que em versos" - Tínhamos total intimidade para falar o que bem entendêssemos, quem sabe, pela nossa amizade de infância e pelo grande respeito que sempre norteou nossa convivência. Muitas vezes fui a Poções apenas para vê-lo e batermos um papo. Lembro-me que há uns dez anos, estava sem beber cerveja em função de problemas de pressão e fomos á casa de uma senhora que tem um bar/restaurante na saída para Morrinhos, (em Poções), quando Affonso garantiu: "Que nada, Rico, beba uma cervejinha sem álcool que faz o mesmo efeito"... Fomos cantando e tocando violão e tomei umas quatro garrafinhas da dita cuja e até que não era ruim... No dia da sua morte fui apanhado de surpresa em casa (moro em Vitória da Conquista). Florisvaldo Rodrigues o Marquês da Serra Preta, título conferido pelo Rei Affonso Manta - chegou a minha casa umas 7 horas da noite muito abatido. O Rei Affonso estava morto. Fomos imediatamente para Poções para dar-lhe o último adeus, na fatídica noite de 3 de dezembro de 2003!

Por fim, vamos deixar dois poemas do livro citado várias vezes nesta trilogia: o primeiro, O KREMLIN – uma profecia que já se consumou. E o segundo A CASA BRANCA, outra profecia a se consumar!!!

O KREMLIN

Affonso Manta

O Kremlin é um antro de malfeitores,

De frios assassinos e impostores

Que se fazem de deuses humanistas.

O Kremlin é um covil de trapaceiros

Mascarados de heróis e justiceiros,

Envergonhando até os comunistas.

O Kremlin é um sacrílego atentado

Contra o que é belo e contra o que é sagrado,

Um crime contra a luz do verdadeiro.

O Kremlin é uma sombria ameaça,

Como uma nuvem negra de fumaça,

Escurecendo a paz do mundo inteiro.

O Kremlin é uma besta militar,

O Kremlin quer domar e subjugar

Os homens e as nações em pleno dia.

Os homens e as nações que exigem juntos

O direito de ter os seus assuntos

Livres da intervenção da tirania.

O Kremlin vai ruir com os fariseus.

O Kremlin vai virar, com fé em Deus,

Um montinho de cinzas fumegantes.

Quando a espada de fogo da Justiça

Fulminar este mundo de carniça

Que fede como nunca se viu antes.

A CASA BRANCA

Affonso Manta

A Casa Branca é uma patifaria,

O centro da covarde hipocrisia

Que reina soberana no ocidente.

A Casa Branca é uma prostituta,

A meretriz que se julga absoluta

Na bacanal do mundo decadente.

A Casa Branca é a sede de um império

Que mais parece um podre cemitério,

Tantos são os cadáveres no chão.

A Casa Branca é o nada sobre o nada,

Uma carga da mentira pesada

Que desaba no mar da escuridão.

A Casa Branca é uma besta escarlata

Que oprime os povos e implacável mata

Quem quer que se revolte contra o jugo.

A Casa Branca é uma besta corrompida,

Inimiga da beleza da vida,

Aliada do tira e do verdugo.

A Casa Branca vai ficar vermelha,

Quando o fogo da divina centelha

Arrasá-la de súbito e de chofre.

A Casa Branca ficará sem dono,

Gemendo nos escombros do abandono,

Rangendo os dentes no lago de enchofre.

Ricardo De Benedictis
Enviado por Ricardo De Benedictis em 09/07/2008
Código do texto: T1071681
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.