O meu estranho
Para Lucas, o único presente que não se perderá com o tempo, o meu amor imenso.
O meu estranho
Eu lembro exatamente do dia que ele chegou em casa, minha mãe entrou carregando o embrulho nos braços e eu fiquei rondando os calcanhares dela tentado ver mais uma vez. Lógico que eu já tinha visto, várias vezes, era verdade, porém ele chegava a meu território, meu castelo, o lugar onde tudo era para Hannahzinha, bom, eu ainda não era Hannahzinha naquela época.
Eu morria de ciúmes, por vezes queria odiá-lo, mas eu estava sempre por perto, olhando, lembro de como ele dormia, de como era gordinho e seu cheirinho, meu sonho dourado era carregá-lo no colo, mas eu também era muito pequena. Então ele passou a falar e, por si só, me rebatizou, eu virei Hannahzinha e fiquei assim pra sempre, éramos como super-heróis, fomos motoqueiros, médicos, artistas circenses, ciganos... Éramos tudo, todos e qualquer coisa, bastava dar na telha, eu dizia “Vamos?” e ele estava lá empurrando a bicicleta pelo jardim.
Nós brincamos com nós mesmo, naquela casa só existíamos nós dois e o mundo era nosso, nós brigávamos, chorávamos e dentro de segundos tudo era belo novamente. Ai, e aconteceram tantas coisas...
Crescemos juntos, nos amando e aprendemos a ser amigos, existem coisas que vivem apenas dentro dos olhos do meu irmão, sons que pertencem ao seu sorriso e a forma de me chamar como ninguém nunca fará. Ele é meu lado bom da vida, minha razão quando já não tenho mais nenhuma, ele era o meu estranho, hoje é o meu amigo.