JIRAU DIVERSO N° 27

JIRAU DIVERSO

Nº 27– maio.2008

por Enzo Carlo Barrocco

A POESIA ESPÍRITO-SANTENSE DE GEIR CAMPOS

O POEMA

VIRGÍLIA

Não, meu amigo, não precisas ter

nenhum cuidado: havendo o que cuidar,

cuidarei eu constantemente a te poupar

coitas que vão teu coito arrefecer.

Coitado de quem deixa a noite ser

vinda fora de tempo e de lugar

sombreando as alturas do prazer

com rasteiras tribulações do lar.

Antes que venha a noite, vai o dia

mostrando os horizontes de alegria

que tem a palmilhar no corpo dela:

são costas, são gargantas, são colinas

— toda uma geografia em que te empinas

enquanto pelo teu meu amor vela.

O POETA

Geir Nuffer Campos, poeta, contista, dramaturgo, ensaísta e crítico literário espírito-santense (São José do Calçado 1924 – Niterói, RJ 1999) foi, desde criança, ligado à cultura geral, em especial à literatura. Ganhou, ao longo da vida, vários prêmios literários. Um escritor múltiplo que trabalhou a vida inteira pelo engrandecimento da arte de escrever. Geir publicou significativa obra ensaística sobre tradução que, até hoje, é referência para os interessados no assunto.

ESTANTE DE ACRÍLICO

Livros Sugestionáveis

Ou o Poema Contínuo (Poesias)

Autor: Herberto Helder

Edição: Editora A Girafa

A poesia portuguesa atual se mostra no trabalho de Helder. Coerência, originalidade e técnica nos textos deste excelente autor.

Os Crimes do Amor (Novelas)

Autor: Marquês de Sade

Edição: L&PM Pocket

Quatro excepcionais novelas que bem mostram o gênio literário do Marquês. Momento em que o autor foge de sua linha principal.

Caminhos da Vida (Poesias)

Autora: Maria da Silva Costa

Edição: Secult

Não espere neste livro a formalidade intransigente da gramática ou a austeridade inflexível da metrificação e, sim, o fluir natural do coração de uma pessoa vivida e com o sentimento acima de tudo o mais.

***

A FRASE DI/VERSA

Do mesmo modo que te abriste à alegria

Abre-te ao sofrimento

Que é fruto dela e seu avesso ardente

. Ferreira Gullar (São Luís 1930) Poeta, romancista, dramaturgo, contista, e ensaísta maranhense.

DA LAVRA MINHA

manhã

Enzo Carlo Barrocco

nuvens sobre as telhas

a manhã fria, fria, fria...

orvalho no jasmineiro

pela janela laranjal e açude

ao longo do caminho

um veio d´água da chuva passada

atravessa a cerca

e se perde para os fundos do terreno

nos galhos secos dos paus mais altos

uns pássaros esperam

o sol sob a abóbada gris

de um céu difuso

alguns homens embuçados

passam no caminho

há dias que o tempo anda

assim enevoado

Enzo Carlo Barrocco
Enviado por Enzo Carlo Barrocco em 23/06/2008
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