Delírios de uma mente monstruosa - Tributo a Mary Shelley
As lembranças de seu finado marido povoam sua cabeça todos os dias, a todo momento mas, durante a noite, se tornam mais recorrentes. São tantas as emoções a fluir, que fica até difícil ter alguma inspiração. Sobre a mesa, páginas e mais páginas de uma nova estória que vai nascendo. Mas ela sabe que nenhuma conseguira abater sua mais perfeita criação, seu monstro, seu filho mais aterrorizante e fascinante. Mary Shelley sente dentro de sua alma que, por traz de toda aquela monstruosidade, há algo superior, muito além da roupagem fictícia e macabra. Os pensamentos vão de encontro com os devaneios quando, de repente, ao olhar para fora, através da janela entreaberta, ela vê uma imagem que gelaria o mais valente coração, mas não o dela. É ele, Frankenstein, ou pelo menos sua silhueta, demarcada na noite pela luz da lua. Apesar de saber que pode se tratar apenas de um tronco de arvore retorcido ela se pergunta: seria aquilo a insanidade da velhice chegando, ou seria a sua mais perfeita obra, que fugira de sua imaginação para lhe dar um último adeus e um obrigado? A única coisa que Mary faz é sorrir. E, mais uma vez, ela enxerga seu passado, vislumbrando a mais perfeita de todas as obras: a sua vida.
Nascida no ano de 1797, filha de pai jornalista e mãe feminista, Mary Shelley teve uma educação pouco comum para uma mulher de sua época. Aos dezesseis anos conheceu Percy Bysshe Shelley, que era casado. Iniciaram um romance, que a afastaria do pai. Após a morte da esposa de Percy, eles se casam. Seis anos após, o casamento, Percy morre afogado. Seu mais importante livro foi Frankenstein, no qual criticou a responsabilidade da ciência. Escreveu outros romances, mas nenhum de grande destaque. Morreu em 1851, aos cinqüenta e quatro anos.