HAIKAIS E A POESIA

HAIKAIS E A POESIA

Não tenho nem autoridade e nem vivência para dar palpites sobre HAIKAIS, nascidos lá por 1330 ou 1500 nas montanhas do Japão. Poucos sabem que os sobrenomes japoneses indicam o tipo de profissão que os antepassados tinham ou a região onde a Família surgiu, se nos vales, nos campos alagados onde plantavam arroz ou nos diversos montes, que não são poucos. Em qualquer desses casos, em contato direto com a Natureza ao redor... portanto, o HAICU (adiante, HAIKAI, ignoro se apenas no Brasil) é fruto e consequência da admiração pela Natureza no seu todo: do orvalho aos pássaros, das flores (do pessegueiro) às árvores, vento, rios, sol, tudo !

Dificilmente se produz um Haikai que não esteja em comunhão com a Natureza e tal poesia dispensa rima, embora -- como a Trova -- exija determinado número de sílabas, sempre em 3 versos, de 5-7-5 "pés".A Trova é exigente, não se trata de "quadrinha" do tipo popular como "batatinha quando nasce, etc"... ela espera do poeta sentimento, mensagem, concisão, criatividade, lirismo e, coroando tudo, a tal rima, do tipo ABAB. Com o Haikai sucede o mesmo, exceto pela rima ! O Haikai é uma ode a Natureza, porém permite abordagens pessoais, sobre o poeta, mantendo o lirismo e a filosofia que dirigem cada Vida !

Por uma dessas coincidências movidas pela mão do Destino me chegou hoje, via email, mensagem de uma certa Anália Maria me convidando para participar de coletânea escolar, não vi ainda de que Estado. Cia um texto meu que, após conferir, vi que se tratava de crônica, embora contivesse um "arremedo de haikai", dos meus tempos de jovem, aprendido a partir da obra de Guilherme de Almeida, cheio de rimas e com a métrica usada nas Trovas, a que faz a junção de várias palavras e "conta" a sílaba final na penúltima sílaba. Eu realmente não sei se os 5-7-5 tradicionais do Haikai consideram como válida essa prática herdada da Trova. Como não há coincidências nesta Vida, encontrei no arquivo de meus emais (que não deleto e já são 65 mil) mensagens de Manoel Fernandes Menendez, inesquecível nome ligado ao HAICU e seu maior divulgador, nos anos 80/90, fazendo concursos e comentando livros sobre o assunto.

Reli com saudade e satisfação alguns haikais COM A ESSÊNCIA da Arte japonesa, copiados de "fanzines" de 8 págs me enviados via postal, quando o Correio prestava... no meu caso, pelo menos. Era o famoso "Seleções em Folha" -- magnífico momento de prazer -- no qual Menendez explanava as diversas técnicas 9que não são poucas) e os "KIGOS" de cada mês e que seriam, salvo engano, os TEMAS. Foi uma manhã memorável ! Lamento decpecionar os organizadores da Antologia escolar mas, sem modéstia alguma, não tenho poemas que mereçam o título de HAIKAIS. Felizmente, êles aceitam em outros "estilos", formatos.

Quem sabe agora, aos quase 70 anos, eu produza algo decente e condizente nessa área, se bem que resta muito pouco da Amazônia para ser vista e cantada em prosa & verso. Se depender dessa "maravilha que nos desgoverna", escreveremos... sobre desertos. (lato sensu)

"NATO" AZEVEDO (em 25/jan. 2022, 20hs)

************

ADENDO AO TEXTO: nesta manhã de quarta-feira, 26 de janeiro, ousei trilhar o poético Caminho do HAIKAI, ainda tateando por essas novas e conhecidas veredas. Decidi observar a métrica "enxuta"m sem sobra de sílabas, como ocorre na prática tradicional. Eis o que surgiu:

No Morre triste

os pobres se amontoam.

"Riqueza" de dor !

Ave em janela...

"muro" intransponível,

gelada ilusão.

Abelha fabril

"zune" aos preguiçosos:

-- "LABOR não mata" !

A inundar tudo,

a destruição das matas

choram os Céus !

Meus 2 cães gêmeos:

se bicho não é gente,

bem que parece !

Pomba faminta...

enxada que cava o chão

"plantando" fome.

Sereno orvalho

em nova despedida...

beijos da Noite !

Oh, meu coração...

um beija-flor sedento

por Rosa linda !

No pão quentinho

a lembrança do "MANÁ",

dádiva do Céu !

Quantos Caminhos !

O que tanto procurei

estava em mim !

Nunca hesite...

ANDE ! Ficar parado

só nos consome !

Realizei sonhos,

mas só me incomoda

o que não sonhei !

Ao som do "KOTO",

mil anos de tradição

nas mãos da gueixa.

HAIKAI é "foto"

dos anseios secretos

tornados POEMA !

Dramas da Vida:

para quê um coração

se olhos não tenho ?!

Nossas lembranças...

retratos coloridos

da Vida que foi !

O cego na rua,

a bengala marcando

seu tempo sombrio.

Ao agradecer,

retribuo com coração

o que me vem por mãos.

Inveja à parte,

vibram na Vida as flores

por serem belas.

("haikai genérico", de 1976:)

Aqui dentro eu traço

novos rumos. Durmo, fumo

e rabiscos faço.

"NATO" AZEVEDO

(26/jan. 2022, 6hs)