Haikais! Haikais! III
O menino mau que eu fui um dia
Nunca foi embora
Segura as chaves da minha alegria
O vento nunca que se cansa
Ele me chama sempre
Junta todas folhas e dança
Tirem essas placas todas daí
Há muito o que viver
Não foi em países que vivi
O catavento roda e gira gira e gira
Tudo é apenas brincadeira
As coisas sérias são apenas mentira
São os meus olhos? Ou são os seus?
Só sei que existe o choro
Por cada sonho que um dia se perdeu
Brincamos todos à nossa maneira
Não tenha nenhum medo
As espadas são todas de madeira
Para mim só existe só um remédio
Quero toda a brincadeira
Para acabar com essa doença - o tédio
Existem na vida muitos caminhos
Mas sempre prefira
Ir pelo que vão todos passarinhos
As nuvens dormiam e dormiam
Mas mesmo dormindo
Não sabiam mais onde é que iam
O pequeno poeta ia pelo mundo
E chorava pelo caminho
Mas esse choro dura um segundo
São inúteis todos e quaisquer apelos
Farei durante muitos séculos
Uma coroa de flores pros teus cabelos
São humanos - como humanos erram
Esta é toda lei da vida
Só há silêncio mas os cabritos berram
A espera da estrela até que entendia
Mas não há o que fazer
À não ser esperar que nasça de novo o dia
Quase estamos brincando de deuses
E tudo que o destino aprontou
Acabou-se em nossas redes sociais
A noção de certo e errado ficou no bolso
Era dia isso eu bem sei
E teu amor veio chegando certo e inesperado
Fez-se canção de tudo e qualquer coisa
Bonitas ou feias talvez
Por que não fazem as que o silêncio pode dar?
Há muito tempo meu ouvido esqueceu
As palavras bonitas e vãs
Que o tempo não esquece nunca de buscar
Tudo nunca pareceu tão certo
Politicamente correto
Como as comoções que vivemos
Ritmos todos sempre foram e serão
Mesmo uma pedrinha que cai
Ou latinhas que chutamos vagabundos
Novas bandeiras não precisamos mais
Derrubem as antigas
Que nos falam de teimosos erros
O mundo é uma grande fábrica de gaiolas
Somos os pássaros presos
E nossos lamentos espalham-se pelo ar
Perguntas e perguntas e perguntas
Muitas do menino curioso
Onde estaremos nós daqui há pouco?
Faço das tristezas um barco de papel
Coloco-os num rio de esperança
Mas falta o vento ou então é demais
A vida escorre por entre os dedos
Não podemos isso evitar
Era água? Era areia? Ou eram sonhos?
Quanto mais me entristeço me inspiro
E inspirado há muitas terras
Isso seria ser poeta ou morrer aos poucos?
Entre a loucura e a lucidez um fio fino
Tão fino! Difícil vê-lo...
E daí nasce o riso que mais vale...