Haikais! Haikais!
A dúvida é a única certeza
É difícil caminhar
O barco vai contra a correnteza
Num gesto de amor
A borboleta
Se confunde com a flor
Mamãe, eu vi a lua!
Esquece isso...
É a vida que continua
Este é um hábito bem antigo
Brincar com as palavras
Ou elas que brincam comigo?
O cata-vento roda e roda
Feliz por ser
Mais que uma simples moda
Cada dia tem o seu tamanho
Olhe no espelho
Você só vai ver um estranho
É bom não olhar para os lados
Podemos então ver
Alegria e tristeza de braços dados
O mundo é uma grande fábrica de gaiolas
Somos os pássaros presos
E nossos lamentos espalham-se pelo ar
Perguntas e perguntas e perguntas
Muitas do menino curioso
Onde estaremos nós daqui há pouco?
Faço das tristezas um barco de papel
Coloco-o num rio de esperança
Mas falta o vento ou então é demais
O ódio e o amor resolveram competir
E saíram a correr pelo mundo
Quem chegasse primeiro é que perdia
Se a plateia ri das nossas palhaçadas
Não sabem o que fazem
O verdadeiro riso é de quem o criou
Nunca chame a tristeza pelo seu nome
A pontualidade e a solicitude
Acompanha sempre os maus destinos
Um dia o homem deu um passo e depois outro
E acabou dando mais um
E aí temos o que chamamos hoje - caminho
Não há absurdo que não seja plausível
Tudo pode acontecer
É por isso que vivemos entre os homens
O sono vem vindo mansinho
Quem não sabe
Que é um morrer pequenininho?
Eis a maior e real verdade
Somos tão felizes
Só não temos a felicidade
As borboletas são encantadas
Será que estão
Fazendo curso de fadas?
Acabaram todos os cigarros do maço
E toda sua fumaça
Foi dar uma volta pelo espaço
Quase nada não é nada
Tudo existe
Por essa nossa estrada
- É ela! É ela! Gritava alto o moço
Enquanto ia embora
A alegria sem fazer qualquer alvoroço
Somente duas forças opostas
Podem com certeza
Dar a mais certa das respostas
O bem e o mal cessaram fogo
E isto é o que
Chamamos de regras do jogo
O tempo acaba levando tudo
E aonde está agora
A tua mocidade pessoa velha?
O maior dos mistérios é a simplicidade
As coisas mais simples
Acabam desorientando os rolos
Ironicamente todos os dias
Tragédias se repetem
E isso chamamos cotidiano
A rotina enferruja nossa alma
Nosso voo para o alto
É dificultado por sua monotonia
O coração saiu do ritmo
E o peito gostou
Eis aí a origem da canção
Os bichos sempre ensinam
As coisas ensinam
Só o homem vive desaprendendo
Quanto mais vivo, mais sofro
E também vice-versa
Alguns chamam isso destino
As pedras decidiram em reunião
Que ficarão caladas
Até que o homem recupere a razão
Os grandes reinos desapareceram
Mil castelos ruíram
Mas as flores pequeninas continuam
Paz sem justiça não é paz
Isso tem outro nome
Isso se chama conivência