Nascimento 1

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Nascimento 1

Foram nove meses.

Concepção de encantamento...

E parto feliz.

Nijair Araújo Pinto

Crato-CE, 14 de junho de 2016.

23h44min

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Fábula da caserna

Num reino muito, mas muito distante de nós... Existiam três tribos: a Tribo das Lapas – TL, a Tribo das Estrelas Prateadas – TEP e, por último, a Tribo das Estrelas Douradas – TED. Todas viviam pacífica e harmoniosamente bem até que líderes populistas começaram a incutir na cabeça dos membros da TL que todos eram iguais, não havendo razões para que vivessem como se castas fossem, separados em níveis quase intransponíveis. Afinal, qualquer um poderia migrar entre as tribos, bastando, para isso, o auxílio do tempo. Em dez anos, os mais antigos da TL estariam aptos para ingressar na TEP; em vinte, estariam na TED. Os lapianos adoraram a ideia, uniram-se, criaram associações – Que maravilha migrar entre as tribos! Se os tedianos aceitarem essa modificação, num futuro próximo qualquer lapiano pode tornar-se o líder máximo dos tedianos! É uma porta que se abre, que se expande. Se um lapiano pode fazer tudo que um tediano, então é possível comandar todo o reino!

A história do reino das Milicinhas mostrava que em tempos remotos houve ocasiões onde pessoas exerciam, sem a devida formação, profissões para as quais não estavam preparadas formalmente. Alguns tedianos pesquisaram a vida dos rábulas do começo do século XIX, bem como de outros práticos que atuavam em diversas profissões, tolerados e com a anuência do rei, em razão da falta de profissionais formados em diversas áreas. Entretanto, estávamos séculos adiante e a retomada dessa prática caracterizaria retrocesso... Não para os líderes populistas. Os lapianos eram quase 80% do reino. Reunidos, derrubariam as pretensões dos tedianos. Era preciso continuar, abrir horizontes para os lapianos, enfraquecendo a força das outras tribos. Bastariam mudar as leis e, principalmente, a percepção do chefe maior. Pronto! Qualquer um poderia liderar as tribos, apenas ao sabor da brisa e dos ventos que a fragrância do tempo, esse inelástico bem, possui. Lapianos dormiam lapianos e acordavam, aos borbotões, tepianos.

Anos depois, um dos governantes, em conversa informal com um tediano que o acompanhava, comentou:

– Qual a importância dos tedianos? Milhares de lapianos estão saindo tepianos e tedianos, cumprindo e executando as mesmas tarefas, antes exclusivas a eles, e o reino continua caminhando, sem nenhum percalço. Vamos estudar alguma possibilidade de extinguirmos os tedianos? É muito mais fácil e barato formar e controlar um lapiano! Os tedianos estão sempre insatisfeitos, acreditando que ganham pouco, trabalham muito... Os ex-lapianos estão contentíssimos! Muitos já confidenciaram que nunca tinham imaginado deixar de receber ordens e, de repente, ter a possibilidade de dar ordens, de comandar. Que notável ideia tiveram os líderes populistas! Vamos contratar mais e mais lapianos. Aos poucos, eles substituirão os tedianos, que são minoria e saem muito mais caros para o reino!

O tediano, que carregava a mala do governante, depois de abrir a porta para o rei, respondeu, sorrindo, complacentemente:

– Excelente ideia, senhor! Vamos providenciar mais postos de serviço para novos lapianos, ainda para este ano.

Outro tediano que também acompanhava o governante e escutara o diálogo, tão logo ficou a sós com o amigo, comentou:

– Essa hipótese é muito perigosa! Tenhamos mais cautela.

– Por que diz isso?

– Um enfermeiro, por melhor que seja, jamais acordará médico sem que tenha feito o curso de medicina. Concordar com essas mudanças é aceitar que um mestre-de-obras se torne engenheiro da noite para o dia, sem que faça o curso de engenharia! Se o enfermeiro se julga capaz de ser médico que se submeta ao vestibular! O mesmo serve para qualquer profissão. Em todas existem gradações, existe quem manda mais e quem manda menos. Existem regras. Estamos enfraquecendo a nossa tribo – Lamentável que muitos de nós não estejamos percebendo isso.

– Bobagem, amigo! Nosso Alfa zero-um sabe o que faz.

– Você parece ter esquecido o que houve entre a tribo dos Deltas. Antigamente, antes da Lei das 33 Tábuas, os escribas eram promovidos ao posto de Delta, apenas em razão de concurso interno. Inúmeros se tornaram Delta, sem muita dificuldade – Bastava o tempo passar, fazer uma prova e, Fiat Lux: Surgia novo Delta! Hoje, o que os deltas fizeram? Modificaram as leis e somente através de concurso você pode ser um Delta. Estamos anestesiados, tenho essa impressão.

Nijair Araújo Pinto
Enviado por Nijair Araújo Pinto em 14/06/2016
Reeditado em 25/06/2017
Código do texto: T5667623
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