COLETÂNEA DE HAICAIS
REPUBLICAÇÃO
DE VERÃO:
Um verão sem férias.
Não sei o nome do pássaro
que alegra a manhã.
Enchente nas ruas.
De fora, os tetos dos carros
cabeças em pânico.
As cores do arco-íris.
A olharem para o chão
todos os passantes.
Borboleta errante
sobre a lombada de um livro.
Voa, pensamento!
DE OUTONO:
As gotas de orvalho
molhando a flor e a avezinha.
Fresca madrugada.
Boca cheia d’água:
A trouxinha de pamonha
sendo desatada.
Horto florestal.
Ante os soberbos crisântemos
meu olhar antigo.
À beira do lago.
Só o voo das libélulas
movimenta a tarde.
Relâmpago azul
Crescem os olhos da criança
no colo da mãe.
DE INVERNO:
É noite de inverno.
O mendigo na calçada
sonha colorido?
A névoa de inverno.
O mendigo na calçada
aquecendo o cão.
A saudade é roxa.
Lembranças de minha avó
nas flores do Ipê.
O gramado seco.
Repousos no ar parado
nenhum no pensamento.
O vento de inverno
pelas frestas da janela.
Ah, almas penadas!
DE PRIMAVERA:
Margaridas brancas.
No jardim do meu vizinho
a primavera.
A névoa vernal.
De manhãzinha o perfume
da flor invisível.
As rãzinhas verdes.
Brinquedo de esconde-esconde
entre as folhas tenras.
Da minha janela
sigo a lua enevoada.
Insônia bravia.
Mar de primavera.
Sob as águas os peixinhos
Apostam corrida.
NOTA. HOJE, CONSIDERO POETRIX BOA PARTE DESSES HAICAIS. O GRÊMIO HAICAI IPÊ QUE FREQUENTEI, AO QUAL PERTENCI POR MUITOS ANOS, ESTÁ MUITO MAIS RIGOROSO AGORA, EM SEUS CRITÉRIOS, DO QUE NA ÉPOCA ME QUE EU O PODIA FREQUENTAR.