Espelho - Coletânea de haicais
Espelho
Coletânea de haicais e tercetos
espelho
a mesma admiração ~
do cão que me olha
o melhor de tudo
o filho perto e presente ~
no dia dos pais
dias dos pais
os tantos e bons momentos
são jóias na memória
procurar as nuvens
onde elas não estão mais ~
mês de agosto
no dia dos pais
noticias da aposentadoria ~
de minha mãe
sentados à mesa
uns nos olhos dos outros ~
pais e filhos
vento geral
memórias e dias entrelaçados ~
vão se acumulando
girinos
graciosos e pequenos ~
filhotes de sapos
como somos
como nos parecemos ~
cromossomos
lá nas alturas
onde ninguém alcança ~
o amor dos pássaros
sol nascente
a fileira de andorinhas ~
na fiação da rua
o vento noturno
nas frestas do telhado ~
que triste murmúrio
que frio!
saio atrás dos chinelos ~
que cãozinho levou
the nigth wind
blowing along the roof ~
a sad murmur
mas que frio!
a sutileza na gueixa ~
que abre seu leque
domingo invernal
a cadela se recosta ~
pedindo cafuné
do avô ao neto:
a fruta nunca cai
longe do pé
say the grandfather:
the fruit never falls ~
away from the tree
o que faço
no reverso das horas ~
são versos
passaporte
no primeiro mergulho ~
voa o canarinho
mo mento
vi
mo mento
vento
catatonia ~
catavento
operário
ópera
erário já era
amarelo
o cheiro da mexerica ~
dentro do carro
vida breve
para tal estrada ~
bagagem leve
fast life
no return journey ~
a small suitcase
agosto que finda
na secura que chega
calam as maritacas
estiagem
os pardais ainda vem ~
fazer companhia
mesmo sem nome
e o cantar tão fundo e triste ~
não se vá, passarinho!
nem tarde, nem noite
pouco tempo para viver
este mistério
outro inverno
estão falando de neve ~
os haicaistas do sul
as palavras
mesmo que firam o ouvido
fazem sentido
agosto se vai
são dias quentes e frios
e a seca que aperta
agosto posto
baratas mortas e vivas ~
à vista
agosto findo
nenhum cachorro louco
mas, quantos loucos!
vivo
a pena é que me livra
do que é esquivo
ah, longo inverno
na fresta da paiol roubado ~
o rabo do rato
não foi tão frio
este dia que se acaba ~
notas de um flautim
no som do koto
o olhar da gueixa se move ~
dentro do jardim
no som do koto
o olhar da gueixa ~
deixa
belo
de parar e observar
ipê amarelo
um velho cedro
e os galhos quebrados ~
permanecer
poente invernal
as árvores não duvidam
da volta do sol