Passagem - coletânea de haicais
Passagem - coletânea de haicais
poente invernal
as árvores não duvidam
da volta do sol
Mas que frio!
a sutileza na gueixa
que abre o seu leque
mangueira em flor
perfume no mesmo vento ~
que resseca o ar
é o silêncio
que afina o meu ouvido ~
sonido
tesourinha
cortando os céus de setembro
cheia de graça
entre arbustos secos
esconde as pernas finas
a fina seriema
um por do sol
o ouro mais puro do mundo ~
guarde na memória
bem
verdade seja dita
bem dita
pontos de vista
na visão dos cães da rua ~
carros invadem a pista
toc! toc! toc!
mesmo quem não deve
sexta feira 13
sinuosa linha
do barco que vem do mar
de nankin
ling
ling-ling-ling-ling-lin
nguaaaah!
eu vejo
o vento que se enreda
redemoinho
na grama seca
a sombra do arvoredo ~
que já rebrota
lua nova
e vênus cheia ~
riso de baleia
sexta feira 13
vai cuidar da própria vida
o gato que passa
imagino
imagino intensamente ~
cerejeiras em flor
folhas mortas
o vento que as carregou
agora traz flores
setembro
vem a primeira chuva
respiro aliviado
cartão de visitas
no portão da casa vizinha ~
cachos de ouro
setembro
o filhote da cambaxirra
piando num galho
chuva
já imagino a fartura
pitanga em flor
papel - vem da madeira
dias de notícias lamentáveis
prefiro as árvores
agora
céu e terra mais pertos ~
hora do ângelus
bronze
velho, solene e pesado ~
missa das onze
beira o sublime
o cheiro e o gosto que vem ~
jaboticabeira
vem a primavera
e o verde no arvoredo ~
não veio a chuva
primavera
remexe na terra arada
bando de carcarás
folha desenhada
minha ideia riscada
na folha de papel
nome sem rosto
numero de telefone
num velho bilhete
o olho só vê
a mente é que mente ~
nuvens ausentes
céu sem nuvens
até o joão de barro
vai pela sombra
ligue o rádio
e abra o coração, amor ~
dia do cantor
arre, não insista
realidade não seduz
ao arrealista
estou seguro
vou-me embora pro futuro ~
muro duro muro
volta para casa
sons surdos do enterro
iguais a estrondos
finda setembro
o rosto todo pintado
da moça do caixa
campos secos
seguir a rês dissimulada ~
cujo bezerro nasceu
- Para meu pai, Davi
Gyn, 28.09.2013
primeiras chuvas
as calçadas forradas ~
despojos de voo
apenas cantando
marca nossas distâncias ~
um passarinho
ninfa de formiga
à procura de toca ~
já sem as asas
outra vez
um porrilhão de vezes
o vizinho e o funk
fi-lo sofá
fi-la Sofia ~
filosofia
céu nublado
canta amarelo e belo
um bem te vi