101

.:.

Ferrolhos, cadeados...

Nas paredes há gemidos

que esbarram no teto.

.:.

A carne

.:.

Preciso abraçar novas bocas.

De outras

bocas...

É do que preciso.

Crato-CE, 16 de dezembro de 2015.

00h57min

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.:.

Mesa posta

Farei de ti um banquete.

Quero o esbaldamento.

Amaciar tuas maçãs rosadas;

prender-me

em tuas madeixas de hortelã.

Farei um banquete em ti.

Quero o encantamento.

Derramar o Chantilly branco;

lamber

o adocicado da pele ardente.

Farei banquete, simplesmente.

Quero a mesa posta,

cortinas ao vento...

Embeber-me

com o licor do teu afloramento.

Crato-CE, 20 de dezembro de 2015.

00h32min

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.:.

Peles

Teu vestido me sorriu

- Cumprimento sutil,

mas cheio de segundas intenções.

O detalhe da alcinha, o decote;

o corte em curvas

- Dentro doutras curvas.

O contraponto do cinza,

clareando o negro arremate...

Tua pele despiu o tecido.

Teus cabelos

silenciaram todas as mulheres!

Estupefatas, miravam em tua direção.

A miríade de cores,

o contraste da tua pele;

a intimidade do teu cheiro...

Inebriante mulher, um brinde!

Tua sutileza feminina

desfilou veleidades e sonhos.

A bateria acelerou os compassos;

a música se tornou mais convidativa.

Desejei teus braços,

na intimidade dos lençóis.

Quando as vestes

pedirem dilatação temporal,

a nudez implorará o véu que se rasga.

Sem lamentações,

entenderei que o sorriso

dos teus olhos

fez o pedido certo...

E aqui estou.

Nijair Araújo Pinto

Iguatu-CE, 30 de dezembro de 2015.

19h51min

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.:.

Na escada

Quero tua presença.

Tenho direto à fuga?

Sinto tua ausência.

Tenho direito ao contato!

Uma tarde perdida;

planos frustrados,

a calcinha no guarda-roupa,

inofensiva.

Não fomos os culpados;

o carro pifou,

nada deu certo...

À noite, embora chateada

e sem nenhuma ligação,

bastaram as reticências.

Saí da clausura,

fechei o portão da minha

residência...

E fui.

Em minutos,

nossos corações

pulsaram

- Perder tempo seria tolice!

Descemos a escada.

A ventania

dos teus braços

ergueu meu vestido

e, certeiro,

meu corpo se ajustou

ao teu.

Crato-CE, 28 de novembro de 2015.

19h31min

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.:.

Indiscrição

A Lua, de beleza indescritível,

torna-se indiscreta!

Revela segredos,

descreve artimanhas de poetas.

Ó, indescritível Astro,

inconveniente fomentadora de amores!

Zele por mim, sem segredos.

Seja a inconfidente

e a causadora do meu atrevimento.

Sim, você, e apenas você,

inspira-me curiosidade excessiva,

inconveniente!

Sua bisbilhotice,

com ar de mexerico azedo,

é que dá gosto ao meu cardápio lunar.

Venha, Lua!

Quero devorar-te as crateras!

Crato-CE, 1º de dezembro de 2015.

11h12min

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.:.

Lágrimas e trilhas

Depois das lágrimas,

o encontro.

Sofríamos antes da despedida;

o tempo nos dizia "Até breve".

Nossos corações queriam pulsar;

nossas bocas, toques e trocas.

Tudo era proibido:

o carro, as ruas, nós mesmos.

Partimos.

Vielas, terra carroçal.

Estávamos juntos,

trilhávamos nosso caminho.

Asfalto, sol escaldante,

poeira das recentes construções.

Ao fundo, distante,

uma sombra, em meio ao caos.

Cúmplices, olhares e sorrisos.

Paramos.

Protegidos pela penumbra do medo,

descobri que você

é a sombra que me protege

e livra deste mundo tórrido.

Foi ali, alheios a tudo,

que nos doamos

e nos amamos.

Recordo o caminhão,

surgido do nada,

e os olhares curiosos.

O que pensaram aqueles homens?

Acertaram, tenho certeza!

Nijair Araújo Pinto

Fortaleza-CE, 21 de novembro de 2015.

23h54min

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.:.

Recortes

Sei

de cor

o tamanho

do teu decote.

Amei

sem dó

o íntimo

do teu corte.

O decote,

rasgado em tuas costas,

inspirou-me.

O corte,

ranhuras do paraíso,

excitou-me!

Roupas ao chão

- o decote sumiu.

Corpos sobre a cama

- o corte surgiu.

Nudez revelada,

sem cortes.

Fluidez provocada,

recortes pessoais,

discretos...

Que estarão

no jornal de amanhã

que não lerei.

Nijair Araújo Pinto

Iguatu-CE, 24 de novembro de 2015.

12h07min

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.:.

Dama em tons de rosa

Curvas e cores são inspirações.

Silhuetas corporais escodem gemidos...

Meus olhos desejam o rosado da pele;

minha pele, a tua pele

– Fonte de seduções.

Vestes são anteparos protelatórios.

Cabe à nudez exprimir o espanto da visão.

Minhas mãos são ávidas conchas,

buscando proteger

teus rosados mistérios .

Quero a miríade da tua plena nudez!

Descerrar o tecido rosa do teu vestido...

Descobrir outras fontes, rosadas?

Provocando espanto, prazer,

muitos gemidos.

Nijair Araújo Pinto

Iguatu-CE, 21 de novembro de 2015.

10h43min

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.:.

Para uma linda mulher

Teus cabelos presos soltam-se ao vento.

Tua boca, agora entreaberta, revela-se tormento.

Faz de mim um homem louco que tem pressa.

Faz de mim não apenas um singelo sonhador.

Pressa com o tempo que ainda nos separa.

Pressa com o torpor que de meus poros se exala.

Desse corpo quase desnudo e que se mexe;

diz pra mim que tipo de aroma dele se esvai?

Diz que tipo de loucura cada poro dele atrai...

Estou estático

– O tempo me parou em ti!

Prefiro o dinamismo do tato, do toque: o teu gemer!

Como seria o teu grunhido de fêmea delirante?

Causaria espasmos contidos, ou berros desconcertantes?

Minha personificação de deusa e de rainha,

seja minha e se revele, ao se esconder.

Seja não apenas o que desejo, mas o que emana do teu ser.

Toda a pervertida ingenuidade que se esconde na bainha,

agora me contorce em cada músculo delirante e quente!

Gosto do cheiro.

Gosto do tato;

do gemido espremido em meu ouvido.

Gosto do sentido que damos a cada ousadia

– Vislumbrar-te se doando só para mim.

Sou apenas um desejo.

Quanta maldade! Sofro com o que vejo,

na tentativa poética de completar a nudez que a tela,

pateticamente, proíbe-me de ter

– Assim eu imploro!

Imploro que voes e aterrisses aqui junto de mim

Que decoles num voo pleno e somente nosso, sem fim!

E que ao final de cada êxtase e de cada sussurro,

revele-se, toda desnuda, e proclame:

Meu homem,

meu macho e meu animal!

Fortaleza-CE, 18 de novembro de 2009.

23h18min

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.:.

Desconstruindo

Tudinho

rima com tadinho.

E com todynho!

Mas,

se você se permitir,

esse tadinho, todinho,

pode ser seu.

Levaria todynho,

enfeitaria seu corpo...

E, de repente,

esse tadinho estaria,

todinho,

em você.

Usaria pincéis:

língua, uma amostra grátis.

– Diz que topa, vai!

Buenos Aires - Argentina, 03 de Dezembro de 2012.

23h25

.:.

.:.

Buscas

Quer encontrar-se?

Primeiro, o casual encontro.

O destino que aproxima.

Depois,

a atração das ideias...

Afinidades e segredos,

confissões trocadas,

temendo o mundo exterior;

e o vulcão que nos assola,

queimando a mente,

esquentando o corpo.

Por fim,

o merecido toque.

Troca de olhares,

o contato, pontas dos dedos...

Dados jogados,

a probabilidade de dar dois

e,

no binário do jogo,

o jogar-se

para que nossos corpos,

dois,

unidos num único propósito,

descubram que o mais importante

não é o pavor do medo,

mas a delícia do encontro.

Nijair Araújo Pinto

Iguatu-CE, 25 de abril de 2014.

16h40min

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.:.

Cristal

Tela fria que aquece sonhos

Sonhos que ardem, ilusões.

Do universo místico,

entre raios e trevas,

surge o brilho dos teus olhos.

Penetrantes.

Certeiros.

Cativantes.

Olhos que convidam.

Se convidam,

eu aceito!

Aceito sair da ilusão da tela

para a realidade da tua boca,

dos teus cabelos,

curvas...

Suaves declarações.

Iguatu-CE, 24 de abril de 2015.

21h41min

.:.

.:.

Rabiscando

Nesta noite à toa,

não estou numa boa,

pois me falta você.

Não existe nenhuma ciência

que me tire a paciência;

que me inquiete...

Apenas sinto sua falta;

a mão que me apalpa...

Buscando meus versos.

Faltam suas poesias;

faltam, no ouvido, cantorias.

Falta você!

Você não deitou comigo,

mas desejo o abrigo

de acordar com você.

Meu corpo pulsa de desejo.

Sinto saudade e antevejo:

almas extasiadas de emoção.

.:.

Crato-CE, 26 de abril de 2015.

14h43

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Calafrios

Somente nos teus braços

sinto o calor da vida a dois.

Somente no teu sorriso

percebo verdades inquestionáveis.

Somente depois de ti,

percebi que há, para a vida, um sentido.

Somente.

Sem mentiras,

a dor que sinto não sangra.

Sentir que estou só.

Mentir, negando tudo que temos...

Ah, serei de mim o próprio algoz:

– Que solidão, que nada!

Já amamos tanto...

Quem na vida amou como nós?

Três sílabas.

Cara de cachorrinho.

Chutes certeiros em bolas.

– Faz carinha, faz!

Caras lavadas, almas lambidas.

– Chutes a bola!

...

Iguatu-CE, 5 de abril de 2015.

19h22min

.:.

.:.

Esbarrando

Foi por acaso o primeiro encontro.

Entre tantos descaminhos e espinhos,

reinou a plenitude do amor.

Não fizemos nada, nada mesmo.

Apenas nos esbarramos no tempo.

No tempo da espera;

da busca e das ausências.

Ah! Mas quando você vier.

Nijair Araújo Pinto

Iguatu-CE, 16 de março de 2015.

05h13min

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Sempre dizes

Sempre quis

dizer que te amo, sussurrando...

Mas tu sempre dizes:

Por que tanto murmurado amor?

Sempre quis

carregar você nos braços...

Mas tu sempre dizes:

Por que se perder em abraços?

Sempre quis

sentir a dor da febre que te esmorece...

Mas tu sempre dizes:

Arrefeço-me em todas as fugas que tenho.

Sempre quis

estar perto, mesmo estando longe...

Mas tu sempre dizes:

A proximidade que nos une é infinita.

Sempre quis

o beijo que somente nos teus lábios encontraria...

Mas tu sempre dizes:

Quanta petulância arrancar de mim tamanha intimidade.

Iguatu-CE, 21 de março de 2015.

02h12min

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.:.

Possibilidades

Ao caminhar eu decidi

que era hora de parar;

que poderia olhar para os lados,

cotejar e cortejar...

E não é que me sorriram?

Quanta timidez!

Apressei o passo,

quis correr mais, acelerei...

Sem perceber que

acelerado mesmo

quem estava era meu coração.

De onde sou mesmo?

Nem me lembro mais!

Recordo apenas do tênis rosa;

da calça preta, colada,

com detalhes sensuais.

E de partes volumosas,

picantes, geniais.

Corri, transpirei, desejei.

Ainda agora,

depois que me secou a saliva,

flagro-me ofegante,

desejando correr mais!

Iguatu-CE, 26 de setembro de 2013.

23h53min

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.:.

Quase

Esbarramos.

O acaso nos apresentou.

Desabafamos.

Foi a primeira noite.

Descobertas...

As ousadias nos aproximaram.

Sorrimos.

Foi a segunda noite.

Discussões.

Percebemos que havia terceiros.

Choramos.

Foi a terceira noite.

Revelações.

Com o toque, desnudamos nossos corpos.

Gozamos.

Foi a quarta noite.

Arrependimento.

Ao sonharmos, fomos longe demais.

Meditamos.

Foi a quinta noite.

Saudade...

O tempo arrefeceu o pecado.

Repetimos.

Foi a sexta noite.

Imprevistos.

Toda aproximação se esvai...

Sofremos.

Foi a sétima noite.

Descansamos.

Sonhamos – planejamos tanto.

Duvidamos...

O encontro? Quase aconteceu.

Fortaleza-CE, 17 de dezembro de 2013.

22h22min

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O inesperado

Eis-me aqui novamente, indefesa criança.

Brigo comigo, discordo de tudo e tenho medo.

Temer diante das surpresas da vida é natural;

desejar o corpo proibido, talvez nem tanto...

O que fazer se do meu inusitado espanto,

surge a voz do meu sonho maior, real demais?

Surtiria efeito fugir e me macular o sonho?

Corro em círculos e, nos desencantos da parede,

minha testa bate no contraponto do vento.

Que loucura essa dor que me serve de alento...

Não sou cabeça dura, mas perco a sanidade.

Amar mulher de menor idade é proibido!

Quem proibiu,

se o coração não tem idade?

Ele é casto como casto são meus segredos...

Segredos esquivos e tementes dos desejos,

refletidos em cada linha do meu sentimento.

A dor consome minha serenidade e minha verve;

esperançoso, minha angústia é alma que ferve.

Sentir essa tortura estando a dois,

corpos despidos,

seria de fácil entendimento real e óbvio: é desejo!

Explique-me, eu a desafio agora, explique-me!

Como sentir essa turbulência sem estar você aqui?

Que raios de torpor você possui nas entranhas?

Quão fêmea você consegue ser, sendo a dama

do meu jogo de xadrez infindável,

sem xeque?

Quero da vida de tudo um pouco

e que me mate a alma,

depois do nosso idílio de amor na cama.

Juazeiro do Norte-CE, 12 de março de 2007.

15h22min

.:.

.:.

A dois

Agora,

onde estaria o teu corpo?

Lá fora,

o frio me faz promessas:

ele me sussurra em doces brisas;

tenho a impressão de estar a dois.

Agora.

Existiriam mãos tocando tua pele?

Aqui, dentro de mim,

o calor da solidão me angustia:

ele me revela cenas horripilantes;

tenho a impressão de que está a dois.

Agora...

Por que me sinto assim, sozinho?

Ao meu redor, tudo se enche de máculas.

Minhas mãos tremem, imploram a presença.

E o teu retrato, estático, a me sorrir,

revela nossa comunhão esbarrando na tela.

Iguatu-CE, 24 de janeiro de 2014.

23h18mnin

.:.

.:.

Boa sorte!

Teu semblante ainda me fere a retina.

Não pelo contato da luz,

mas em razão da persistente ausência.

Desistir me parece fuga renitente.

Não pela insistência do oprimido,

mas por todos os suspiros da evasão.

Inexiste espaço para comunhão.

Sobejam as decepções que sopesamos...

Haveria necessidade de continuarmos?

Meus músculos se catabolizam e se ferem.

Tecidos retorcidos do meu miasma humanoide,

ressignificam o sentido da morte prematura.

Insistir parece terapia da inocuidade masculina.

Inoculei, in vitro, sangrando-me de esterilidade.

Por pouco, não me despi da pujante virilidade.

Esgotaram-se todas as negociações temporais.

Das angústias, busco tão somente as digitais...

E me perco nos anelos

da contracapa do nosso segredo.

Iguatu-CE, 18 de fevereiro de 2014.

00h39min

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Tons e semitons

Existem sons na beleza;

existe íntima beleza nas curvas...

Existem curvas que seduzem;

e seduções que se dobram e se curvam.

E existe a sedução do silêncio.

Por amor, pausei meu verbo;

ousei tocar teu corpo.

No melancólico e desesperado tom

do meu renitente silêncio,

descobri que tuas pausas

para respirar, tomando fôlego,

antecedendo o crescente dos sons,

foram apenas desarmonias

e dissonantes ensaios

do nosso indescritível concerto.

Iguatu-CE, 20 de março de 2014.

17h48min

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.:.

Personalíssimo

Tento falar sobre os imponentes arranha-céus.

Não é meu estilo.

Tento discutir sobre a bolsa de valores.

Não consigo!

Tento discursar sobre as desigualdades.

Não me sinto à vontade.

Tento buscar argumentos para nossa crise moral.

Não me brilham os olhos!

Sou construtor de céus curvos e femininos.

Discuto o valor da mulher, da feminilidade.

Da inigualável beleza que toda curva tem.

O que me desequilibra é o encanto da sugestão:

sugestão da nudez;

decotes de renda que não mostram nada.

Conduzindo-me, entretanto, para qualquer lugar.

A gravidade é propulsora de desnudamentos.

E minha voz grave,

enche-se de agravamentos e de torpor...

Tudo por causa do que ainda não pude ver.

Iguatu-CE, 14 de fevereiro de 2015.

11h09min

.:.

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Primeira leitura

Tentei ler você.

Na primeira página, o previsível:

cheiro de rosas!

...

E um desejo:

Bem-me-quer, malmequer...

...

Sinto pétalas caindo e lindo botão,

ainda em flor, abrindo-se para mim.

...

Beijei a flor virgem.

Beija-flor humano serei eu?

Beijo.

Flor.

Desabrochamento do amor,

fruto da leitura, apenas,

da minha primeira impressão...

Estou louco, ansioso, e reticente:

Que final nos espera?

Crato-CE, 22 de julho de 2014.

09h37min

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Sentares

A luz do Sol me fascina.

Quando refletida,

princípio físico,

esconde suas formas,

criando sinuosas penumbras.

Que importa!

O que desejo agora,

acredite,

não é nenhuma visão míope.

Não busco presentes

no meu natalício.

Busco apenas sentir:

o calor da pele que amedronta o Sol;

e o extravasamento da entrega.

Submeta-se e me converta.

Quero que me transforme!

De cético,

virarei prontuário de balcão.

Ajoelhe-se e venha.

Aliás, pode sentar

– Aceito!

Iguatu-CE, 18 de junho de 2014.

14h13min

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.:.

Aos amantes

Se for para ser o muito pouco de muitos,

muitas experiências terá.

Não precisamos mais de nenhum bordel;

as salas estão nas ruas, nas esquinas.

Ofereço-te, entretanto, o meu chapéu.

Não para colorarem migalhas;

serás rica flor, de numerosos beijos na mão...

Refúgio de vorazes beija-flores.

Voe e aceite o revoar de asas ao seu derredor.

Entenda e perceba os prazeres;

Carregue o fardo, misturando horrores,

sabores e dissabores das polinizações.

Não se furte às caras e bocas.

Não desanime os caras, nem os de mentes ocas.

Dementes, são todas aquelas ideias toscas,

arquitetadas nos ébrios tribunais.

Viver é gritar num cabaré, imitando as feiras!

Morrer é se trancar num véu de freira,

enclausurar-se num templo,

fugindo das tentações.

Sei que meu discurso é ébrio, profano.

Sei que professo rompante de vitupério,

mas proclamo o amor ao banquete,

de imbecil intenção, pueril demais.

Posto que os homens adoram máscaras,

retiro do meu carnaval de horrores,

minha melhor fantasia:

O meu não-eu!

Iguatu-CE, 6 de setembro de 2015.

17h55min

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A dois, esperando

Escutei teu nome.

Duvidei.

Espantou-me o codinome.

Beijei o tempo,

observando o beija-flor.

Sons dissonantes.

Escutei.

Desarmonia bitonal...

Toquei teu semblante

na estática fotografia.

De silêncios sobrevivo.

Observei.

De reticências também.

Tua humanidade absoluta

deveria relativizar-se por nós.

Meu erro foi acreditar.

Delirei.

Burilou-me o sentimento.

De todas a ranhuras,

ficaram tuas unhas na parede.

Nijair Araújo Pinto

Fortaleza-CE, 16 de junho de 2015.

16h23min

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.:.

Espanto

Foi inevitável

descobrir você.

O que senti?

Como alma:

afeição,

carinho;

...

Como homem:

desejo,

tesão.

Isso me assusta.

Fortaleza-CE, 17 de fevereiro de 2012.

23h48min

.:.

.:.

Meu amor

Como é difícil

te ver e não te tocar.

Como é angustiante

ver tua boca e não te beijar.

Como me sufoca

sentir e não poder te amar.

Como foi difícil

buscar teu corpo em minhas mãos.

Como sofri,

por todos esses anos,

em segredo.

Eu te busquei...

Nos biquínis que toquei.

Eu te amei...

Quando fechei meus olhos,

tocando outro corpo.

Eu, mais que isso, ainda:

Sentirei teu hálito;

beberei do teu licor.

Eu, mais que isso, ainda:

Usarei números em teu corpo.

Ficarás de 2x2 pra mim;

cairá de uma unidade o valor de 70...

E nos beberemos:

dois cálices;

dois corpos;

duas almas...

E um destino:

O amor.

Fortaleza-CE, 18 de junho de 2015.

0h30min

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.:.

Noite

Naquela noite trocamos olhares;

trocamos telefones...

Trocamos sorrisos;

Sim, aceitei sair de primeira!

Você soube seduzir-me.

Mas, naquela noite,

minha melhor troca foi

– Sair com o meu perfume

e voltar com o seu.

Nijair Araújo Pinto

Iguatu-CE, 7 de julho de 2015.

17h21min

.:.

.:.

Licores

Também não bebes?

Que delícia!

Então façamos um brinde.

Brindemos à lucidez!

Sugiro duas taças.

Nossas bocas, o que achas?

No teu corpo existe o cálice

onde consagrarei meu vinho.

Tuas fendas, intrigante sedução,

seriam as fendas adocicadas

da minha irrequieta ilusão.

Um brinde!

As taças, por favor!

Tim-tim!

...

Embriaguez consumada.

Corpos ao chão,

no escarlate cetim do sonho.

Nijair Araújo Pinto

Iguatu-CE, 7 de julho de 2015.

17h01min

.:.

.:.

Nossos formatos

Quis pintar meus sentimentos.

Fiz duas singelas curvas, simétricas;

ensaiei pinceladas monotonais.

De repente, as curvas se fecharam,

brotando um coração.

Meus sentimentos têm cores e sons.

Que incrível descoberta!

Dentro deles, você impera,

multicolorido,

dando forma ao meu amor!

Nijair Araújo Pinto

Iguatu-CE, 7 de julho de 2015.

13h20min

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.:.

Percepções

Minha Nega é loira!

Ela olha de soslaio, olhar sem fim.

Tem cabelos esticados, enlourados,

mas também adoro os pixaim!

Minha Loira é nega.

Tem olhar reverso, atravessado;

voz potente que ressoa qual clarim...

Mas os gemidos ela só dá pra mim.

Minha Nega é nega!

Na escuridão dos lençóis empoeirados;

quando repicam os trovões da voz.

Ela se funde no túnel da degustação que sou.

Minha Loira é loira!

Na claridade dos arrebóis, à beira-mar.

Surfando em curvas, faróis dos marinheiros,

navego na imensidão

- Da proa à popa.

Há negritude no Sol,

quando se põe.

Há brancura na noite,

quando nasce o dia.

Estou a estibordo,

ouvindo o som do mar...

A bombordo, reticente,

outros marinheiros,

movidos pelos mesmos sonhos,

decidem:

que as negas são loiras;

as loiras são negas;

as negas são negas;

as loiras são loiras...

E a vida é uma,

apenas uma.

Nijair Araújo Pinto

Iguatu-CE, 8 de julho de 2015.

15h37min

.:.

.:.

Ranhuras

De longe,

sei que me percebes.

As lentes tentam esconder

nossas oculares...

Até tentam.

As miopias transgridem,

desfocando o objeto;

mas são teus olhos que busco,

com a mesma intensidade

que persegues os meus.

De perto,

pareces ainda mais linda.

O desfocado retoque ganha precisão.

Percebo o detalhe do batom;

o contorno das curvas;

o deambular convidativo.

Teus passos soam e ressoam,

insinuando permissões.

Sim, irei!

Entres na primeira esquina,

à esquerda.

Chegarei em alguns instantes.

Depois, olhos cerrados,

toda miopia se tornará inutilidade

na luz dos teus braços.

Nijair Araújo Pinto

Iguatu-CE, 8 de julho de 2015.

20h23min

.:.

.:.

Congelamentos

A ponta da língua...

É mais prazerosa

que os dedos na tela.

Farei o convite.

Teclo com a ponta dos dedos.

Teu corpo,

tocarei com a ponta da língua.

Dois momentos.

Duas sensações.

Se os dedos agradam,

a língua esmaece os medos.

Preparando a tela do teu corpo

para o crucial instante da arte de amar?

Darei pinceladas

com a magia das tuas nobres cores.

Arrancarei das texturas, singulares sabores.

O resultado?

Uma linda escultura,

resultante das ranhuras das tuas unhas,

que, vorazmente,

rasgarão os lençóis da nossa alucinação.

Nijair Araújo Pinto

Paris, 29 de julho de 2015.

01h57min

.:.

.:.

Bailando

Duetar é bailar ao som de versos.

As palavras fluem, sublimes,

qual dançarinas baratas

entregues ao sabor do varão.

Imberbe,

arranquei os pelos da ingenuidade;

desvirginei meus solitários versos...

E gritei: a dois é mais sagaz o verbo!

Fulgurei o Arlequim dell'arte.

Violinos ciganos,

transitoriedade da imaginação.

Bethoveen, Chopin, Mozart.

Quero a melhor ária,

a melhor canção.

Nijair Araújo Pinto

Iguatu-CE, 6 de setembro de 2015.

01h27min

.:.

.:.

Duetando em Tom de Bahia

Que fluam, suaves, as inspirações.

Que os versos venham,

como velas que se vão...

Deixando saudade,

causando profunda emoção.

Velas, mar de seduções.

Cais abertos, porão das derivações salinas.

Não tenho bússola, navego por inspiração,

em velas suadas que transbordam solidão.

Náufrago de mim, sem o teu abraço,

nunca morrerei contemplando o horizonte.

Navego num mar revolto, deserto e desertor.

Deserto por não ter, ao certo, o teu amor;

desertor da salivação inconsistente do teu hálito.

Sou filigrana e minudência de falso ator,

diante de imenso Sol que me torna pálido.

Inspirações encobertas, descobertas marítimas.

Salinas, suores e sangue

– Rastos e restos e furor...

Que navegam em mares de amores sem fim

– Sais e sóis que se misturam

nos lençóis do amor.

Nijair Araújo Pinto

Crato-CE, 13 de setembro de 2015.

18h45min

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Hipnose ocular

Quão nacarado é o teu semblante,

alvissareiro das cartas de amor pueril.

Tens na pele e no olhar, certeiros,

hábil sensualidade e sensível encanto.

Curvas definem teus cobiçados lábios;

leves e sutis, são ondulações musicais,

invadindo o íntimo de toda alma errante.

Alcance-me, ó certeiro olhar,

sem nenhum ardil.

Caem sobre teus ombros reluzentes cachos...

E a força verde das tuas pupilas hipnotiza!

Respiro, suspiro...

Perscruto teu matiz.

Velejo, de alto a baixo, tocando a tela fria.

Paisagens surgem: novas curvas, bosques.

Leio a penugem da tua fonte com as mãos.

Com honra e atrevimento, singro,

com maestria,

o holístico entendimento do teu ser.

Nijair Araújo Pinto

Iguatu-CE, 15 de maio de 2015.

16h13min

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Tautologia nostálgica

Tenho dores de saudade,

saudades múltiplas.

Saudade do batom que não toquei.

Dos empurrões

– Milhares deles!

Saudade dos olhares desviados,

de preferência para a esquerda.

Saudade das cláusulas contratuais imutáveis!

Saudade do cafezinho frio...

Diferente do olhar quente que trocamos.

Sinto saudade, principalmente,

da verdade dos teus olhos,

sufocada por respostas inteligentes

que desdizem tudo.

Saudade que denuncia

teu batom vermelho.

Ardente.

Sensual.

Provocante.

Mas, acima de tudo,

um batom que também deseja

a verdade do meu toque.

– Verdade?

(Proposição logicamente falsa).

Nijair Araújo Pinto

Iguatu-CE, 20 de maio de 2015.

16h56min

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Cheiros

Tenho olfato canino.

Sinto teu cheiro nas pedras;

desenho teu corpo nas paredes...

Ergo uma patinha

e corro atrás!

Demarcando território,

faço xixi no poste.

Que alívio, quanta maluquice!

Sei que valerá a pena.

Minutos depois,

ao passar por ali,

você perceberá,

nas paredes e nos postes,

minha efusiva grafia.

– Auau!

Nijair Araújo Pinto

Crato-CE, 25 de maio de 2015.

09h11min

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Dia seguinte

Não se esqueceu da pílula.

Boa menina!

Ela é sua e não minha.

Afinal, quem a tomou?

Cópula, corpos;

copos brindando o encontro.

Colos dançantes,

quadrados e requebros.

Fatos e ciclos, ovulações.

Suores, horrores e odores.

Temor que se desfaz

com a náusea potente do vômito.

Olfato pertinaz,

impregnado pela viagem.

Narinas que cheiram e sorvem;

línguas que buscam;

paredes e sons,

testemunhas e silêncios.

O dia amanheceu.

A água do copo acabou.

Hora do banho.

Toalhas ao chão.

Hora de pagar a conta.

Asas prontas,

sonhos realizados.

Hora de voar,

retornando ao ninho.

Nijair Araújo Pinto

Mauriti-CE, 1° de junho de 2015.

16h09min

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Encontros

A vida se faz assim.

Desencontros, promessas.

Fomos salvos pelo gongo!

Quando teremos novo tempo?

Você veio? Não acredito!

Acredito, veio em sonho,

o mesmo que sonhei.

Gostei de você... Especial demais!

No meu alucinógeno,

amorfo devaneio,

você era:

Atenciosa.

Brincalhona.

Carinhosa.

Quem não gosta disso, nào é?

Meu medo era exatamente esse...

E se gostar?

Sei que gostarei.

Não foi preciso 'ver para crer'.

Eu senti!

São Tomé, eu senti e sinto!

Bastou fechar os olhos e cá estava você.

Minha espinha esfriava e esquentava.

Espinha...

No caminho,

em cada desencontro,

pensava no encontro;

tinha ansiedades.

Tenho curiosidade, medo...

E se não gostar de mim?

As expectativas serão correspondidas?

Esse sonho precisava ser real.

Tive uma ideia.

Irei ao cartório

e

reconhecerei firma!

Pronto, agora o sonho ficou real!

Paguei tudo,

em milhões de fantasmas,

todos jogados fora.

Sim, somos reais.

– Um brinde!

Nijair Araújo Pinto

Crato-CE, 2 de junho de 2015.

01h26min

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Lapidações

Em você

há muitas certezas;

muitas dúvidas, também.

Todas,

entretanto,

atuando contra mim!

Se o que imagina nos afasta,

então vira certeza.

Se aproxima,

torna-se dúvida, interrogação.

Em você

existem muitas

contradições;

muita coerência, também.

Tudo,

entretanto,

agindo contra nós.

Se as contraditas servem como partida,

tornam-se suportes.

Se a certeza é do adeus,

potencializa-se em sua voz.

Entre nós

há muitos pontos de entrelaçamento;

vários paralelismos, também.

Se os nós evitam o encontro,

viram elos indestrutíveis.

Se as estradas estão próximas,

o paralelismo impede o contato pleno.

Toques

apenas nas pontas dos sonhos.

Encontros?

Apenas quando cerramos os olhos.

Comunhão...

Impossível, antes da cópula.

Nijair Araújo Pinto

Crato-CE, 2 de junho de 2015.

18h15

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Deusa

Como exprimirei, em palavras,

ó Deus, tanta beleza?

Meus dedos, temerosos,

estão longe da expressão da tela.

O que escondes, por que não revelas?

Curvo-me diante das tuas curvas;

debruço-me atrás de mim mesmo,

admirando teu busto,

enlevo da minha subliminar visão;

encantamento que me constrange.

Ajoelho-me e me submeto, pleno.

Que olhar sedutor e imponente!

Que romântico congraçamento da beleza!

Curvas. Curvas. Retas e curvas.

Curvo-me.

Os raios do Sol banharam-te de luz.

Tuas mechas e madeixas no ar flutuam.

Borboletas? Pirilampos? Cristais?

Não, claro que não!

– Quanto atrevimento.

É apenas o teu brilho,

ofuscando a realidade.

Iguatu-CE, 25 de junho de 2014.

18h53min

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Caminhos

Minha perseverança

será o motivo do nosso reencontro.

Eu te amei, amo e sempre amarei.

Quando você teve febre, eu te visitei,

tocando o teu rosto;

eu te encontrei no passado,

nós nos amamos no presente...

E o futuro cuidará da nossa reaproximação,

tenho certeza!

Quando você foi agredida,

foi nos meus braços que se levantou.

Lembro-me muito bem do que disse:

‘Levante-se, erga a cabeça e prossiga!

Saia desse quarto e se olhe no espelho

– Você é linda!

Fixe o olhar nos olhos dos teus pais e grite:

Pai, estou bem! Mãe, sou maravilhosa!’

Ficarão as marcas,

mas a mulher está fortalecida.

Os pontos deixados pela faca não serão cicatrizes,

apenas.

Teus braços, agora marcados pela lâmina da covardia,

serão testemunhas da mulher guerreira que você é;

serão pontes por onde surgirão a felicidade e o amor.

Quem tem o dom de perdoar,

entende a dimensão do sublime que existe no humano,

percebe o encanto singular das lágrimas verdadeiras,

o real significado de esperar, continuar, sofrer e chorar...

Até o instante da colheita,

quando a perseverança justifique,

finalmente,

o inexprimível toque dos nossos fervorosos lábios,

no instante do reencontro.

Iguatu-CE, 4 de julho de 2014.

02h12min

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Perseverança

A magia de se revelar está no esconder-se.

Teus cabelos soltos inspiram toques,

aguçam desejos;

os fios que encobrem teus olhos

seduzem minha imaginação:

azuis, verdes, castanhos, pretos... Brilham

– Disso tenho certeza!

Ah, mas esses olhos, quando fechados,

ouvindo meu sussurros,

o que me revelariam na escuridão

dos teus gemidos a dois?

Tua pele tem o condão de enfeitiçar.

Cabelos e pelos

– Adoro todas as coberturas do teu corpo!

Adoro, principalmente, teus eriçados pelos,

que ficam duros quando eu aproximo e...

Dou mordiscadas no teu ombro.

– Que delícia!

Adoraria descer minha singela descrição:

elogiar teu busto e descer mais, muito mais.

Infelizmente, prefiro esconder meu instintos.

Com que intenção? Simples!

A magia de se revelar está no esconder-se.

Iguatu-CE, 4 de julho de 2014.

09h43min

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Narrativa

O silêncio do teu cangote

grita no meu arrepio.

Minhas mãos deslizam,

teu corpo grita

e,

nos rodopios,

nascem novas fontes,

novos motes.

A secura da tua boca

molha tuas partes baixas.

O que procuro,

tu me revelas

quando se agachas.

O brinco caiu da orelha.

Bela mordida!

A folha molhou o livro.

Que sentada, linda leitura!

Leite escorrendo,

páginas molhadas.

Mãos tremendo,

pernas afastadas.

Transito pela vírgula.

Ao lado, tem um ponto.

Tudo depende

do ponto de vista,

da visão que tenho,

do ângulo que observo.

Reticente,

duvidando e temendo,

prossigo.

Deveria?

Rasgo a folha.

Surge o texto,

de fina tessitura,

ao lado da cenoura

que alimentou

(Acreditariam?)

nossa fantasia.

Rede balançando.

Buscamos o equilíbrio.

Cães latindo.

Olfatos apurados.

Arranhões na janela.

Choros e lamentações

caninas.

Na rede,

a felina no cio,

em desatino.

Espasmos denunciam:

êxtase.

O corpo exige o iminente

ponto final.

Relaxamento.

Canções de ninar.

O sono.

O sonho.

Os sonhos...

Sonhar.

A noite dormindo.

Adormecemos.

No café da manhã seguinte,

ainda na cama,

novo banquete e...

Novos latidos.

Juazeiro do Norte-CE, 7 de agosto de 2014.

13h37min

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Vale noturno

Que valor teria a surpresa

se o medo impedisse o dom do imprevisto?

De que adiantaria um passe livre

se os grilhões que nos atormentam selam a recusa?

Por que reclamar da silente clausura

se ao falarem:

‘Vá sozinha!’, nada acontece?

Que sentimento movimenta seus sonhos?

Se for o medo, desista!

De que tanto foge... Ou de quem?

Se for de você mesma, é luta inútil

– O espelho sangrará.

Por que tantas perguntas sem respostas?

Se for sofisma,

o abismo da gravidade amassa o semblante!

O repentino convite me surpreendeu.

Também tive medo, o temor que a noite nos causa.

Não somos livres, mas voamos nas asas do desejo.

Sim, as incertezas nos atormentam, mas tentamos.

Ao nos fecharmos entre quatro paredes,

o silêncio deu lugar ao grito

– Estávamos a dois.

Os sonhos se tornaram céleres movimentos;

E a movimentação era outra, muito mais cadenciada.

Medo? Que nada! Estranho, apenas nossa salivação:

Corpos quentes

– A febre camuflada pelo remédio.

E a evaporação dos nossos corpos,

manchando a pele do espelho.

Hoje, novas perguntas amanheceram ao nosso lado.

Sem respostas?

Se foi erro nosso encontro, a gravidez foi gestada.

E eu me seduzi pela ilusão virtual da realidade cobiçada.

A vida é um abismo; a gravidade, um milagre.

Divindade, a maçã é o resultado da mordida que dei

e das marcas que deixei.

Iguatu-CE, 24 de agosto de 2014.

22h35min

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O teu nome

Tempo, senhor do imprevisível.

Que alenta corações,

que encanta desencantos

e, repentinamente,

exorbita novos sonhos e buscas.

Naquela noite,

sem que programássemos,

foi a luz do tempo que cruzou nossos olhares.

Foi a cruz do vento que singrou nossa embarcação.

Senti-me preso ao teu semblante,

refém dos Palmares,

em completo exílio, fugindo da escravidão.

Não a escravidão corpórea, grosseira.

Em você, o que me deu liberdade plena

foi a luz da tua alma, estampada num sorriso.

Teus olhos emitem radiação ionizante...

E me crivaram tão profundamente,

que ao perceber-me preso, livre estava.

Livre do medo de amar – temor pueril demais!

Livre das amarras do preconceito,

que me mantinham ao solo, preso aos grilhões.

Livre de mim mesmo, pois imaginei-me em você.

Em teus braços, cresci.

Deixei de ser a criança que chorava,

para ser o homem capaz de rasgar sua nudez.

Deixei de ser o plebeu que resmungava,

para ser o seu rei e escutar os seus gemidos.

Deixei, principalmente,

de desacreditar nos planos do destino,

quando pensei na plenitude da existência,

pedindo a Deus o dom da completude.

A verdade que alimentava meus sonhos,

os mais esdrúxulos que já ousei sonhar,

tinha nome.

Abri os olhos. Na parede do paraíso,

em letras de fogo, com sabor de jasmim,

vislumbrei o seu nome.

Iguatu-CE, 25 de agosto de 2014.

23h11min

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Ciclos

Quando nossos olhares se cruzaram

naquela noite, naquela sala.

Duvidei das revelações das nossas pupilas.

Decodifiquei, entretanto:

teu olhar de soslaio,

de baixo para cima;

tua cabeça voltada,

levemente,

para a esquerda,

num leve e discreto sorriso.

Naquela noite,

naquela sala...

Percebi que há ciclos:

sorrimos

choramos

desacreditamos.

Entretanto,

viver é experimentar.

Experimentar olhares,

mudar o foco do nosso sofrimento

e,

acima de tudo,

abrir-se para quem chega.

Não chegamos.

A vida nos apresentou,

casualmente.

Mas...

Naquela outra noite

Naquela outra sala.

Quem falou mais alto foi o teu corpo.

Foi ele

e

foi dele

que recebi,

gratuitamente,

a mais eloquente prova de amor.

Brasília/DF, 31 de agosto de 2014.

21h51min

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Tarde louca

Noite ardente.

O delírio da febre;

a voz rouca,

sussurrando ao teu ouvido.

E a vontade (Louco?)

de um homem proibido,

por uma tarde louca;

uma tarde pouca,

diante de tantos desejos.

O chão foi pouco.

Correndo desnecessários riscos,

você subiu na louça,

gritando:

– ‘Quero que ouça!’

Deslizou...

Entre o branco da decoração

e o filete da lâmina

contundente,

ouvi o som dos choques corporais.

No teu corpo há sonhos,

sinais que indicam caminhos.

Ainda sinto cada detalhe

de quando meus dedos,

sem nenhuma pressa, ligavam pontos.

Na geografia,

curvas, saliências, reentrâncias...

Símbolos pontuais do paraíso.

Trocamos confidências.

Teu corpo, apesar do desejo,

parecia tenso, deixando evidências.

Medo? Espanto? Sonho?

Da tarde, além do teu cheiro,

trouxe comigo o sabor de chocolate,

o perfume do reencontro

e a imagem de você deitada,

silenciosamente e reflexiva,

no banco detrás.

Iguatu/CE, 4 de setembro de 2014.

12h23min

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Promessas

Sei que buscas um amor foliáceo,

despetalado, a cada dia,

por todas as tuas

promessas descumpridas.

Sei que buscas adiamentos violáceos,

em tons do refratário amor-perfeito

que nunca tiveste para dar,

álibis descabidos.

Sei que tivemos um amor crustáceo,

entre traças e cracas que somos, amor-conceito.

Avanços e retrocessos,

antenas desvalidas.

Sei que deliras com o amor fácil.

Adoras gemer nas entrelinhas das ligações...

Nossas vozes soam longe,

despercebidas.

Sei que germinas um sentimento aminoácido,

gestando proteínas a cada nova salivação...

E que minha garganta ressuscite

com tuas mordidas.

Crato/CE, 14 de setembro de 2014.

23h28min

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Dimensões

Tem dias que a saudade me consome.

Noites,

em que a vontade de estar perto me maltrata.

O sonho é tão real que vira, deveras, sonho.

Por que a irrealidade tem aparência de contato?

Sinto cada milímetro do teu inconsumível corpo:

adimensional,

na dimensão humana;

bidimensional,

em razão das minhas pulsações;

tridimensional,

do tamanho da minha busca.

Enesimal,

em relação às vidas que já te amei.

Tem dias em que a verdade parece mentira.

A ausência é tão real que sinto vozes!

Elas sussurram em minha pele,

confidenciando segredos apenas nossos.

Não sabia que usava pijama do seu pai para dormir!

Listras brancas e azuis verticais

– Seriam assim?

Indicariam caminhos?

Ou labirintos?

Sim, caminhos por onde me perderia,

certamente.

Trilhas pontuais, eivadas de pecado.

Lembrei-me da maçã mordida, sem o contato.

Sentiu vontade de salgar a mordida,

mordiscando-se?

Droga! Caiu.

Delícia, adorei a posição!

Quanta gravidade existe na gravidade de Newton.

Por isso, sem delongas, vista-se!

Serve assim,

rasgando o pijama do seu pai!

Iguatu/CE, 25 de setembro de 2014.

23h08min

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Direito de resposta

Aqui, bem aqui perto de mim,

na cidade onde nasce o radiante Sol,

surge nova Iracema!

Minha linda morena, faceira e singela;

de sedutoras curvas, cabelos longos,

pretos,

filha da noite,

mãe dos meus desejos e tormentos.

Maldosa noite,

servindo de lobo para o Lobo Mau que sou.

Sentencie, sem demora, ao meu favor.

Ou, em desfavor,

atenda ao meu pedido, negando a ela,

sem apelação,

o direito de resposta!

Então, queres direito de resposta?

Não, não te darei!

O que terás de mim, ó virgens lábios;

ó tentadora boca,

com furor insaciável de fogosa mulher...

O que terás de mim, sempre,

é o golpe certeiro da flecha

que, ao ser cravada,

partiu-se em nossos apaixonados corações.

Sim, sangre! Rasgue-se... E se dispa.

Preciso de sangue para sobreviver.

Em teus cabelos negros repouso,

depois de mais um voo

a dois.

Iguatu/CE, 03 de outubro de 2014.

00h37min

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Confusões

Sou pura saudade.

Vontade.

Pensamento.

Sonho.

Desejo.

Querer.

Dúvidas também.

Sim, tenho medo.

Da saudade que sinto.

Da vontade que tenho.

Dos pensamentos que me afligem.

Dos sonhos que ainda não sonhei.

Dos desejos que me fervilham o corpo.

De querer você ainda mais,

desmedidamente.

Meus medos são outros.

Minhas saudades,

referem-se ao que ainda não tivemos.

Minhas vontades se confundem com, sei lá!

Meus pensamentos me causam espanto.

Meus sonhos. Ah! Meus sonhos...

Fantasio demais!

Tenho muitos desejos;

tenho muitos quereres.

O principal deles?

...

Segredo!

Iguatu/CE, 07 de outubro de 2014.

22h19min

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Anúncios

Dos meus abraços,

terá sempre os mais calorosos apertos.

Da minha voz,

a magia da palavra certa,

que arranca gemidos.

Do tempo,

o espanto casual da fantasia:

inventada quando nos deparamos

com a simplicidade de estar a dois.

Das minhas limitações,

tento filtrar os defeitos,

causando terríveis peças

e

imprevistas revelações.

Dos textos,

escritos com letras da minha salivação,

envio,

telepaticamente,

as consoantes que te arrepiam, sempre:

– LBD!

Na madrugada,

enquanto alguns corpos,

cansados,

desejam dormir...

É exatamente nessa hora,

escondidos de todos,

que cultuamos as estrelas,

brindamos os astros

e,

sem nenhuma pressa,

redescobrimos a maravilha do grito.

Compulsivo e espontâneo,

ápice da carne espancada

pelos golpes

da lâmina do amor carnal,

o grunhido nos aproxima,

mantendo-se,

entretanto,

a distância racional

da irracionalidade humana.

Crato/CE, 25 de novembro de 2014.

14h43min

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Versos tímidos

Hei de me curvar diante de você.

Entre a pele e o biquíni,

resvala a luz que me inebria.

Imagino a tez que, encoberta,

é doce encanto.

Voltas dou dentro de mim,

sem direção.

Ando pelo descaminho das minhas ilusões,

navegando entre a realidade e cada devaneio.

Ingrato mundo, cheio de medos e limitações.

Aonde chegariam meus sentidos,

se estivéssemos a dois?

Melindres de mulher, gestos de menina.

A mão que pede, pede em demasia...

Cada um dos dedos, instigados pelo toque,

extrapola a noção de realidade.

Deus, por que a musa está distante?

O ideal seria que estivesse aqui,

toda minha.

Crato-CE, 13 de dezembro de 2014.

21h24min

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Rumores

Ora, tenha modos!

Em cômodos isolados,

nossos gritos

são incômodos.

Quem não está amando,

ao ouvir nossos gemidos,

fica incomodado.

Nossa, quanto fogo!

Quanto afago, quase afogo.

Nesse fosso que abrimos,

estando dentro de um poço;

com esforço, tento desafogar.

Arrefecimento.

Gotas pingam.

Descansa o afogado,

afoito.

Crato-CE, 6 de janeiro de 2015.

11h07min

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Quando tu viajas

Por aqui fica a saudade.

A saudade do cheiro,

do ‘Bom dia!’

A saudade da saudade.

Por aqui fica o vazio.

A vacância da tua voz;

a solidão do meu corpo.

Sem o teu,

não existe nós!

Por aqui fica a esperança.

A ansiedade do reencontro;

a lucidez do teu discurso.

A invulgaridade do teu amor.

Quando tu viajas

e não posso ir,

guardo no coração o teu sorriso;

na pele, a tua tez tatuada,

em tons de branco e rosa.

Ah, mas quando tu chegas!

Exulto de alegria;

encho-me de maus pensamentos.

Busco pontos, pontos e vírgulas.

Todavia,

a pontuação que definiria,

sem retoques, meus desejos,

exclamo agora:

seriam as reticências!

Fortaleza-CE, 14 de janeiro de 2015.

23h45min

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Tentando

Tenho um amor represado dentro de mim.

Ele pressiona meu corpo, quer explodir!

Temeroso, questiona:

Ao sair de mim, o que encontraria em ti?

Abrigo? Desilusão?

Alegria, frustração?

Tenho perguntas recorrentes.

Medo de não estar perto, mas ausente;

libertar-me de velhas para novas correntes.

– Dor aflitiva que me consome.

Felicidade. Liberdade.

Poéticas ilusões, efêmeras conquistas.

Ao nascer criamos a prisão.

Claustro do ‘Sim!’,

de qualquer desmedido ‘Não!’

O ontem virou poeira;

o que atormenta é a tempestade do agora,

enxertada de infinitas possibilidades.

O amanhã, amanhã...

Que destino nos destinará a vida:

A glória da espera paciente?

O inglório triunfo do fracasso da solidão?

Tenho sono, preciso dormir.

Iguatu-CE, 22 de janeiro de 2015.

18h32min

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No palco

Que cenário patético!

Vida egoísta essa minha vida.

Que profético!

Poeta estereotipado de que, droga!

Que arquétipo!

As luzes apagadas e nenhuma escuridão.

Rondo o quarteirão da rua ao lado.

Lado.

Vejo um moribundo que me olha.

Olha.

Olho o lado do olho que não vejo.

A escuridão me ilumina a verve.

Alma que ferve.

Trevas

– Minhas mãos, na pele imberbe,

que estranho...

Pele de bunda de criança.

– Ih, fiz pipi!

Estranho.

Mesmo sem cueca,

as gotas não me molharam os pés.

Crato-CE, 16 de julho de 2008.

01h32min

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Voo genital

Voa, esperma, voa!

Voa no líquido vaginal.

A tua força, quando ecoa,

faz de mim um animal.

Caterpillar esmagadora;

Gilette útero-cortante.

Em tua asa voadora

sibila meu poder de amante.

Fodam-se as regras mundiais!

Dane-se o que pensam de mim.

O que cheiro, mazelas menstruais,

não me levam, nunca, ao fim.

Quero penetrar tuas paredes.

No chão, em pé – Na praia.

Na cozinha ou em redes.

Odeio calças, mas amo saias.

O teu cheiro na calcinha

engana o falho olfato humano.

Se és plebeia ou rainha

– Que importa! O desejo é profano.

Castidade inconsistente, doentia.

O óstio apenas se elastece.

Se virgem, cínica ou vadia:

deite-se comigo em prece.

Crato-CE, 06 de julho de 2008.

12h51min

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Aniversário

Dezenove meses.

Desespero, decepções?

Desarmonia, desrespeito?

Não, nada disso!

Dezenas de desesperados beijos,

sem regurgitações;

dezenas de harmoniosas fantasias,

desrespeitando regras.

Não completamos meses de convivência

– Estamos juntos faz séculos!

Não buscamos o convencional demais.

O que temos se traduz em filigranas,

contradizendo e se contrapondo a tudo.

Somos a seiva caudal da insanidade;

o sonho humano do incorpóreo tato.

– Por favor, doutora,

diga dezenove!

Dez e nove.

Dez beijos, nove mordidas.

Dez dedos, dois sexos.

Junte tudo e se deite.

Meu deleite está no olfato,

divergente contato

de estar de ponta-cabeça.

Iguatu-CE, 13 de fevereiro de 2015.

00h31min

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.:.

Expectador

Qual o porquê das palmas,

meu cálice virgem?

O que escrevo,

todo o meu verbo,

não vem de mim.

É reflexo da beleza

retratada no encanto

que exorbita,

leve e serena,

de você.

Quem merece o furor das palmas;

quem exige exaltação,

não é minha pobre letra.

Nela, que pena, não existe profusão.

Quem deve ser celebrado,

despindo meu olhar pagão,

é o divino encantamento do teu corpo.

Revestido em pecaminosos tecidos,

ele encobre o portal da ilusão.

Não busco descobrir nada.

Desejo o revelar-se gratuito.

Que a flor se abra,

sem medo;

que o condão da entrega se processe,

plenamente;

e que a vida,

brindada em goles de sensuais gritos,

seja o reflexo da bondade,

do amor casual, fortuito.

Não por ser menor,

mas surgido do acaso,

quando dois estranhos,

virtualmente apresentados,

decidiram, finalmente,

entregarem-se ao amor.

Iguatu-CE, 9 de maio de 2014.

20h35min

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À deusa

Mereces acordar, todos os dias,

recebendo flores;

ouvindo declamações de poesias.

És brinde à beleza!

Em ti, sutilezas e encantos,

revelam a verdadeira essência

do seduzir, do encantar,

do fazer sorrir, colapsar o tempo.

Sê bem-vinda!

Meu mundo parou.

Tudo que desejo

é olhar-te passando,

diante dos meus olhos.

Podes vir!

Desfila.

Meu coração

abre-alas

para todo o teu encanto.

Aceitarias um beijo na mão,

um brinde, coquetel de flores secas?

Sinto que se aproxima

um perfume de deusa, cheiro de mulher.

Meu faro não me engana:

– És deliciosa

e,

voluptuosamente,

fêmea!

Iguatu-CE, 9 de maio de 2014.

20h27min

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Formatos

Se amar tiver algum formato,

o meu se fechou em linda flor.

Pétalas rosadas, singelas.

Ao se fecharem,

revelaram-se singulares,

sem retoques:

expressão do meu amor.

Não, nunca quis te amar;

não saberei fugir de ti.

Simplesmente,

quando tive certeza,

ao teu prazer me abri.

Ao escancarar-me,

abrindo-me em pétalas vermelhas,

contrastei com tua rosada pele,

em botão virgem,

rosadinho

– Encantadora flor.

Ah, mas as flores, perfumadas...

Que aroma genial, quanta paz!

Quando abertas,

aprisionam e prendem.

E meu corpo se distende,

implorando novo torpor.

Sinto contrações, a brisa leve.

Sintomas da fagocitose frugal.

Tua pétala, botão e flor,

é fruto que alimenta,

mantendo, firme e vigoroso,

o caule por onde brota a seiva

imponderável do meu sangrado

amor.

Iguatu-CE, 4 de abril de 2014.

00h31min

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Perfeição

A construção de Deus é perfeita,

tem precisão nanométrica!

Surpreende tanto que, à espreita,

perco os sentidos, errando a métrica.

A brancura da pele que irradia;

a tessitura do biquíni que esconde...

Possuem leveza que inebria,

sendo do meu sonho a fonte.

Ah, mas esses cabelos presos!

Que delícia de olhar, mesmo distante.

Da visão, puro reflexo, fico teso.

E viajo noutro devaneio, sonho errante.

Sei que os nós se desatam;

sei que sonhos também se realizam.

Das partes quase nuas, que se desunem,

queria os fluidos que paralisam.

Vejo o doirado dos cabelos tocando a pele;

Impressiona-me o vermelho do esmalte.

E do conjunto perfeito, o que me compele,

é a beleza da alma de inescusável malte.

Poderia eu, sonhador como sempre fui,

desatar os lacinhos do teu biquíni?

É que da minha mente, o desejo que eflui

exige expansão do que ora me reprime.

Iguatu-CE, 3 de abril de 2014.

15h10min

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Perspectivas

Responda!

Você quer ou não me quer amar?

Se não quer mesmo, eu desisto e não insisto mais!

Não me venha, ora, com um ‘não devo’, ou ‘não posso’.

O querer é imperativo, muito mais que um talvez.

O querer não se presta à asfixia.

Não pode mesmo?

Se não deseja,

a gente adia ou deixamos para outra vez.

Sem problema. Sem mágoa.

Sem um toque sequer, vamos apenas sair.

Ou nem isso você pode?

Não pode mesmo?

Se não pode, por que não me diz um não?

Se não deve, por que me dá atenção?

Você cria perspectivas dentro do seu medo,

busca dirimir fantasias perdidas.

Quer suspirar, gemer, e quer as mordidas

sagazes da nossa história irreal, sem enredo.

Aliás, você já suspira

– Sinto isso.

Existe não um gemido, mas um fogo.

Não deve mesmo?

Estar aqui não configura ato insano?

Ouvir minha cantada, com ar profano,

não desvaloriza a moral tão defendida?

Reflita e se desgrude da sua boca mordida,

desejando outra boca tão cheia de ilusão.

Não pode mesmo? Não deve mesmo?

Não se esconda atrás de falsos imperativos!

Você pode.

Talvez não deva, mas quer!

E se quer,

onde e que horas?

– Droga, caiu a ligação!

Juazeiro do Norte-CE, 12 de março de 2007.

11h40min

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Ponto e vírgula

Invadirei o âmago do ponto,

perpassando pela vírgula.

Ao final, não será ponto

nem vírgula,

mas ponto e vírgula.

Fortaleza, 21 março de 2006.

23h33min

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Pontos e curvas

Poesia também pode ser fruto da geometria,

do trapézio no qual me apoio;

ou dando formato à cortina que nos protegerá.

Tem visual efeito de casinha aconchegante,

onde desejamos,

harmoniosamente,

apenas e tão somente coabitar.

Um corte, entretanto, pode ‘retangulizar’,

ou ‘triangulizar’ o ângulo da visada, bem acima.

Eu me deitaria no plano que se forma

e, faceiro, sem muito jeito, preencheria vazios,

maximizando volumes.

A cortina que se descortina,

fez morada na tua pegajosa tez

– Parceria que me desanima.

Entrelaçadas, tu e a seda branca do cetim,

tripudiam do meu amor azul,

atrapalhado, atabalhoado...

Que se materializa dentro de mim.

Vejo cortes pontuais e virgulares.

Vejo que há simetrias dignas de rotação.

E do retângulo que se avoluma,

formando cilindro,

escorrem gotas do suor da profusão.

A geometria permite a construção de curvas.

Curvas tuas, duo de curvas, curvas nuas

que, esparramadas pelas ruas,

bendizendo qualquer predileção,

sintonizam pontos e vírgulas

que se esbanjam, diante da exclamação.

Ah, que beleza existe na poesia!

Poesia que se fez, renitente,

por meio de figuras pontuais,

de primazia,

repleta de curvas e de retas,

descendentes da tua Geometria corporal.

Iguatu-CE, 25 de março de 2014.

17h24min

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Que louco

< Você é louco! >

Sim!

Por você.

Pra chupar você.

Pra amar você.

Pra gozar em você.

Pra ser gozado por você.

Pra lamber você.

Pra ser lambido por você.

Ir embora.

Deixar saudade.

Pra você chamar,

pedindo mais!

< Voltará? >

Claro!

Iguatu-CE, 13 de maio de 2014.

22h03min

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Relativizando

Que o teu amor se ramifique.

Que dele brotem raízes e não apenas galhos.

Porque ramos se expandem,

buscando o abraço d’outras árvores.

As raízes, entretanto, quando fincadas,

retroalimentam a seiva, dando alento.

Expandir-se não é maléfico,

posto que o estático se relativiza.

Por isso, os diversos referenciais.

Buscas a liberdade do extravasamento?

As rosas, ao longo do falo tubiforme,

precisam de toda extensão do contato.

Que o teu amor siga,

buscando a luz, sem ofuscar-se.

E no fototropismo, banhando-se de energia,

carregue com ele

a insanidade que o corte produz.

A vida a dois,

quando o pólen se esvai na gravidade,

desperta no horizonte da inconsequente cópula,

a razão maior de nos esgalharmos a dois.

Iguatu-CE, 10 de fevereiro de 2014.

16h20min

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Contenda

Eu me curvo e, ajoelhada, entrego-me

– Não por capricho nem submissão.

É apenas o meu melhor modo,

enquanto voluptuosa curva,

de desejar-me, enquanto tua,

tornando-me fervoroso vulcão.

Tu também te curvas!

Tuas curvas, entretanto, pulsam.

E no pulsar, forte e vibrante, esbarramos.

Tu esbarras no meu limite;

enquanto eu, ousada,

limito-me a querer mais.

Tenho as vestes vermelhas e a flor rosada.

Tens contornos de preto, cheiro de gênero.

Tenho a nudez por quase plena;

tens a desfaçatez da tenda armada!

Quero o embate

– Preciso digladiar.

E que tua espada me sangue a pele morna.

Ah, senti o poder da lâmina contundente.

Quis fugir, mas o teu beijo mudou tudo.

Relaxei e me envolvi, mordendo tua boca.

Meus cabelos esbarram no calor dos teus lábios.

Minhas mão se apoiam

– Parecem trêmulas.

Por quanto tempo

durará nossa contenda?

Iguatu-CE, 11 de fevereiro de 2014.

00h02min

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Vocais

Minhas curvas nunca serão tuas.

No meu corpo,

o teu toque será sempre o meu.

Tocar-me, sim, eu te permito

– Com as minhas mãos!

Queres arrancar de mim

quais dissonantes?

As sustenidas, as bemóis;

as diminutas, as menores?

Sou mínima,

mas minha pausa agride o teu grito!

A gravidade com que me entoas,

na gravidade metafórica

da minha melhor harmonia,

mostra a gravidade e o temor

com que me desejas.

Prefiro os agudos dos teus gemidos,

em Sol sustenido;

prefiro o sinal de perigo

que me revelas em ‘Fá Dó’.

Abomino quando ficas frio e distante,

sei Lá!

Não tenhas Dó,

pois me basta ficar assim.

Se buscas viver a vida em Si,

aqui e acolá,

terás que revestir-me de sons,

de encantamento.

Meu corpo, sinuoso em essência,

majestoso;

é de curvas, com simetria renitente

ao distraído olhar...

E terá o cheiro da baqueta

que nele tocar.

Iguatu-CE, 10 de fevereiro de 2014.

01h56min

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O teu colibri

Busco na tua seiva

o melhor dos néctares.

Da minha iridescente plumagem,

arco-íris de intenções,

quero a brancura da tua pele,

o vermelho da tua intimidade,

a mordida alaranjada da cenoura,

plágio anatômico de ilusões.

Quero ir ao íntimo da tua seiva,

absorvida na minha extensível língua.

Quero o teu grito azul!

Quero o teu gemido amarelo-dourado...

E poder, estático, parado no ar,

abrir minhas asas, sem medo,

antes de partir para depois voltar.

Iguatu-CE, 7 de fevereiro de 2014.

16h15min

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Questionamentos

Boa música

e

bons versos

excitam a alma.

O que te excitaria o corpo,

fazendo jorrar tua essência,

despertando a fêmea

que em ti habita?

Quanto mistério!

Seriam carinhos?

O que mais excita teu lindo corpo?

Beijos nele todo?

Onde estaria a completude?

Costuma se revelar assim,

ou, pela sensibilidade,

sorrisos bastariam?

Gosta de mistérios,

seriam estímulos?

O revelar-se a um homem

é excitante...

Então, que nos revelemos.

E que as descobertas,

sim,

apavorem!

Que as fantasias, as vontades...

Que excitem na ausência,

clamando a presença, com fervor.

A imaginação flui

e nos conduz a bons momentos.

Se gostamos da presença,

a intensidade do desejo,

causa espantos.

Crato-CE, 5 de Agosto de 2013.

15h47min

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Desencontro

Por que quer sonhar comigo?

Tem feito isso faz tempo.

Aliás, temos feito.

Sonhar, nada mais.

Pode sonhar, sem problema!

Não passaremos disso.

Ainda estamos sonhando juntos,

não sei até quando,

mas estamos.

Existe concepção virtual?

Estamos perdendo tempo.

Farei uma promessa, posso?

Retirarei, do meu vocabulário,

a palavra encontro.

Quer satisfazer seus desejos,

saciar-se e nada mais!

Quer perpetuar-se em fantasias,

num mundo que criou, blindado,

que não mudará nunca.

Sabe por quê?

Porque tem medo da sua identidade;

e, para sentir-se real,

fugindo do temor e do mundo,

criou insondáveis configurações.

Iguatu-CE, 4 de fevereiro de 2014.

23h26min

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Encurralando

Estamos nos sufocando

– A cegueira se afirma.

Precisamos suportar nossos desejos;

torná-los detalhes da existência,

insignificantes.

Tentarei não falar de encontro,

não perguntar sobre nós dois;

deixarei que as coisas fluam, naturalmente,

correndo o risco de descobrir,

– Isso me faz tremer,

que não precisamos tentar, que acabou.

Tentarei.

Desculpe quando falo de nós dois,

quando busco algo real, o contato.

Boa mesmo é minha voz, minha distância.

Sei que gosta, talvez me ame...

Desde que me mantenha longe.

Entendi! Tudo bem.

Tentarei perceber que você é apenas sombra.

Que gritou dentro de mim, por algumas noites,

quando senti frio.

Entenderei que sua ausência será eterna;

que restarão de nós,

além de noites mal dormidas,

apenas recordações de quando buscávamos,

carentes,

coabitar os vazios das nossas alucinações carnais.

Tento me afastar da ilusão que é você

e quer fazer amor?

Nunca nos veremos!

Somos passageiros de carências compartilhadas.

Logo desceremos

– Qualquer estação serviria...

Conosco, ficarão as lembranças

de paisagens que observáramos juntos.

Iguatu-CE, 4 de fevereiro de 2014.

23h02min

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Contrações

Veias, definitivamente, não pulsam!

Tenho um coração que pulsa:

– Artérias, essas, sim, pululam,

tornando atração a inicial repulsa.

Aorta.

Iguatu-CE, 25 de janeiro de 2014.

01h52min

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Azul-marinho

Hoje,

queria estar o tempo inteiro ao teu lado,

sem perder nenhum dos teus detalhes.

Queria sentir teu cheiro.

Da respiração,

sentir o licor do desejo.

Queria tocar tua pele.

Do teu calor,

lamber as gotas que emergissem.

Da tua verdade,

queria todas as mentiras.

Do teu pecado,

o perdão

– O indulto de Natal.

E do teu corpo, simplesmente,

retirar o baby doll azul-marinho

que pude ver,

intenção irresistível do desejo,

sem nenhum toque.

De olhos cerrados,

viajei no espaço-tempo,

visitando o teu medo.

Suspirei.

Como resposta,

teus pelos, todos eles,

quiseram, por instantes,

migrar do teu corpo

para junto do meu corpo.

Transe.

Adormecemos.

Iguatu-CE, 4 de dezembro de 2013.

16h07min

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.:.

Sou assim

Eu canto.

O que toco

é para encantar você.

Se ser assim é ter pura maldade,

não me espanto.

Gosto do cheiro,

gosto do toque.

O vazio da minha ilusão

fere o corpo

e desgasta a alma.

Crato-CE, 26 de abril de 2007.

20h15min

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Sutilezas do silêncio

Busco, no contato das nossas peles,

o calor dos teus poros.

Meus cabelos, levemente soltos,

buscam a capilaridade do teu desejo

– Que também é meu.

Olhos cerrados, entendemos tudo:

o sentido das bocas que se aproximam;

as sutilezas da respiração,

ainda comedida;

as declarações que não precisam ser ditas.

Deslizarei.

Passeando o meu corpo sobre o teu,

mantendo a assimetria já existente.

Quero, entre pulsações e surpresas,

valer-me dos sentidos,

de todos os possíveis sentidos...

Detendo-me,

nos veludosos volumes,

que me levarão

ao clímax da entrega.

Iguatu-CE, 22 de outubro de 2013.

12h16min

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Brincadeira doida

Sim, sou doido!

Um doido com dedos...

Para deixar

endoidecido

o desnudo corpo seu.

Crato-CE, 29 de abril de 2009.

23h26m

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Imerecido

Serei ousado e revelarei

o que sinto.

Queria, simplesmente,

ser as vestes que, na foto,

encobrem tua nudez.

Queria estar, unicamente,

unido à tua linda tez.

Crato-CE, 29 de março de 2011.

12h13min

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Lua

Daria tudo para tornar-me a água que agora,

sem pressa, banha teu corpo desnudo

– Água caindo ao sabor da gravidade.

À limpidez da tua tez, pele de maldade,

dedicar-me-ia em profunda aresta,

punindo erros e gritando a toda hora:

Feminina, feminilidade, minha fêmea voraz!

És genuína e tens em ti a maldade

revigorada no meu grito de enlevado homem.

Que a água evapore toda em mim;

que meu pulular seja a tua sedução:

da vida e da alma que não toco, não.

Existe busca entre dedos, todos os meus.

Eles imploram, desejosos, tocar o corpo teu.

Delírio? Não! Desejo poético que nasceu.

Água benigna que enfeita a vida plena;

que estreita a dor pujante do artífice que sou eu.

Põe-me nos olhos a luz da tua meiguice.

O banho acabou e o pano se move entre pelos,

imiscuindo-se com extremada sede que hipnotiza,

deixando-me entre a lucidez e o desvario dos dedos.

Singrei mundos e a ilusão se fez tangível.

Alcei voo e aqui estou no fulgurante dirigível

da fragilidade do homem pleno e só,

apesar da comunhão.

Sei que da vida o que seremos é fino pó;

que os dissabores da ida, que em cada nó,

reverbera a frieza do calor duma guarida.

Entrementes, o que me motiva

é tornar-me pano, rasgando a veste renhida,

revelando-me para o que chamo

de paraíso meu!

Crato-CE, 25 de Agosto de 2013.

12h43min

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Explorações duais

Atrás de ti, silencioso,

apesar do potencial furor,

o mar nos quer brindar.

Tento trazer-te para junto de mim;

tocar-te a pele que o vestido,

vermelho como nossos sentimentos,

esconde, teimosa

– Teimosia.

Por que fincas os pés no chão?

Precisas de suporte para resistir?

A areia que nos banha os pés

poderia, serenamente,

sujar nossos corpos,

esparramados e desnudos,

ao sabor da brisa.

Nossas forças se opõem agora.

Puxo daqui e você daí

– Teimosos!

O cetim vai se rasgar.

Desse embate corporal,

quando cedermos ambos,

quero me deitar na pele vermelha

– No tapete de construístes para mim.

Crato-CE, 18 de Agosto de 2013.

00h27min

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Esperando

É do teu afago que preciso, urgentemente.

A solidão dos meus braços pede o teu abraço;

e a solidez da tua voz, que me fulmina,

a distância,

precisa romper o espaço-tempo da espera.

No teu calor, busco consolidar minha humanidade.

Aceita meu semblante singrando a solidão do tempo.

Espera mais, não tenhas pressa

– Juro que irei!

Não percebes que meu caminhar deixa sulcos na areia?

Faz calor dentro de mim, tenho presas minhas madeixas.

São cabelos doirados que reluzem e me enfeitam.

Minhas tranças também serão tuas,

vamos dançar?

A dois, coladinhos, desejo sentir teu sinuoso colo.

Que sentido daria ao meu corpo, se desnudo estivesse?

Se as alças escorressem e me delineassem as curvas,

estaria próximo, evitando que o tecido caísse ao chão?

Ainda resta outra peça

– Por que não faz nada, por quê?

Preciso vestir-me de realidade, fugir das minhas alucinações.

Abri meus olhos, depois de ter escancarado meu corpo...

O que me surge, desanuviando todas as inquietações, o quê?

Surgiu a incompletude do que sou,

por medo de não dever ser.

Iguatu-CE, 11 de fevereiro de 2014.

13h41min

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Por que lamenta?

Se inspiro,

machucando ossos,

conforte-se

– Transpiraremos a dois.

No bailar da rede, as molas tremerão!

A desarmonia ainda existirá,

mas em razão da pressa.

Serão dois sedentos corpos;

e um bailar a quatro mãos,

esvaziando toda sede!

Então, excito? Que delícia!

Minhas curvas foram delineadas por artífice singular.

Quando findar o distanciamento,

obliterado pelo Oceano,

recriaremos cenas, nas ondulações do nosso navegar.

Explore-me as curvas, já dei as pistas.

Pode ter pressa, meu grito exige

– Ele urge!

Das janelas, os vizinhos, virão nos observar.

Por que a saudade maltrata?

Os irracionais carecem desse tempero.

Que emoção existe na reprodução das bactérias?

Elas apenas se multiplicam, sem doação, mero monismo!

Se inspiramos, não existe nenhum cinismo.

Tresloucados, claro! Para que tanta consciência?

Apenas busquemos... Amar, amar sem controvérsias!

Ah, o novo dia.

Sinto o Sol

– Ele me arde a pele.

Tenho calafrios sem nenhuma explicação.

Bati a faca, machuquei o dedo.

E, da boca, emergiu o gosto de sangue.

Gritei! E você me ouviu no além-mar.

Novo grito, novo deleite

– Meu corpo sangra, quer mais!

Ah, saudade! Saudade.

Entreposto sutil do reencontro delirante.

Sinto os ares me chamando: “Hora de ir!”

O torpor que me embebe a eterna guia,

limpando a tela da paisagem austral,

externa-se no sorriso, no brilho do olhar.

Deveria. Sim, deveria... Deveria gritar!

Voando, aguarde-me... Preciso pousar.

Buenos Aires, 16 de Julho de 2013.

14h02min

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Confusões

Nossas artérias precisam pulular.

Os pulsos se exasperam e,

aqui e acolá,

desesperam-nos,

ressignificando sentimentos.

As firmes pernas tremulam.

A solidez dos sentimentos,

sem nenhum aviso prévio,

manifestam-se no calafrio

da incerteza.

Duvidar, relativizando a verdade –

imponderável presságio da surpresa –,

torna-se o combustível agonizante

da confusão causada

pelo novo tormento.

Surgem as tempestades austrais;

buscamos o calor dentro do burilamento.

Novas brisas sopram,

a Lua está cadente.

No frio do medo,

é o calor que nos apraz.

Confundir-se impõe aprendizado.

Permitir-se, entretanto,

dentro do conflito,

é o arsenal

que possibilita o tiro.

Buenos Aires, 15 de Julho de 2013.

09h00min

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Sei pular

A intensidade da busca

depende da dimensão do que se busca.

Diante de mulheres normais, ajo com normalidade.

Diante de uma deusa, preciso, como plebeu,

entender minha pequenez e apenas admirar.

A vida sem sonhos não tem graça.

Busco decifrar tudo o que for possível,

escondido atrás desse sorriso

que não canso de admirar.

Sua beleza me arrebatou!

Toda mulher é templo de divindade.

Entender a grandeza de uma mulher

depende do outro,

de quem ao lado dela está.

A vida nos surpreende.

Para o sofrimento existe a resignação;

para gentilezas, o medo

– Não entendo isso!

Permita-se!

Compreendo seus receios e temores.

Não pretendo romper nenhum limite.

Apenas não nos feche essa porta

– Até poderia fechar,

desde que abrisse uma janela.

Sei pular.

Fortaleza-CE, 12 de julho de 2013.

15h51min

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As madeixas

Doirados cabelos, alma de sublime beleza;

As curvas, em perfil, transcendem de leveza.

O sorriso, espontaneamente solto;

os entreabertos lábios que me deixam afoito.

Tudo prescinde a concretude, bastando-se em si.

E, perplexo no encanto,

venero a tela que vi.

Distante, desfocada, a natureza se curva...

E a tela, sobressaindo, envolvente e turva,

contrapõe-se no maniqueísmo do desejo:

de um lado a realidade; do outro, o dócil pejo.

As lentes escuras das artificiais armações,

escondem teus lindos olhos,

de convites e senões.

Todo lábio implora o toque

– Desastrosa previsão!

À distância, porém, ouso tocar a tela fria, ilusão.

A blusa negra, absorvendo o calor da luz,

protege a nobre curva do meu desejo e me seduz.

Ah, mas os tolos, tolos poetas

– Que safados!

Desnudam, sem maldade,

os desejos sobrestados.

Crato-CE, 4 de Junho de 2013.

12h42min

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.:.

Estranhos

Ah, mas os estranhos...

Quem diria!

Surpresas do tempo,

alguns permanecem estranhos;

outros, todavia,

tornam-se íntimos,

mudando caminhos,

livrando-nos de descaminhos

e,

quem diria...

Quando íntimos demais,

causam estranhezas,

quando nos entendem as entranhas

além do que deveriam.

Crato-CE, 18 de Março de 2013.

01h32min

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.:.

Brevidade

Gotas trêmulas.

Lábios que buscam.

Mãos nas flâmulas.

Corpos que se doam.

Olhos ávidos.

Peles que se sentem.

Almas em transe.

Bocas que se desejam.

Elas se rasgam.

Eles se entregam.

Elas se querem.

Eles se sentem um só!

Mais rápido!

Assim! Nossa eu amei...

...

Preciso relaxar

e dormir.

Crato-CE, 19 de novembro de 2007.

22h11min

.:.

.:.

Será?

Se o abraço puxar o beijo;

se o beijo chamar a carícia.

As carícias excitam.

E corpos excitados pedem suor!

Na transpiração,

no grito dos poros,

relaxamos...

E decidimos

deitar

e

dormir.

Juazeiro do Norte-CE, 3 de outubro de 2012.

13h05min

.:.

.:.

Alô!

Calo

E minhas mãos ardem

com a força do martelo.

Falo

E meus gritos constroem

no espelho o último elo.

Ralo

E meu suor, ardente e puro,

esvai-se no desfiladeiro.

Galo

E minha raiz de Pinto exige

um có-có-ri-có aveludado.

Calo

Que dos meus dedos brotam

pela força do trabalho.

Falo

Que das minhas mãos trêmulas

escorre e desliza, por acaso.

Ralo

Por onde se esgalham as impurezas

decifráveis do rosto e das mãos.

Galo

Que da pancada que levei,

fez-se a razão do esquecimento.

Crato-CE, 6 de agosto de 2010.

13h13min

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Entrelinhas

As entrelinhas me turvam o olhar sedento e atroz.

E o desnudar-se pra mim pode ser somente virtual.

Posso inspirar-me na hora do ato, amando tudo,

sussurrando trechos

grafados em nossos lençóis.

Poetizar durante o ato de amar, já se permitiu?

Ele fazendo pedidos

– Parece genial, instigante.

Os sussurros mais íntimos,

eternizados entre os dois,

serão o pano de fundo

para outros sentidos depois.

Mate-me a curiosidade da movimentação certeira:

entradas e saídas descritas ao sabor da luz trêmula.

Sou curioso e, apesar do desconforto que provoco,

honra-me ser digno da sua intimidade,

falsa posse.

Busco descobrir mais de você,

encantadora mulher,

que me inebria em cada verso que leio,

espantado.

Sem ofender, claro,

por que surgiu a interrogação?

Não entende o prazer

da descoberta masculina?

< Não! >

Crato-CE, 6 de julho de 2012.

13h05

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Brincando de sonhar

Nada contra,

imagine!

Esmiuçar tua nudez,

deusa distante,

jamais me motivou,

acreditas?

Algo me prende.

Leve, para cima.

Voa e desafia,

especialmente,

sim, a gravidade!

Cada parte de ti,

apesar da veste rutilante,

sempre me deixa:

dedos, dados... Duro.

Ousei?

Não. Fui sincero;

hesitei muito.

Aliviei!

Fortaleza-CE, 28 de setembro de 2005.

23h35min

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Porta entreaberta

Você veio, lentamente, assim,

sorrindo, tímida, para mim.

Eram passos fortes, mas lentos;

eram mãos indecisas ao vento

– Onde colocar cada uma delas?

O vestido que tão majestosamente

encobria suas partes, as mais íntimas,

bailava como a se despedaçar.

Meus olhos, que não se cerravam,

eram os únicos espectadores.

Vivos e atentos, eles exorbitavam!

Da imagem, impressão visual,

queriam, meus olhos,

um contato mais real.

Calma. Sem pressa. Sem toque.

Não me prestarei a nada do que desejo;

não ousarei nenhum toque indiscreto.

Quero apenas olhar o seu despojamento.

Sua nudez

– Meu tormento...

Preciso descrever cada ponto escuro.

De cima, os quase soltos cabelos;

Descendo, vejo bicos em riste,

mostrando que a natureza existe

– Cheia de elos e castelos.

Prisões que se abrem agora, nossa!

Vejo seus traços, trejeitos de mulher.

Meus olhos descem, você quer?

Quer mesmo que a desnude assim,

apenas perscrutando sua nudez invulgar?

Se o paraíso existe e creio que sim,

dele você mostra uma porta para mim.

Você me deixa entrar sem pressa?

Abra, pelo menos, uma pequena fresta.

Mesmo que não entre, se desejar,

contentar-me-ei com o cheiro do cálice.

Se me disser agora

– Cale-se!

Nada farei, além de sentir a oferta.

Amo pelos. Amo novelos. Amo sua lã

– Seu corpo desnudo me dá febre terçã.

Ah se me abrisse a porta agora sem medo;

se pudesse pentear seu tecido posto,

manifestar todo o meu gosto.

Gosto da vida como fato e com enredo.

Este momento, além de genuíno,

revela o homem e o eterno menino,

buscando tesouros pérfidos,

escondidos.

Sem toque, mas muito intensamente,

sei que ardemos em fogo transcendente.

O que sinto e o que você agora sente;

o que vejo

– Não se esconda, liberte as mãos!

É o resultado d’uma obra de arte perfeita.

É a porta, ainda entreaberta, porta estreita,

por onde desejo, fortemente,

um dia entrar.

Crato-CE, 5 de abril de 2008.

16h22min

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Ah!

Ah, coração! Tola máquina pulsante

– Tudo era ilusão.

Passou.

Ficaram os desencontros, as mentiras.

O amor, quando se declara,

não exige provas, mas deve ser verdadeiro.

Por que aconteceu?

Fuga. Talvez um escape.

Nossas alegrias eram, acredite,

reproduzidas de igual modo

em tirania, desamor e lágrimas.

Decidi cotejar as emoções.

As decepções pesaram mais.

Como amar plenamente,

se a desconfiança era a minha verdade?

Havia força no olhar, no toque;

éramos e nos doávamos fortemente.

Temia nossa obsessão.

Temia cada loucura feita a dois, temia.

Por que o ciúme, responde?

Adiantaria eternamente

os sucessivos pedidos de perdão?

Não somos religiosos, ora!

Odiava suas promessas.

Por que nos resignamos?

Medo do tempo que nos criou

em distintas épocas?

Seu apego ao passado;

eternas sombras nos rondando.

Pessoas antigas;

relacionamentos arquétipos e borrados pelo tempo.

Faltava a felicidade plena que eu merecia.

Não tive opção:

baixei a cabeça, fechando-me para o outro.

O que ganhamos com isso?

O tempo passou e aqui estamos nós

– Velhos!

Você mais velho ainda.

Amadureci com o tempo.

Crato-CE, 15 de agosto de 2008.

16h00min

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Sentares

A luz do Sol me fascina.

Quando refletida,

princípio físico,

esconde suas formas,

criando sinuosas penumbras.

Que importa!

O que desejo agora, acredite,

não é nenhuma visão míope.

Não busco presentes no meu natalício.

Busco apenas sentir:

o calor da pele que amedronta o Sol;

e o extravasamento da entrega.

Submeta-se e me converta.

Quero que me transforme!

de cético, virarei prontuário de balcão.

Ajoelhe-se e venha.

Aliás, sente-se

– Aceito!

Iguatu-CE, 18 de junho de 2014.

14h13min

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Angústia e desejo

Inspira-me o verso carnal.

Percebes,

nas entrelinhas,

o desejo que exalo;

todo o meu subliminar tesão?

Que delícia!

Minha intenção é falar de sensualidade.

Compartilhando tragédias,

afinal,

já existe gente demais.

Sentes perigo no meu olhar?

O que te dizem meus olhos?

Eles te despem de longe?

Alcançam-te pelas palavras?

Inquietam-te pelas imagens que produzem?

Sente-se despida ao me ler?

Ou preferes sentir,

relacionar-se com o teu poeta,

madrugada afora,

desvendando e se desnudando?

Carnalmente,

o suor nos emudeceu os corpos,

após o ápice,

num relaxante êxtase!

Explodir em silêncio é mais intenso.

Sozinho, talvez...

A dois, adoro gemidos!

Bastaria o meu olhar no teu olhar.

Reinventaríamos a pólvora!

Desejo à flor da pele...

A pele, buscando os teus desejos.

Desejos, desejos... O que desejamos?

Desejosos sei qu’estamos, a saber:

um varão fogoso e fugaz;

uma dama num delicado e profundo cio.

Estás no cio?

Sente-se loucamente feliz no teu desejo?

Convido-te para um banquete, a dois,

sem pressa.

Tu serias o prato!

Queres descobrir qual de nós

sente mais fome?

Eu regurgitaria, voluntariamente,

intencionando comer mais!

Queres ser mulher ou fêmea?

Permita-se sonhar, voar, explodir, arder de amor.

Quero ser o homem que buscas;

que sangra dentro do teu sangramento,

queimando o que já arde dentro de ti.

Um homem que arde e arrefece,

calorosamente,

vestindo-se de vermelho.

Estou imbricado de torpor e de desejo,

em rubros tons:

o vermelho da alma;

o vermelho da pele;

o vermelho que molha;

o vermelho da carne!

Iguatu-CE, 11 de junho de 2014.

23h18min

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Felina

Que cabelos são esses

que me escorrem pelas mãos?

São feitiços de bem-querença,

são sinais de mansidão?

E esses olhos tão sedentos,

são desejos incontidos?

Ou são insídias de felina,

incorporadas em mulher?

Quando toco esses cabelos;

quando miro nesse olhar.

Sinto-me tão frágil, tão entregue,

que tenho ímpetos de voar.

Lembro que sou homem, não anjo,

arrebatado por um corpo que me quer.

Que lindos seios você tem,

doce menina!

Estão encobertos, sei,

mas tenho o poder de desnudar.

É uma força tão forte, tão minha;

que consigo, acredite, tocar!

Se pudesse imaginar o que agora,

que pensamento me invade o inconsciente.

Ficaria tão feliz e tão contente;

tão arrepiada, tão demente,

que suspiraria sem demora.

Mas estamos longe, distantes...

Será que já somos amantes?

De que tipo, em que circunstância?

Ah, menina! Não afugente a discordância.

Se assim o fizer,

esquecerei que um dia

vi em você uma menina, não uma mulher!

Isso é mau

– Aceitaria?

Fortaleza, 02 de fevereiro de 2002.

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Cama vazia

Sou tão singelo

para desnudar almas.

Se desejar,

desnudo tudo:

corpo,

alma.

Há, talvez,

uma cama vazia...

Preenchida pela metade,

inspira visitas,

enxertadas de maldade.

Crato-CE, 18 de maio de 2011.

0h32min

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Preciso do toque

O tocar é um sonho.

Entretanto, o todo do sonho

se constrói aos pedaços.

Se o somatório das partes

não nos dá um inteiro,

há vazios inexplorados.

O bom da fragmentação

é a certeza da integralidade.

Por mais que nos escondamos,

um dia a verdade surge,

fluindo ao nosso tato.

sorrisos espontâneos

precisam ser visto de perto.

Ponha a língua para fora

– Quero beijar,

na concretude do toque.

Crato-CE, 27 de novembro de 2008.

15h26min

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Sei que vou

Vou devorar teu corte íntimo.

Vou me embeber com a tua saliva.

Vou recortar o teu já cortado corte,

sangrando em esparsos coágulos.

Perfeito!

Vou separar teus lábios com as mãos.

E que os outros lábios,

escancarados lábios desdentados,

não me molhem sem aviso prévio.

Imperfeito.

Vou desalmar tuas coxas cretinas!

Por que se fecham sem permissão?

Vou cerrar as mãos e arrancar...

Arrancar um único pentelho pixaim!

Defeito!

Vou buscar entradas, todas elas!

Vou pular o quintal e entrar...

Entrar pela cozinha, desavisadamente.

Vou cuspir, avisando o que pretendo.

Com jeito.

Vou queimar teu fogo dissimulado.

Vou mijar por sobre as cinzas.

Vou transgredir, assobiando em teu pulmão!

Não repita duas vezes 33 mais 3:

– Que posição!

Vou ouvir o teu gemido de caça.

Vou zombar de cada dia de desgraça,

quando teu corpo se fingia não meu.

Vou falar e espalhar pra todo mundo:

– Que decepção!

Vou me lavar depois da cama.

Vou retirar de mim o teu suor.

Vou vestir a cueca suja ao avesso,

virando a página de número, sei lá.

É coleção.

Vou reler cada verso sem pressa.

Vou imaginar-me esmagado pela fúria.

Vou desejar cada ato de luxúria

que teu corte, desconstruído, exigirá.

Penetração.

Crato-CE, 16 de julho de 2008.

01h19min

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Quero

Quero morder minha realidade!

Despir-me do leito da maldade,

encontrando, dentro de mim,

outro completo e ardente ser.

Quero lamber meu podre colo!

Fugir do medíocre e fino protocolo,

quebrando todas as regras,

construindo meu doce fenecer.

Quero proteger a fêmea casta,

abrindo-a como carta de canastra.

– Deflorando-lhe a pureza até o fim,

sendo corpo, quero não ter fim.

Quero morrer, morrer sem pressa!

Não pela vida

– Até que presta.

Renascendo, sendo retrospecto,

reencontro-me em desejo ardente.

Quero querer qualquer coisa...

Quero merecer fase qualquer da penitência.

Perdoando, quero perdoar-me e, do jardim,

resgatar a pureza arrancada

pela mordida.

Crato-CE, 3 de agosto de 2010.

17h57min

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Verde

Adoro ver-te

porque o verde

da calcinha que vestes

me diverte.

Crato-CE, 8 de agosto de 2009.

12h27min

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Extasiantes

Gosto de você,

do seu corpo,

do seu silêncio.

Prefiro, entretanto,

é ter todo o escopo

da sua singela magia.

Preciso de oxigênio.

Sua luz de tungstênio

impede-me de brilhar.

Que o foco colimado,

talvez inexistente,

sorva-nos premente.

Deseje meu corpo.

Deseje-o, fêmea amada!

Espasmos...

Suaves gotículas de suor;

entramos no êxtase

da união carnal!

Que desapareçam as calorias!

Somos a anarquia inútil.

Somos, da vida fútil,

nada mais que figurantes.

Toquem essas trombetas;

avisem a todos os povos.

Quero é mamar nas tetas

aviltantes de uma fêmea!

Cantarolar minhas retretas;

levantar, firme, a baioneta

recalcitrante que há em mim.

Crato-CE, 15 de agosto de 2008.

16h57min

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O transe da sereia

Ao homem,

diante da beleza feminina,

é dado o direito de opinar.

Entretanto, a opção é uma

– Só podemos admirar!

As mulheres,

quando se despem, mesmo vestidas,

exorbitam desejos, inspirando fantasias.

e o rubro-negro do vestido,

colado ao corpo, é convite

– Pura magia.

A pose é de estonteante sereia.

Deitar-se é sugestivo demais!

No transe, entre a realidade e o devaneio,

urge que da foto se extravase o grito:

do contentamento da fêmea que apraz.

Ah, esses cabelos doirados

– Eles cintilam!

Prendem e me convidam, embora silentes.

A poesia que surge do meu delírio latente,

quer transmutar-se pela fluidez da tela;

buscando o toque da foto,

longe da janela.

Percebo discretas e rubras garras de felina.

Cabelos, unhas, boca, dorso, corpo...

Tudo se reveste de convite ao olhar certeiro.

Ao imaginar que nesse corpo existe um vespeiro,

queria ser as picadas do transe,

por inteiro.

Crato-CE, 16 de Maio de 2013.

13h38min

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Indecisão

Ontem, você sentia minha falta;

hoje cedo me disse que queria...

Agora, simplesmente, não quer mais?

Será que as luzes da ribalta,

incidindo em plena desarmonia,

mudaram tudo

– É isso, por quê?

Quando apenas há palavras e verbetes;

quando o concreto toque inexiste

– É apenas o instinto que nos conduz.

Não houve nenhum planejamento adrede;

não há nenhuma vontade ou fetiche;

não haverá tortura

– Apenas luz.

Que importa se o toque for alcançado?

Quer de mim somente esse olhar moribundo?

Creio que buscamos e esperamos mais...

Se o gozo for a razão de futuros ais,

esqueçamos, pois a vida neste mundo,

pode ser vivida

sem o desejado encontro.

Crato-CE, 18 de agosto de 2008.

16h47min

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Numa noite de autógrafos

Oi! Meu nome é Letícia. Tenho 18 anos, sou morena, 1,56m de altura e lábios carnudos. Nunca fui devassa. Fui criada em condições rígidas, enfurnada três vezes por semana na igreja, aliás, cheguei até a trabalhar no que chamamos de “ministério”, mas sempre me sentia incompleta e infeliz. Estava um pouco desgostosa com o meu namoro e resolvi arriscar – estava decidida a perder a virgindade.

Estava assistindo ao filme Encontrando Forrester quando uma cena me chamou a atenção. O ator (um escritor) comentava que as sessões de lançamento de seus livros só eram realizadas para que o autor – ele – comesse alguém. O interessante é que as mulheres também iam apenas pelo sexo! Isso me deixou extremamente excitada! Sempre tive fantasias de fazer algo louco, mas nunca tive coragem de fazer amor ou meter, sei lá – chamem como quiser – com um desconhecido. Resolvi que essa seria uma boa iniciação no mundo das depravadas.

Sempre tive queda por homens maduros, intelectuais, com charme e cabelos grisalhos. Peguei o jornal e fui descobrir os lançamentos na cidade. Procurei e encontrei minha vítima (e que vítima, dentro daquilo que idealizara). Tratei de conseguir o convite para o coquetel de lançamento.

Estava chegando o grande dia. Resolvi que minha primeira traição seria planejada em todos os aspectos. Disse para meu corninho que viajaria com uma amiga. Fui ao cabeleireiro, comprei roupas novas e sensuais. Comprei um vestido azul, discreto, mas levemente transparente, bem curtinho e com um generoso decote na frente; uma calcinha minúscula branca de renda e um par de sandálias de salto alto prateado que arrancaria vários olhares, indicando-me se seria ou não aceita pelo meu objeto de desejo. Troquei de carro com minha amiga, afinal não queria ser descoberta.

Cheguei à livraria um pouco receosa e com medo do que sucederia. Fitei o Nicholas (nome fictício) autografando os livros, com diversas peruas dando em cima dele. Pensei em desistir. Fiquei decepcionada. Olhei alguns títulos, tomando vinho e cumprimentado os conhecidos presentes. Empolguei-me tanto conversando que até cheguei a esquecer da minha missão.

Já era tarde por volta das 2h00 da manhã quando, de repente, um amigo veio me cumprimentar e comentou sobre o Nicholas. Disse-me que ele havia questionado sobre mim, querendo saber quem eu era, que já havia me visto outras vezes na cidade e que estranhava eu ainda não ter ido até lá me apresentar. Era minha chance! Pequei um livro da mão de uma colega e fui até ele. Discretamente me apresentei, comentei sobre o livro (tinha lido a apresentação enquanto passava o tempo) e pedi um autógrafo. Ele abriu o livro, riu e perguntou se era isso que eu realmente queria. Fiquei vermelha, meio desconcertada, pensando que havia descoberto minhas intenções. Não entendia direito o que ocorria até que ele me mostrou o livro já autografado. Quis morrer de vergonha. Como um bom cavalheiro, ele se levantou, pegou um livro da estante, fez a dedicatória e me entregou. Estava tão desnorteada que agradeci meio sem jeito, peguei o livro e fui em direção ao estacionamento, entrando no carro e indo embora, esquecendo de tudo e de todos os planos previamente traçados.

Já estava na esquina do meu apartamento, esperando o sinal abrir, quando me lembrei de olhar a dedicatória. Dizia: “a esta loira fascinante que, com um olhar envolvente seduz aos que a admiram e certamente enlouquece os que têm o prazer de nela tocar”. Fiz o retorno no mesmo instante e voltei à livraria.

Chegando lá, as luzes já estavam apagadas, a loja fechada e apenas uns dois serventes limpando a sujeira. Fiquei louca! Perguntei se sabiam o endereço do Nicholas... Um deles me indicou o gerente que ainda estava no fundo da loja. Cheguei lá, implorei pelo endereço, disse que ele tinha me dado o livro, que queria pagá-lo etc – mentia descaradamente sem pensar nas conseqüências das minhas revelações. O gerente pegou o livro da minha mão, leu a dedicatória, e concordou em me dar o endereço. Impôs apenas uma condição: a de que, no dia seguinte, buscaria o livro com ele! Muito sacana, disse que somente me daria o endereço se lhe fizesse um boquete. Estava tão louca que concordei e jurei que faria isso no dia seguinte, quando pegasse o livro, pois meus carinhos e desejos já estavam voltados para outra pessoa nessa noite. Ele concordou. Peguei o endereço e fui em direção à casa do Nicholas.

Na frente do prédio, estacionei. Pensei na loucura, mas vi que era tarde demais – estava molhada de tesão só de pensar no que estava aprontando. Pedi ao porteiro para interfonar e dizer que a “loira fascinante” estava pedindo para subir. O porteiro ficou excitado com minhas palavras e, é claro, com meu generoso decote. Subi ao andar indicado. Meu coração disparava. Não sabia o que dizer ou o que falar... Nunca havia feito isso antes. Sentia-me uma puta, estava trêmula, gelada, mas, mesmo assim, fui em frente e toquei a campainha.

Ele atendeu, todo solícito, e me convidou a entrar. Entrei. Sentei. Ele me ofereceu uma taça de vinho. Apenas respondi com a cabeça, sem coragem de expressar uma palavra. Ele percebeu meu incômodo e tentou me relaxar. Falou sobre o lançamento do livro, a noite de autógrafos, a presença dos políticos, repórteres. Aos poucos fui me descontraindo e me abrindo na conversa. Ele pediu licença a foi até o som. Perguntou que estilo musical eu gostava e foi à cozinha, pegar mais bebida. Resolvi atacar... Já passava das 3h30. Se daria continuação aos meus planos deveria começar logo.

Levantei-me, apaguei a luz e esperei o retorno dele. Ao chegar, ele se aproximou e me chamou para uma dança. O clima estava romântico. Abraçamo-nos e dançamos coladinhos por alguns instantes. O cheiro do perfume dele, o toque de suas mãos, a suavidade nos gestos tudo foi me excitando e deixando o clima de sedução no ar. Aos poucos ele foi me tocando, me acariciando – pedia mentalmente cada vez mais. Deixei, propositalmente, a alça do meu vestido cair. Estava completamente dopada pela situação... Começamos a nos beijar, saboreando nossos lábios mutuamente. Ele foi tirando levemente o vestido em meio a carícias e beijos deliciosos que trocávamos. Meu vestidinho caiu completamente, deixando-me apenas com uma minúscula calcinha, toda enfiada, que deixou meu bumbum mais redondinho – aquilo chamou a atenção do Edu. Prontamente, ele começou a alisar, apertar e apalpar minha bundinha, deixando minha chavasca cada vez mais molhada e quente. Ele desceu, olhou para seios fartos e empinadinhos, e ficou ali, admirando, até cair de boca... Estava em devaneios. Tive meu primeiro orgasmo. Pedia mais, queria ser dominada por ele.

Como ainda faltava uma peça da minha roupa, ele me pegou no colo, em meio a beijos e carícias, e me levou ao quarto. Disse minhas condições, que não queria anal, nem sexo sem camisinha. Edu, educadamente, atendeu, enquanto me deitava na cama, dando-me milhões de beijos, acariciando-me, lambendo-me e tirando minha calcinha com os dentes... Beijou minhas coxas, mergulhando na minha buceta cheirosa e molhada. Ele passou língua no grelinho, enfiava lá dentro bebendo meu suco e fazendo-me gemer de tesão. Fez algo que eu nunca tinha feito antes: ele segurou minha bundinha para dar apoio, colocou a boca inteira dentro da minha buceta e começou a sugá-la impetuosamente... Fiquei louca! Edu queria mais. Devagar, foi descendo e tocando, com a língua, no meu cuzinho (dizia que não ia passar disso). Ele me lambeu e chupou o cuzinho bastante, enquanto enfiava ora 1 ora 2 dedinhos em minha buceta ensopada. Gozei novamente.

Resolvi retribuir o desejo e o prazer que deliciosamente ganhei. Tirei-lhe a roupa e fiz um dos melhores boquetes de toda minha vida. Chupava aquela pica gostosa fazendo movimentos circulares com a cabeça; passava-lhe a língua na cabeça do membro – ele delirava de tesão; enfiava aquele mastro grosso e forte, o máximo que conseguia, na boca, num vaivém gostoso... Era bom demais chupar aquele cacete!

Suavemente ele voltou a me beijar, colocou uma camisinha, e recomeçou a brincar com a portinha da minha buceta: fingia que colocava e tirava... Era demais pra mim! Não resisti. Fiz um movimento com a xota para trás e, de uma vez só, engoli todinho aquele mastro. Enfiei sem receios minha buceta naquele membro chamativo e quente. Movimentava-me com força, sentindo todo ele dentro de mim... Cravei minhas unhas na bunda dele (o tesão era imenso). Edu enfiava o pau na minha buceta e acariciava meu cuzinho, fazendo-me tremer de tesão. Meu cuzinho piscava de desejo. Nunca gostei de anal, mas confesso que era gostoso sentir o que sentia. Ele metia com força. Sentia meu gozo se aproximando... de repente, ele começou a ter espasmos e atingindo juntos um orgasmo alucinante.

Após a gozada, ficamos na cama por alguns instantes, apenas nos acariciando, sem nada falar. Ainda estava com muita vontade, cheia de tesão, e novamente me insinuei. Ele saiu e voltou com champagne e morangos com chantily – era o que faltava para continuarmos nossa festa. Espalhou os morangos e o chantily em meu corpo e, com a boca, começou a comê-los um a um, em meio a novas carícias e lambidas para tirar todo o doce de meu corpo. Aquilo foi me esquentando e, juntamente com o efeito do champagne, deixou-me nas alturas. Recomeçamos a nos apalpar e nos lamber mutuamente. Ele colocou uma outra camisinha e começou a me penetrar a buceta, agora comigo de quatro, posição que ele intitulou de “paraíso delirante”. Fui às nuvens! Pedi para ele meter com força e bem forte. Ele atendeu e me deu inúmeras estocadas – senti os pelinhos dele em minha pele, o contato era muito intenso. Minhas pernas estremeciam em meio ao tesão que se acumulava. Ele sussurrou ao meu ouvido que não estava agüentando e que gozaria, o que aconteceu em poucos segundos. Gozou tanto que pude sentir o quão quente estava o líquido que dele saía, mesmo dentro da camisinha.

Edu foi ao banheiro se limpar. Voltou, colocou-me de pé na parede e disse que retribuiria a melhor foda da vida dele. Começou a chupar-me: lambia minha nuca, beijava meu corpo todo desnudo, misturado com o gosto de champagne. Continuamos a nos acariciar. Ele me beijava e enfiava a língua em minha boca. Virou-me de costas. Senti-lhe o membro endurecendo de novo. Ele meteu o pau no meio das minhas pernas, agarrou-me firme pela cintura e me penetrou novamente num e vaivém delicioso. Eu suava por todo o corpo. Sentia-o com uma mão nos meus seios e a outra segurando firmemente entre minhas pernas, na entrada da minha buceta.

Minhas pernas estavam cambaleantes de ficarem na ponta dos pés naquela posição. tentei agachar-me, mas ele me segurou pela cintura e disse que gozaria daquele jeito. Ele, sentindo minha vibração, recomeçou um entra e sai bem gostoso – fazia movimentos circulares dentro do meu paraíso e eu quase morria de tesão. Ele tirava aquele mastro grosso até a pontinha, parando antes de sair a cabeça, e voltava, lentamente, a rechear minha xaninha que pingava literalmente de tesão. Eu gemia gostoso, mordiscava-lhe os lábios... Comecei a gozar feito uma louca. Depois que terminei, ele começou a gozar também. Deitamos na cama para descansar um pouco.

Já era quase 8h00 quando acordamos. Vesti-me e fui para casa tomar um delicioso banho, enquanto pensava na loucura que havia cometido.

Quanto ao Gerente, pedi a uma amiga devassa (a do carro), companheira de diversas estripulias, que me fizesse esse favor, ou melhor, para ambas. Ganhei meu livro de volta, e ela, claro, uma boa transa.

Nijair Araújo Pinto
Enviado por Nijair Araújo Pinto em 20/08/2013
Reeditado em 11/04/2016
Código do texto: T4443904
Classificação de conteúdo: seguro
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