Violões - coletânea de haicais de julho de 2013
Violões - coletânea de haicais de julho de 2013
orbitante
estes astros todos ~
os olhos são pontes
ouvir
até chegar a ver ~
ovelhas
rio de inverno
mesmo na noite gelada ~
os pernilongos
tão nítido
é o som de seu voar ~
mosca invernal
o que posso dizer?
últimos carinhos e horas
velha cadela
bordas do varjão
como vi no ano passado ~
duas inhúmas
noite de julho
além do som dos violões ~
os curiangos
não há mais nada
no olhar da velha cadela
que se despede
depois das palavras
o silêncio que conforma ~
meu bom irmão
tarde invernal
não cessa o manso ruido ~
do ninhal de garças
madrugada
porta e paredes ao redor
estão empenadas?
que importa
o frio que está lá fora?
canto de inhaúmas
a moça da praia
todas as suas vaidades ~
lhe caem bem
- o trem tá feio
vem dizendo o vizinho
todo empacotado
meados de julho
e chega a sensação ~
de inverno
manhã de inverno
o passeio planejado ~
só até a varanda
café da manhã
minha mãe lembra a infância ~
e as geadas
frio danado
das obrigações da roça
meu pai desiste
tarde de julho
o jaó pia de solidão ~
no entardecer
peões de mentira
e cavalhos de verdade ~
entram na cidade
ruídos matinais
a bicicleta do padeiro ~
passa carregada
que frio!
garis varrendo a rua ~
todos encolhidos
frio invernal
os sanhaços vem pousar ~
na fiação da rua
com todo o frio
a mãe veste o filhinho ~
de astronauta
tarde invernal
o sol que se despede ~
num quê de saudade
cãozinho malandro
deitado aos pés da cama ~
na manhã de frio
frio domingo
nota de falecimento ~
no carro de som
depois do frio
chega a desolação ~
dos campos secos
esperança
o velho ipê florido ~
no campo seco
julho que finda
com a partida do Papa ~
a voz de Brasília
manhã na rodovia
o policial da guarita ~
que nem se mexe
lá no espaço
por qual nome se chamam ~
os sanhaços?
silêncio da manhã
o trator levanta poeira ~
lavoura ao longe
velho pigarro
o xarope é que não presta ~
diz meu velho pai
jornal matinal
traz também o jornaleiro ~
o jornal da cidade
algo se despedaça
estrela que se apaga ~
ao nascer do sol
frio da madrugada
à espera do transporte ~
riem os peões
beija-flor
procurando a flor ~
que beija beija
orvalho que corre
pelo relevo das flores ~
geografia
uma nota só
na memória do grilo ~
nesta madrugada