Haicais Sonolentos
Uma lagoa
A garça voa
Eu à toa
Velha lagoa
Libélula sobrevoa
Eu numa canoa
Um lago
Caniço mergulhado
Luar no olho do peixe
Um igarapé
Rã no aguapé
Um pé de altura
Verde muiraquitã
Entre os seios da cunhã
Amuleto de rã
Com a língua do Lácio
Sem ideogramas na grama
Em gramas escrevo haicais
Uma xícara de chá
Três versos limitados
Um poema infinito
Lagoa
Eu
Haicais
Olhos fechados
Céu da boca
Risco nos lábios
zoom! zoom!...
hum!... hum!.. hum!..
este foi dormir...
Passei a noite toda escrevendo
Haicais
A lua foi embora
E as estrelas foram dormir
E eu fiquei tentando polir
Estes diamantes orientais
Meu gato morto de sono
E eu
Meu pincel
Minha constelação de papel
E meu quimono
Tirando versos do lago
Flores da primavera
Folhas soltas mortas
De outono
Voando diante
Das minhas pálpebras
Sonolentas.
Luiz Alfredo - poeta