Propósito: perambulando selvagem pelas Artes; domesticado pela Administração? Ou não...

Literatura: em Propositum, Sean Curley especula que Jesus não existiu como indivíduo, sendo sua figura o amálgama de tendências da época, as mesmas usadas por Paulo de Tarso e Proculus, um visionário ex-senador romano, que juntos teriam conspirado e manipulado o senado, com o propósito de mudar para melhor o Judaísmo e a República Romana.

Música: “Propósito” também é som: gospel de Kleber Lucas e da Babasônicos, uma banda de rock argentina.

Cinema: em MATRIX RELOADED, o tema aparece várias vezes. Gosto em particular de duas cenas de lutas consecutivas e conversas significativas. Primeiro entre Neo e Seraph:

Seraph: You seek the Oracle.

Neo: Who are you?

Seraph: I am Seraph. I can take you to her. But first, I must apologize.

Neo: For what?.

Seraph: For this.

[Seraph inicia a briga que termina sem arranhões]

Seraph: The Oracle has many enemies, I had to be sure.

Neo: Of what?

Seraph: That you were The One.

Neo: You could've just asked.

Seraph: You do not truly know someone until you fight them.

A segunda é entre Neo e o Agente Smith:

Agent Smith: But, as you well know, appearances can be deceiving, which brings me back to the reason why we're here. We're not here because we're free. We're here because we're not free. There is no escaping reason; no denying purpose. Because as we both know, without purpose, we would not exist.

[Several Agent Smith Clones walk in]

Agent Smith Clone 1: It is purpose that created us.

Agent Smith Clone 2: Purpose that connects us.

Agent Smith Clone 3: Purpose that pulls us.

Agent Smith Clone 4: That guides us.

Agent Smith Clone 5: That drives us.

Agent Smith Clone 6: It is purpose that defines us.

Agent Smith Clone 7: Purpose that binds us.

Agent Smith: We are here because of you, Mr Anderson. We're here to take from you what you tried to take from us.

[Attempts to copy himself into Neo]

Agent Smith (igual a todos os demais): Purpose...

Em administração “propósito” é o mais (já nem tão...) novo jargão que, hospedado na área (evolução semântica de departamento...) de “pessoas” (evolução semântica de recursos humanos), passeia pela organização inteira tentando convencer e cooptar mentes, corpos e liberdades, numa “pseudobusca” de resposta e motivo. Até aí, tudo bem, deve ser coerente com a lógica utilitarista de direcionar recursos adequados para a maximização de crescimentos e lucros, que são exatamente o que justifica o papelsocial das empresas.

Meu questionamento crítico frutifica se este modismo vier a seguir a mesma estrada da qualidade, da reengenharia, da sustentabilidade, com bem-intencionado “propósito” de ser tudo, acaba não sendo nada. E um monte de dinheiro acabar sendo investido despropositadamente.

Pois, óbvio, após algum tempo finalmente perde-se o propósito e a eficácia originalmente propostos; as pessoas reagem (cinicamente?) a mais essa tentativa reducionista (empacotada e limitada). E aí o que acontecerá? Aparecerá, de propósito, por outro modismo para tomar tal lugar.

Minha única crítica é que tudo poderia ser bem mais simples... Show me the money...

Minha homenagem, ou ProVocAção, escrita abaixo em forma de Haikai, não é ao Neo, nem a Sean, nem aos músicos: é aos administradores, que deviam perder menos tempo em lançar modismos e mais em gerar valor.

Grana e poder.

Conexos delírios.

Poema e Sol...

E

Ter, obter, ganhar,

Com-portar, ser, con-formar.

Sem ProVocAções...

Ou

Autor e ator

Palco da vida

Metamorfoses

E

O Ser e Nada

Eu multiproposital

Em ser o nada

E

Vida cética,

Incerteza complexa;

Ser curioso.

E

Erotizante

Vivendo exaltado

Erotizado

E

Vinda lúcida,

Resolução mutante;

Certas dúvidas...

E

Irresoluto;

Livre de propósito

“Desrespondente”

E

Amo dilemas

“Polincongruências”

“Desessências”

E

Sem propósito;

Consciente, íntegro;

De propósito.

E

Livre e real

“Despropositalmente”

Confuso, feliz

E

Amplo, múltiplo;

Propositalmente eu:

Bem cambiante