A SECA
Uma bilha tombada
sequiosa de água
um pé de salsa ressequida
Um cão que passa ao longe
não reconhece o dono
nem o escaldante sol
Na fonte abandonada
uma sombra solitária
tudo está deserto
Aldeia silenciosa
o gado está fora
desde alta madrugada
Paira o desespero
no coração da cigarra
que perdeu a fala
Não há crianças no povo
procuram sedentas
seu naco de pão
As sombras saíram
buscam lugares
mais apetecidos
Nas soleiras das portas
pendem recados
e uma esperança que chega
Nem novos nem velhos
dizem a quem passa
o nome que têm
Virá o cangalheiro,
o Zé da Bomba,
o da sotaina preta ?
Ninguém vê ninguém
passa ténue o boato
que amanhã virá chuva !
Frassino Machado
In HAIKAI