HAIKAIS IMPERFEITOS (159): Ânfora vital

Alguma pessoa, sem dúvida, terá questionado a série de haikais, em cujo título consta a palavra “ânfora”. Para além de alguma analogia entre as formas femininas e as “anfóricas”, nenhuma outra semelhança parece adivinhar-se; talvez. Por isso devo explicar; imponho-me a obriga de explicar o caso.

Nesta sexta-feira santa um bispo de "españolidad" dissertou, na homilia, contra a homosexualidade e sobre a função do sexo nas pessoas humana.

Segredos da mente sempre fantasiosa, as minhas lembranças voaram a uns slides (ou diapositivos) que graficamente complementavam uma introdução às explicações ortodoxas da sexualidade humana, dirigidas a crentes novos do catolicismo romano.

É nestas explicações iniciáticas (e gravuras) que a mulher, o corpo da mulher, era comparado com uma ânfora, enquanto o varão, o seu corpo, ficava resumido numa lança, arma decerto agressiva.

E pensei: Por que não aproveitar essas simplezas, talvez inocentes, para redigir haikais também inocentes, pelo menos em aparência. Comecei, continuei e por aqui ando: Vamos ao seguinte.

Ânfora vital:

Sagrada qual santuário

Em que aninha o riso...

Ânfora lançal*,

Estímulo e relicário

Do sentir inviso...

(*) “Lançal” adj. (1) Alto e esbelto como uma lança. (2) Arrogante.

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Nota.- Não me inspirou, mas me inspirou o haikai o poema “Relicário”, enviado por Agla ao “Recanto das Letras” em 18/04/2012 (Código do texto: T3620637):

Guardei meu coração num pequeno relicário

As bordas selei com parafina

Ainda podia ouvir sua voz e suspiro

Quando o lancei ao Rio, ele ainda pediu:

- Não me deixe!

Mas eu o joguei mesmo assim

Nas águas do Rio da Vida

Seguiu com a correnteza

Ele há de desaguar no Mar Infinito

O sal vai diluir seu grito

E compreender a grandeza da Eternidade

                                              [que tudo passa...!]