HAIKAIS IMPERFEITOS (143): Febre de carne

Nem febre de pedra:

Nem calafrio de pedra:

Nem manto de pedra:

Mas águia de carne:

Cinzel secular de carne:

Figura de carne:

Coluna de carne:

Ardente lua de carne:

Lua de só carne...

Imensa febre de carne

eterna:

Luz polida de carne

eterna:

Carne febril, mas eterna...

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Estes haikais, mistos, imperfeitos e não referidos ao rei Davi, estão inspirados no poema "Febre" (Código do texto: T2738229), que Poeta Galega enviou em 19/01/2011 ao "Recanto das Letras". Diz assim (transcrevo-o completo, porque é poema que merece ser lido e desfrutado):

Subiu a escadaria de pedra até à portada de pedra

e ficou a olhar o relevo demorando a vista com paciência de pedra,

o David aguardava de rabel e arco de pedra.

Achegou a mão tremente aos cruzados pés na pedra

e, súbito, um calafrio de pedra

ligou a sua carne com o infinito da pedra.

Tocou também o manto de pedra e as patas da águia de pedra

e a pedra falou-lhe como querendo deixar de ser pedra,

numa turva corrente como sendo vida de pedra.

Sentiu o cinzel maestro de tantos séculos de pedra

a polir a superfície pousando o bico na figura da pedra,

limando as arestas no magno rosto de pedra.

E a pedra era fria e queria aquecer na coluna de pedra.

E a mão ardente esfriava com palidez de pedra.

E a Lua alumiava a mortal palidez da pedra.

E a Lua era também de pedra.

Noite, praça da ourivesaria,

relevo do rei David à entrada da catedral,

Santiago de Compostela (Galiza)