LIVRINHO MEU SÓ COM HAICAIS DE VERÃO - Para todos os amantes do haicai
Tece a teia, a aranha.
Curiosa, se aproxima,
pequenina mosca.
Uma joaninha
tenta decifrar-me as linhas
da palma da mão.
Em volta da lâmpada
a dança das mariposas.
Ah, vida efêmera!
Besouro na sala
zumbe e zumbe sem descanso.
Escrevo um haicai.
O olhar do velhinho
segue as garças sobre o mar.
Castelos de areia.
Perdida na noite.
Na trilha dos vaga-lumes
busco o meu caminho.
Os trovões ribombam.
O pequeno cão Valente
treme no meu colo!
As ruas de ontem
na quarta-feira de cinzas.
Mendigos de sempre.
Um verão sem férias.
Não sei o nome do pássaro
que alegra a manhã.
O passista triste:
carnaval pela TV
um pé engessado.
No vaso da sala
os girassóis sobrevivem.
Que dia nublado!
Um verão nublado.
As águas do mar, tão frias,
clareiam-me a mente.
As rosas vermelhas.
O sorriso da velhinha
tem dezoito anos.
Horizonte rubro.
Ave branca atravessando
branco do luar.
Pedidos de esmola
e algazarra de boêmios.
Verão, da janela.
Cores do arco-íris.
Vejo todos os que passam
a olhar para o chão.
As formiguinhas
escalando o pedregulho.
Que folhas pesadas!
Os guris ostentam
seus bigodes de sorvete.
- Passeio no zoo.
Aguaceiro branco.
As janelas invisíveis
que imagens não veem?
Pardal distraído
vai rolando no aguaceiro.
Alguém percebeu?
Lua de verão.
O cavalo de São Jorge
deve estar feliz.
Borboleta errante
sobre a lombada de um livro.
Voa, pensamento!
Ao pé da mangueira
nossas bocas lambuzadas.
Retrato de infância.
Anúncio no ar.
Pássaros de um lado a outro
temporal à vista.
A casa em ruína.
No teto, a aranha tece
primor de bordado.
Lua de verão.
A esmo, na hora morta,
o boêmio só.
Chuva de granizo.
As aves todas, caladas,
aguardam a calmaria.
Viagem turística.
Este arrebol de verão
sem sair de casa.
Surgiu de repente.
Arco-íris sobre o mar
para todos nós.
Uma lagartixa
cruza a extensão da parede.
Assim cruza a vida.
Sol do meio-dia.
O batalhão de formigas
sem hora de trégua.
Celebrando as bodas
- noiva de esplêndido véu -
cachoeira e céu.
Zumbem pernilongos.
No meio da madrugada
escrevo um haicai.
Carneiro branquinho
esta nuvem de verão.
Ah! Já desmanchou.
Zumbe zumbe zumbe
interrompendo a leitura.
Besouro importuno!
Vejo, do sombral,
o rendilhado das folhas.
Ah! Sol tecelão.
Guarda-sóis na praia.
Solitária, a estrela ardente
sobre todos nós.
Que doce partilha!
Fatias de abacaxi
ao redor da mesa.
Sozinha no quarto.
Só, balé de mariposas
ao redor do lustre.
Calendário novo.
Uma ruga a mais no rosto
e os dias voando.
Saída da feira.
Pausa na primeira banca:
Pastel e água de coco.
A barata surge.
Meu chinelo ensaia o pulo
e a barata some.
Famílias devoram
grandes taças de sorvete.
Paisagem no shopping.
Pirilampos-guia.
Caminhante em segurança
pela escuridão.
Em homenagem ao centenário da
imigração japonesa no Brasil
Noite de verão.
Na parede, o Monte Fuji
coberto de neve.
Os trovões ecoam.
Vem o pai com seus filhinhos
um atrás do outro.
Homenagem ao centenário da
imigração japonesa no Brasil
O velho imigrante
desenha os ideogramas.
Haicai de verão?
Lesma sobre o musgo.
Assim imóvel, parece
em meditação.
Chuva repentina
encharca os chapéus-de-sol.
Banhistas às tontas.
Republicação na manhã de 25 de fevereiro de 2012.