«O Rapto de Proserpina» - Gian L. Bernini (1622)
(imagens retiradas daqui)
De onde vem o talento, a inspiração, a habilidade,
que permitem que um homem transforme um bloco
de mármore nessa inacreditável e tensa delicadeza?
HAICAI LXV
Em cada traço
no mármore gravada
a alma do artista
Ana Flor do Lácio
«O Rapto de Proserpina» é uma escultura de Gian Lorenzo Bernini, um dos maiores artistas do século XVII.
Na mitologia romana há uma interessante história que narra o rapto de Proserpina por Plutão.Também aparece na mitologia grega, onde Plutão é o deus Hades e Proserpina é Perséfone, a linda jovem que encantou o obscuro deus Plutão com sua beleza. Um dia, enquanto ela colhia flores no campo, ele decidiu raptá-la e levá-la para as profundezas da Terra, deixando sua mãe, a deusa das colheitas Deméter, tão enfurecida que castigou o mundo, arrasando com as plantações e espalhando o caos e a fome. Conta-se que Proserpina, aprisionada, não podia comer nada que lhe fosse oferecido ou ela nunca mais voltaria para casa.
Enquanto Zeus tentava convencer Plutão a libertar a jovem, Proserpina comeu algumas sementes de romã, selando o seu destino. Assim, ela se viu obrigada a casar com seu raptor. Zeus conseguiu interferir e ficou decidido que Proserpina passaria metade do ano com o esposo e a outra metade com sua mãe. Dessa maneira, Deméter aceitou e assim os gregos explicavam as épocas do ano. No verão e primavera, sua filha estava ao seu lado. No inverno e no outono, épocas frias, sem colheitas, Proserpina ficava com Plutão.
A fantástica escultura de Bernini encontra-se na Galleria Borghese, em Roma.
Bernini é, na minha leiga opinião, um dos maiores escultores de sempre. A habilidade que demonstrou para retratar expressões e aspectos táteis em suas obras é surpreendente.
Ele foi muito mais do que um grande escultor e um exímio pintor e arquiteto. Foi um verdadeiro gênio e esta sua obra é escultural na verdadeira acepção da palavra. Conseguindo dar leveza, suavidade e volume a uma pedra bruta, suas esculturas conseguem emocionar todos aqueles que as observam.
Há um detalhe nesta escultura que é maravilhoso: quanto mais observamos, mais as mãos de Plutão parecem reais, se enterrando na carne macia de Proserpina, enquanto ela, desesperada, luta para se livrar daquele abraço, uma transmutação da carne em pedra que fixa eternamente o contato entre os corpos que se encontram em toques de emoção humana.