Era uma vez uma menina que se maravilhava todas as manhãs com a presença de um pássaro encantado que pousava em sua janela e a presenteava com um canto que não durava mais que cinco minutos. Um certo dia ela resolveu capturá-lo e aprisioná-lo numa bela e dourada gaiola para que pudesse ouvir por mais tempo o seu maravilhoso canto. Quando o passarinho perdeu as alegres cores de suas penas e nunca mais cantou, a menina descobriu que o canto do pássaro só existia, porque ele era livre e o fascínio que sentia por ele estava justamente no fato de não o possuir. Livre, com seu canto ele conseguia alegrar seus dias e sua vida. Aprisionado, ela o possuía, mas não recebia dele o que ela considerava ser a sua maior riqueza: o canto! Então resolveu restituir-lhe a liberdade.
Humanos que somos nem sempre sabemos recolher só encanto... Insistimos, também, em capturar o encantador e então o matamos de tristeza e acabamos por perder tudo.
A beleza de cada dia só existe porque não é duradoura e tudo o que é belo não pode ser aprisionado, porque aprisionar a beleza é uma forma de desintegrar a sua essência.
Amar talvez seja isso: viver, ficar juntos, mas sem possuir, sem aprisionar. Viver e amar são exercícios de desprendimento.
O tempo passa por nós, ora lenta, ora apressadamente. Possamos abrir os olhos, há encantos escondidos por toda parte, prestemos atenção, olhemos para a nossa janela e percebamos o pássaro livre que encanta nossos dias… Saibamos escutá-lo, sem cair na tentação de querê-lo apenas só para nós. Nisto consiste a beleza e o encanto de cada instante. A liberdade é o bem maior que o ser humano pode possuir. Ser livre, nos atos e nas ações, faz de nós seres melhores. Nem a gaiola mais dourada é mais bela que a liberdade...
HAICAI LVII
Dentro do ninho
trinar de passarinho
canção de acordar
Ana Flor do Lácio
Ave aninhadinha
A chocar os seus ovinhos
Materno carinho
(Luiz Moraes)
Gaiola dourada
não prende meu coração
No sonho é livre
(HLuna)