Descansava o réptil sobre a pedra e eu parei por ali alguns instantes; sua vida não dependia de relógio algum, todo ele era regido pelo sol. Desde que o astro-rei brilhe lá no alto e ele possa esquentar na pedra seu sangue frio, tudo estará perfeito. É bom saber-se dono do mundo enquanto capta o calor aconchegante desta pedra à beira do rio, enquanto seu olhar, vago, observa as águas demasiado apressadas para seu gosto, quedando de uma pequena cachoeira. Quem sabe o sáurio estivesse filosofando sobre o correr das águas, tendo ali cenário perfeito de repouso e meditação…
Perfeito reflexo da natureza: sua pele, com matizes de cinza e verde, prismas de luz sob o sol quente que verdeja as folhas, faz desabrochar as flores e evapora a umidade numa mistura de mil mistérios e movimentos que se dão com o mesmo teor de ignorância que nós e os sáurios possuímos. Fingimos saber. Mistérios são puras delícias… Quem ousará entender o delicioso mistério da vida?
(17/01/2012 - Penedo, RJ)
HAICAI XXXVI
O sol já vai alto
Um lagarto sem pressa
desfruta o banho
Ana Flor do Lácio
O sol já vai alto
Um lagarto sem pressa
desfruta o banho
Ana Flor do Lácio