Quando todas portas do céu se escancaram, a chuva cai torrencialmente, fustiga as vertentes montanhosas e alaga a terra, que, depois de ter matado sua sede, e não aguentando mais beber, do seu ventre regurgita violentamente as águas enlameadas, fazendo-as correr, borbulhar e cantarolar entre galhos, folhas e pedras de todos os tamanhos. As margens do rio animam-se por algumas horas, com este animado baile e alegres cantares. As águas em turbilhão adquirem a cor da lama, para depois, gradativamente, se tornarem mais límpidas, até à pura transparência do cristal, enquanto a revolta se dissipa e a raiva desaparece completamente… A corrente se torna menos intensa e volta ao tamanho e à rotina habitual. Agora apenas o vulto esverdeado das pedras cobertas de musgo desenha o percurso ondulante do que foi um rio enraivecido... (18/01/2012 - Penedo, RJ)
HAIKAI XXXII
Durou só um dia
a raiva do rio
morna valentia
Ana Flor do Lácio