HAIBUN-III ( Vila do sossego)

Esta vila é muito pacata, sossegada até demais. Nenhuma novidade por aqui já há muito tempo, porém nesta tarde, algo inusitado ocorre quebrando a rotina.

Assim que dobrei a esquina entrando na minha rua, notei algumas pessoas em frente ao portão de casa. Apressei-me um tanto preocupado e ansioso. Quando cheguei ao portão pediram para que eu tomasse cuidado ao entrar. Ato contínuo minha irmão lá da sala gritou:

— São abelhas, já chamamos os bombeiros.

Mal entrei, e eles chegaram.

Um enxame de abelhas se arranchou sobre a copa de uma roseira no jardim de casa trazendo-nos pânico e ameaça para a criação. Os bombeiros logo conseguem localizar a rainha que se encontra naquele bolo de ouriçados insetos. São tantas, que boa parte verga o pequeno arbusto e outra parte lança-se como uma tempestade sobre a vidraça da cozinha formando uma escura e espessa cortina viva.

O quintal é um zumbido só, da mesma forma que na rua em frente da casa, onde um enxame de pessoas curiosas também zumbem ruidosamente com seu falatório. A rainha é colocada dentro de uma caixa previamente preparada, e as abelhas uma a uma dirigem-se para lá, atraídas pelo feromônio de trilha da rainha-mãe. Isso demandou algum tempo e enquanto isso, já na situação sob controle, passamos um café e oferecemos aos rapazes que nos livraram do perigo e ao mesmo tempo, ajudaram a preservar aquele enxame de abelhas européias, entregando-as posteriormente a um apicultor experiente.

Antes que o sol desaparecesse atrás dos casarios, as abelhas e as pessoas já haviam deixado o local. Agora, um vento bonançoso sopra...

Haicai

silenciosa tarde-

na roseira desfolhada

pousa um colibri.

José Alberto Lopes
Enviado por José Alberto Lopes em 01/10/2010
Reeditado em 08/07/2024
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