Haikai sem regras

Haikai é um poema de origem japonesa, que chegou ao Brasil no início do século 20 e hoje conta com muitos praticantes e estudiosos brasileiros. No Japão, e na maioria dos países do mundo, é conhecido como Haiku. Para não incidir em problemas de rimas, ricas ou rudes, achou-se por bem denomina-lo Haikai.

O Haikai tem algumas regras, além de ser um poema conciso. Como eu gostava de escrever poemas curtos, passei a defini-los como Haikai. Eis algumas “pérolas”:

Porque viveu ao contrário,

Morreu como um nenenzinho.

Ela guiou minha mão

Ao caminho das Índias.

Acordou sonhando

Com um puro acorde.

Foi lendo Garcia Marquez

E contabilizando a solidão.

A chuva seca na areia

A esperança de verão.

Depois fui agrupando os três versos como manda tradição, contando 17 sílabas no total, a autêntica forma do Haikai. É um exercício de concisão e sobriedade, e eu gosto muito disso. Conclamo os compadres a produzir essas micropoesias, seguindo os cânones clássicos ou não. E peço licença para apresentar meus mais novos haikais:

Mudou de roupa

Liderou o féretro

Mudou de casa.

Na vida real

A moça fantasia

Um coito normal.

No purgatório

Da conta bancária

O saldo reza.

Jaz confortável

E íntimo do solo

Secando o húmus.

Bato o solado;

Dizendo de onde vim

Cai o pó claro.

A banda passou

Instante semibreve

Limpando a pauta.

Com língua presa

A testemunha muda

Depoimento.

Fábio Mozart
Enviado por Fábio Mozart em 08/12/2009
Código do texto: T1967590