HORAS DE CHÁ - Vários hai-kais
I
“o homem é uma máquina”
(Descartes). Descarte o tic
e taque-lhe o tum-tum
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II
quando será que
os batimentos cardíacos
regerão o tempo?
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III
eu velo a cidade
que vela o ócio e a idade
sem velocidade
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IV
vitória, o passado;
é uma luta o presente
e o futuro duro
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V
pintou logo o sete
mas se começasse em um
chegaria a oito
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VI
O poeta valsa
Com a folha seca e caem
Numa folha em branco
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VII
um hai-kai é como
um raio que cai e ribomba
nosso perceber
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VIII
grade e liberdade
não rimam analise
escada e corrimão
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IX
Ao cume do mundo
Se alto escalo profundo
O meu próprio Everest
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X
as lagartas viram
borboletas, mas os homens
anjos ou demônios
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XI
a trêmula água
espelha a verdadeira imagem
nossa que nós somos
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XII
sempre haverá
um lugar azul por trás
de um céu cor-de-chumbo
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XIII
eu toquei a lua
molhando a ponta dos dedos
seu riso ecoou
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XIV
a árvore morta
espera ressuscita e brota
perdoando o homem
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XV
folha quando cai
a vida ainda aproveita
morre em piruetas
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XVI
a boquinha da noite
come as sombras que cresceram
em vão no entardecer