HAIKAIS IMPERFEITOS (13): ... céu ...

Dedicado com carinho a Faísca, poeta e música... ou vice-versa

«Subir ao sétimo céu».

Eis o comentário do Trindade Coelho (p. 103):

«É o contrário de “ir aos ares”, que significa ‘zangar-se a valer’; de “ir aos arames”, que vem a dar no mesmo, e de “ir à pereira”, que é já, um pouco, ficar também ‘encavacado’. O que em gíria coimbrã (que está a pedir o seu glossário), se chama “dar casca”, “dar um cascarrão”, “dar sorte”, “dar um sortarrão”, como lá dizem os estudantes.

»’Subir ao sétimo céu’ é, pois, alçapremar-se uma pessoa num grande gozo, subir lá por essas esferas, até à sétima, que deve corresponder no sistema astronómico de Ptolomeu, ao Empíreo, ou Lugar dos Bem-Aventurados!

»Como dizia Camões:

»Melhor é experimentá-lo que julgá-lo,

»Mas julgue-o quem não puder experimentá-lo!

»Adiante.»

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Céus... sétimo ou oitavo?, Esferas celestiais..., Música das Esferas..., Marco Túlio Cícero (106 a.C. - 43 a.C.) e o ‘Sonho de Cipião’..., Ambrósio Teodósio Macróbio (~340 - 415) e ‘Commentarius in somnium Scipionis’ ou ‘Comentário ao sonho de Cipião’, «do texto original de Cícero, sobre a visão deste em relação ao cosmos e a doutrina da imortalidade da alma apresentada»...

O anti-céu..., a realidade terrenal... na “Comunidad Autónoma de Galicia” (sob o “Reino de España”)... «Más de 10.000 portugueses viajan cada semana a Galicia por motivos laborales» (‘La Opinión de A Coruña, sábado, 7 de junio de 2008, p. 27)... «Un centenar de brasileños trabajan en la construcción en Galicia haciéndose pasar por ciudadanos portugueses» (‘La Voz de Galicia’, sábado, 7 de junio de 2008, p. 1) ... «Las autoridades sospechan que un centenar de brasileños trabajan en Galicia haciéndose pasar por portugueses.- La Fiscalía investiga si empresas gallegas explotan a obreros lusos.- Ha abierto diligencias para conocer sus condiciones laborales y saber si se respetan sus derechos» (ibídem, p. 4) ...

Topei hoje, também na imprensa diária, uma citação do filósofo espanhol Ortega y Gasset, datada em 1914, mas de plena atualidade: «La España oficial consiste, pues, en una especie de partidos fantasmas que defienden los fantasmas de unas ideas y que, apoyados por las sombras de unos periódicos, hacen marchar unos Ministerior de alucinación» (in “Desde el país de tócame Roque”, de Luis Arias Arguelles-Meres, ‘La Opinión de A Coruña, sábado, 7 de junio de 2008, p. 29).

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Perante tais contradições de ideias e obras, topicamente humanas umas e outras, prefiro refugiar-me na poesia clássica, qualquer. Por exemplo, em Frei Luis de León (Belmonte, Cuenca, 1528 – Madrigal de las Altas Torres, Ávila, 1591), contemporâneo e quase coetâneo de Luís Vaz de Camões (Lisboa?, Coimbra?, entre 1517 e 1524? — Lisboa, 10 de Junho de 1580), e na sua «Oda a Francisco Salinas, Catedrático de Música de la Universidad de Salamanca», que começa por esta lira (estrofe de cinco versos):

El aire se serena

y viste de hermosura y luz no usada,

Salinas, cuando suena

la música extremada,

por vuestra sabia mano gobernada.

Fico, quase extasiado, nestas duas estrofes:

Traspasa el aire todo

hasta llegar a la más alta esfera,

y oye allí otro modo

de no perecedera

música, que es la fuente y la primera.

Ve cómo el gran maestro,

aquesta inmensa cítara aplicado,

con movimiento diestro

produce el son sagrado,

con que este eterno templo es sustentado.

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É neste sublime poema que pretendo eu escrevinhar uns haikais que com toda a certeza o definharão (poema e conceito).

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De facto na mensagem celestial do SENHOR SETE (que continuo a ter presente) e na invocação do frade agostiniano (que a ‘Inquisición’ castelhana condenou por traduzir e explicar textos da Bíblia) aninha um chamado à transcendência, de que a música é expressão superior, segundo a concepção neoplatónica: «Todos os sábios admitem que a alma também deriva das consonâncias musicais», a ecoar os «intervalos desiguais, mas proporcionados causado pelo movimento rápido das esferas» ou «as nove Musas enquanto a canção melodiosa das oito esferas e a harmonia predominante que procede de todas elas». Apolo, identificado com o Sol e por sua vez com a potência divina, preside e governa e modera o Universo das esferas...

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Inspiro-me na ode do frade agostiniano para elaborar HAIKAIS da música, celeste e harmoniosa. Que ele e os leitores me perdoem a ousadia:

Ar sereno e belo:

Música extremada e sábia:

Celeste harmonia.

Almas sem memória:

Melodias assisadas:

Retomada origem.

A mais alta esfera:

O Universo trespassado:

Música perpétua.

Som sagrado suave:

Esteio de eterno Templo:

Cítara acordada.

Almas navegantes:

Mar apolíneo de meles:

Êxtase e olvido.

Melodias doces:

Relembrado Bem divino:

Coros planetários.