HAIKAIS IMPERFEITOS (12): ... gatos ...
«Os sete fôlegos do gato». Explica Trindade Coelho (p. 58):
«Acho que ninguém lhos contou. Mas porque resistem a toda a avaria, e parecem feitos da pelo do diabo, entendeu o Senhor Sete, e muito bem, que deviam ser dotados daquele número de fôlegos! Um já vi cair duma torre, ficar de pé como se nada fosse com ele, e orientado em menos de um segundo, largar e fugir que nem uma lebre!»
Fernando Pessoa lirizava em Janeiro de 1931:
Gato que brincas na rua
Como se fosse na cama,
Invejo a sorte que é tua
Porque nem sorte se chama.
Bom servo das leis fatais
Que regem pedras e gentes,
Que tens instintos gerais
E sentes só o que sentes.
És feliz porque és assim,
Todo o nada que és é teu.
Eu vejo-me e estou sem mim,
Conheço-me e não sou eu.
E, pela sua parte, Solange Firmino, poetisa do Rio de Janeiro, professora do Ensino Fundamental e de Língua Portuguesa e Literatura do Ensino Médio, cadastrada neste sítio:
I
é tão breve a vida
que uma vida só
não basta
II
queria ter sete vidas
para saciar o cio
o ócio e a dor
III
nasceria sete vezes
várias chances teria
de acertar
IV
se muitas vezes errasse
recomeçaria cíclica a vida
quanto mais eu vivesse
V
é um mistério
mais vidas me esperam
quanto mais sete eu vivo
VI
o caminho é infinito
ter sete vidas é muito
se é longa a espera
VII
melhor seria uma vida longa
depois renascer
em outro mundo
(Vejam-se: http://www.blocosonline.com.br/sites_pessoais/sites/lm/leg/leilagpo.htm )
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Mini, gato negro,
e Misi, gata cinzenta,
dormem preguiçosos:
Por vezes acordam:
olhos de verde enredado
e dum azul meigo.
Mini brinca breve:
Misi, senhora em nobreza,
só passeia branda.
Ambos nos amimam.
E, amimando, de nós buscam
mimos e comida.
Ignoram se as vidas
são sete ou apenas uma,
sossegada e cómoda.
Gatos familiares!:
castrados e melindrosos,
burgueses e cívicos.
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