HAIKAIS IMPERFEITOS (11): ... alfaiates ...

«Sete Alfaiates para Matar uma Aranha».- Nas pp. 52-55 Trindade Coelho estende-se na explicação do dito ou provérbio:

«Em verso são setecentos:

»Setecentos alfaiates

»Todos postos em campanha

»Com agulhas e alfinetes

»Pra matarem uma aranha.»

E pergunta de imediato:

«Esta embirração do povo pelo alfaiate, virá de não gostar de ver um homem trabalhar de agulha?»

Para se responder:

«Creio que sim, mais de serem dados os alfaiates, pelo ofício, um pouco à bisbilhotice, pois na aldeias, lá, cima, trabalham à jeira em casa dos fregueses, e levam o tempo, eles e o mulherio da família, a murmurar das vidas alheias...

»Isso deve influir —que não é nada viril, por certo, ver um homem no meio de mulheres puxando a agulha como elas...

»Mas será assim?»

Não quer responder e assim fechar o argumento, porque, a seguir, foge para esta outro dado da vida real... de então:

«De resto, as próprias mulheres parece que não engraçam também com os alfaiates! É ouvir a cantiga do ‘Ladrão morreu’:

»O ladrão morreu

»A comer tomates,

»Meninas bonitas

»Não são pr’alfaiates.»

E acaba com esta quadra e reflexão:

«Aqui del-rei quem acode

»Ao fogo de Santarém,

»Acudam os alfaiates

»Enquanto os homens não vêm!

»Bem digo eu que as mulheres nem reputam homens os alfaiates!»

Disponho portanto dos elementos com que vou construir os HAIKAIS: “Agulha”, “Alfinete”, “Aranha”, Menina” (a bonita; mas a não bonita? É que há menina não bonita?), “fogo” e, em todo o caso, “Alfaiate” (ou “chastre”, que Trindade grafa na nota a rodapé, da p. 54 —«Vai ao chastre que te arremende!»— ou “xastre” na grafia usada na Galiza).

Vai:

Alfaiate, xastre:

Ah, alfaiate de alfinete:

Oh, xastre de agulha:

...

Cose os meus amores:

De moça branda e melosa:

Com fio de aranha.

...

E borda com fogo:

Meu coração de menina:

A florir ardências.

NOTA FINAL.- Sei que bastantes das quadras que Trindade Coelho recolheu, podem ler-se em chave erótica, lúbrico-erótica («tomates», «picar», «arranhar», «castanha» e «aranha», mesmo...). Mas eu fugi dessa dimensão lasciva para ficar na inocente. Não sei se consegui.