HAIKAIS IMPERFEITOS (10): Manuel Maria
Manuel Maria Fernández Teixeiro (Outeiro de Rei, Lugo, Spain, 6 de Outubro de 1929-Acrunha / Coruña, Spain, 8 de Setembro de 2004) foi um dos mais reconhecidos escritores galegos da pós-guerra civil espanhola.
A sua carreira literária é longa, multiforme e feliz; dela saliento a produção poética extensa e desigual, mas muito valiosa.
Tive a honra de, em diferentes ocasiões, conversar com Manuel sobre quase tudo o divino e o humano; na realidade o seu “ofício natural” era o de conversador e contador.
Também tive a honra de prefaciar o seu poemário ‘A luz ressuscitada’.
Colo deste um poema que me tem espantado e mesmo assustado pela força e sinceridade que ressumbra. Poderia ser intitulado «Galiza» ou «A Galiza» ou «O meu Povo e Tribo». Mas não tem título.
Ei-lo:
Não me cansarei de repetir, até
morrer, que nós nascemos e vivemos
na parcela mais formosa do mundo.
Mas deixamo-la sementar e inçar
de deserções, derrotas, êxodos,
brutalidade, esquecimento, inveja,
raposia, passividade e abandono,
egocêntrico personalismo delirante,
surdo proveito miserento,
feroz hipocrisia cancerosa,
desconfiança, pobreza, servilismo,
resignação de boi capado,
domesticação de cão, berro de rata,
falso sorriso de coelho:
pranto, toleima, medo e morte.
‘É arrepiante contemplar como
se vai auto-suicidando o nosso povo’.
Que alheios híbridos estranhos
está produzindo o meu país?
Ouh, minha amada, irrenunciável
tribo: somente névoa e terra!
Nós não somos pátria. Não. Não somos.
Desde este poema elaboro novos HAIKAIS IMPERFEITOS:
Olhas-nos, Manuel,
Desde os céus eternais:
Guarda-nos do mal:
Tu, que em cantos líricos,
Vaticinaste esperanças
Ao Povo Galego:
Faz com que sejamos,
Alheios ao servilismo,
Pátria e Terra livre.