Sincretismos

Não rezava o terço por convicção religiosa, não sua mas a que lhe enculcaram os pais, estes evangélicos convictos. Na fila de entrada do grupo escolar, abaixo do passeio, que parecia-lhe montanhesco, fingia rezar; até juntava as palmas das mãos como quem reza porém seus lábios permaeciam mudos. Censuravam-lhe: "deus não se agrada de crianças rebeldes." Conquanto o garoto matutava:"deus não gosta de quem é intolerante." Certo dia, pergutaram: "por que nunca reza o terço, até canta o hino nacional, mas numca reza?" No que ele respondeu:"minha religião não tem esse costume.". Então retrucaram:"sô há uma religião, que é a católica, e ela manda que rezemos." E, ao menino macambúzio, restou lamentar em seu íntimo -- "mentiram pra mim, meus pais mentiram, me ensinaram uma religião que não existe".Era então a década de oitenta, do século passado, numa cidadezinha perdida entre o sertão e a chapada, nos reconditos do estado da Bahia.

Garoto turrão!

Será que acredita?

Na reza, na fé? (Na vida?)

Luiz Eduardo Ferreira
Enviado por Luiz Eduardo Ferreira em 26/06/2017
Reeditado em 27/06/2017
Código do texto: T6038282
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