Sozinho na casa
Quase todas as noites, as estrelas iluminavam o caminho da casa de Seu Iran, perto da antiga ponte de ferro. Noites, um luar pintado de laranja, chegava à varanda e o homem ficava de conversa com sua cachorra Pretinha (Tão bem que ouvia, que latia em cada pausa das falas do dono!). A rede ia e vinha pelo movimento dos pés na parede e o idoso tecia suas extraordinárias histórias de quando era jovem, de como teve muitas namoradas... Até quando o sono chegava para irem dormir.
Entre as conversas havia umas lembranças em que esposa morria e daquele sonho de ter tido filhos. Vezes, alguma réstia de luar delineava o caminho da casa e Pretinha corria atrás pensando ser vagalume – mas não chegava a ir longe, que o dono gritava: “Pretinha, vem cá!”. Obedecia de pronto. Via-se, então, nessa relação, uma boa camaradagem e um infinito carinho de ambas as partes.
Os vizinhos sabiam que os dois moravam sozinhos. Era Pretinha que protegia a casa e que passeava com Seu Iran à tardinha. Se alguém o olhasse com cara amarrada, logo ela respondia com latidos altos: se mexiam com o dono, sua cachorra o defendia. Então, perguntaram pela ausência da cachorra de maneira particular quando um dia o viram sozinho. “Sim, mora agora longe de mim... Tudo é assim na vida... Talvez um dia eu a veja no céu...”.
noite sem luar –
apenas a lamparina
na porta da casa