PARA REDIGIR NÃO É NECESSÁRIO DOM

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Fernando Sabino escreveu, certa vez, que as cartas que recebia, na sua maioria, vinham acompanhadas de uma produção literária qualquer ou revelavam uma pretensão de escritor em perspectiva, tentando originalidade ou querendo parecer natural. E os poucos que se salvavam da mediocridade valiam mais pelas suas qualidades humanas que por uma vocação para a literatura. Sabino conclui seu enunciado com este brilhante conselho: “A estes, eu diria que para se realizar integralmente como homem, ninguém precisa ser artista, e muito menos escritor”.

Pois foi isso que aprendi nos meus anos de universidade: que a idéia de que saber redigir é um dom supostamente presente apenas naqueles que nascem com a vocação para a arte literária é um grande mal-entendido.

Ora bem, se é realmente verdade que produzir textos literários, supõe-se a existência de um dom, de uma vocação específica, não é verdade que seja necessário ser “o ser iluminado”, com um dom especial para a produção de textos não-literários em geral.

Na minha didática de redação era minha primeira tarefa esclarecer esse estigma do ato de redigir. E o fiz durante todo o período que exerci o magistério.

Porque será que o vestibular exige textos em prosa? Porque tem solicitado apenas textos dissertativos? Perguntava aos meus alunos.

Você sabe por quê? Ora, é porque não se quer privilegiar os poucos candidatos que eventualmente são portadores de um dom especial para produzir excelentes textos em verso ou narrativas deslumbrantes.

O que se quer, em verdade, é cobrar de todos os candidatos o que todos devem ser capazes: a produção de um texto em prosa numa linguagem correta e que opine com clareza, objetividade e lógica, um tema proposto.

Para isso é necessário ter um dom? Não, não é.

Redigir, nesse caso, é uma conseqüência do aperfeiçoamento da escrita; natural de um bom trabalho desenvolvido ao longo de todo o curso médio, como pré- requisito para a vida acadêmica e profissional.

O vestibular não pretende selecionar artistas da palavra, da arte literária. O que se exige é: domínio da linguagem, postura crítica da realidade, organização de idéias e capacidade argumentativa.

Por isso é que tenho diversificado meus textos didáticos entre a teoria literária e as dicas de redação. Pois assim, unimos a técnica ao dom.®Sérgio.

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Referência bibliográfica: Odilon Soares Lemes, A Redação uma reflexão pedagógica; Editora Ática, São Paulo.

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