Fala e escrita - proposta de Mário de Andrade reaparece às vezes nas variantes linguísticas do Brasil... J B Pereira
"Através de seus poemas [Mario de Andrade} é possível entender o contexto social que o Brasil atravessava e compreender um pouco a história dessa personalidade essencial para a construção da identidade nacional."
https://www.culturagenial.com/poemas-de-mario-de-andrade/
A menina e a cantiga
… trarilarára… traríla…
A meninota esganiçada magriça com a saia voejando por cima dos joelhos em nó vinha meia dançando cantando no crepúsculo escuro. Batia compasso com a varinha na poeira da calçada.
… trarilarára… traríla…
De repente voltou-se pra negra velha que vinha trôpega atrás, enorme trouxa de roupas na cabeça:
– Qué mi dá, vó?
– Naão.
… trarilarára… traríla…
A menina e a cantiga faz parte do livro Losango Caqui, de 1926. Nesse texto, vemos o contrastes entre as duas personagens retratas: a menina e a avó.
A menina é exibida com uma aura alegre e saltitante, bailando e cantando ao cair da noite. A palavra “trarilarára” aparece como a sonoridade de seus gracejos e cantorias.
Já a velha é mostrada como uma senhora trôpega que leva roupas na cabeça (costume das lavadeiras). Aqui, nota-se a relação que Mário faz entre o trabalho e a condição da mulher negra, que provavelmente labutou a vida inteira e chega à velhice cansada e manca."
https://www.culturagenial.com/poemas-de-mario-de-andrade/
___________________________
Exemplos de variantes linguísticas no Brasil em: https://diogoprofessor.blogspot.com/2018/02/atividade-sobre-variedades-linguisticas_99.html
domingo, 18 de fevereiro de 2018
Atividade sobre variedades linguísticas - Humor - "Assaltantes de várias regiões do país"
" Assaltante nordestino
-Ei, bichim... Isso é um assalto... Arriba os braços e num se bula nem faça muganga... Arrebola o dinheiro no mato e não faça pantim se não enfio a peixeira no teu bucho e boto teu fato pra fora! Perdão, meu Padim Ciço, mas é que eu tô com uma fome da moléstia.
Assaltante mineiro
-Ô, sô, prestenção... Isso é um assarto, uai... Levanta os braço e fica quetim quesse trem na minha mão tá cheio de bala... Mió passá logo os trocado que eu num tô tão bão hoje. Vai andando, uai! Tá esperando o quê, uai!
Assaltante gaúcho
-ô, guri, ficas atento... Bah, isso é um assalto... Levantas os braços e te aquietas, tchê! Não tentes nada e cuidado que esse facão corta uma barbaridade, tchê. Passa as pila pra cá! E te manda a la cria, senão o quarenta e quatro fala.
Assaltante carioca
-Seguinte, bicho... Tu te deu mal. Isso é um assalto. Passa a grana e levanta os braços, rapá... Não fica de bobeira que eu atiro bem pra... Vai andando e, se olhar pra trás, vira presunto...
Assaltante baiano
-ô, meu rei... (longa pausa) Isso é um assalto... (longa pausa) Levanta os braços, mas não se avexe não... (longa pausa) Se num quiser nem precisa levantar, pra num ficar cansado... Vai passando a grana, bem devagarinho...(longa pausa) Num repara se o berro está sem bala, mas é pra não ficar muito pesado... não esquenta meu irmãozinho (longa pausa). Vou deixar teus documentos na encruzilhada...
Assaltante paulista
-Orra, meu... Isso é um assalto, meu... Alevanta os braços, meu... Passa a grana logo, meu... Mais rápido, meu, que eu ainda preciso pegar a bilheteria aberta pra comprar o ingresso do jogo do Corinthians, meu... Pô, se manda, meu... "
____________________
Prus mineiro
1. Num fica na muntuêra digenti.
2. Se alguém espirrar, fala: Deus ticriu!
3. Usa auquinguéu.
4. Fica dendicasa.
5. Num vai pra cadavó.
6. Num vai pra Gaurapari. Cabufri nem portisiguru.
7. limpus trem ondi põe a mão.
8. Gente gripada? Arreda!
9. Muié pançuda, cuidadobradu.
10. Fica veiaco cusvéi!
#Reels Rafaela Arasanoli em: https://www.facebook.com/share/r/182xLtan8e/
___________________
Meu comentário sobre a escrita ou fala popular como variante regional
J B Pereira
Há textos de Mário de Andrade que contém escrita conforme a fala cotidiana ou trivial. Uma aproximação ao coloquial e informal, contudo há regras de sintaxe do português ou do brasileiro caipira.
Marcos Bagno discute também essas possibilidades no ensino na escola, pois são idiossincrasias da fala do povo na escola juntamente com a gramática normativa, a histórica.
Há outros artigos na internet sobre a sociolinguística, que se dedica a estudar as variações sociolínguísticas. Discute as desigualdades de acesso ao poder, dos tipos de fala regionais etc.
Citamos o artigo abaixo, possível e sugestões de leituras em Referência.
________________
Claudio Daniel: Sete poemas de Mário de Andrade
Publicado 02/03/2020 10:00 | Editado 01/03/2020
"Mário de Andrade (1893-1945) foi um dos mais originais escritores do modernismo brasileiro: poeta, romancista, crítico literário, musicólogo, folclorista, deixou extensa obra em todos esses gêneros literários, mas é na poesia que temos as suas produções mais inovadoras, do ponto de vista estético – ao lado do romance-rapsódia Macunaíma. Mário de Andrade assimilou influências de Walt Whitman, do futurismo italiano, das vanguardas francesas da década de 1920, mas sua poesia alimentou-se sobretudo da linguagem coloquial, dos regionalismos, do folclore do imaginário popular, dos mitos indígenas e africanos, e ainda dos temas sociais e políticos. Sua dicção, personalíssima, é, ao lado da poesia pau-brasil de Oswald de Andrade, o ponto de partida de quase toda a poesia brasileira e contemporânea."
https://vermelho.org.br/prosa-poesia-arte/claudio-daniel-sete-poemas-de-mario-de-andrade/
ARTIGO I
"Ora, também aqui Mário de Andrade não discrepou, pois alude à "contribuição pessoal", ou seja precisamente ao fator estilístico. Com bastante autoridade, Gladstone Chaves de Melo, em livro muito bem logrado (A Língua
do Brasil, 1. ª edição, 1946), enfatizou, com a lucidez de sempre, a diferenciação
meramente estilística: "Nada impede que nós tenhamos língua portuguesa e
estilo brasileiro. Isto é, um sistema gramatical português, o mesmo que se
encontra em Camões, Vieira, Bernardes, Herculano, Garrett etc. e um modo de
expressão, uma escolha no material lingüístico e algumas criações que melhor
se ajustem e que correspondam ao espírito, à alma, ao temperamento, à sensibilidade brasileira." (p. 134 da 2.ª edição).
FONTE: Artigo em: Lingüística, Filologia, Crítica Literária - Mário de Andrade e a língua Brasileira
N.º 17 e 18 - 1.º e 2.º semestres de 1999 – Rio de Janeiro - Brasil
"Bem a propósito da oportunidade do levantamento
da questão ortográfica entre o Brasil, Portugal e outros
países usuários da Língua Portuguesa, este artigo aborda
o problema sob vários aspectos na visão de Mário
de Andrade, principalmente quanto à sua possível
Gramatiquinha da Fala Brasileira . p. 83 - 93 .
REFERÊNCIA
ANDRADE, Carlos Drumond de. A lição do amigo. Cartas de Mário de Andrade
a ___ . Rio de Janeiro. José Olympio, 1982.
PINTO, Edith Pimentel. O português do Brasil, Textos críticos e teóricos. 2-
1920/ 1945. Seleção e apresentação de ___ . Rio de Janeiro (Livros
Técnicos e Científicos). São Paulo (EDUSP), 1981.
___ . I -A Gramatiquinha. Texto e contexto. II -Apêndice. Tese apresentada
à Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, para
concurso de livre-docência. São Paulo, 1982.
ARTIGO II
Artigo LINGUAGEM E ESCRITA: A influência da fala e do meio social na utilização da variedade padrão em textos escritos.
Autor encaminhou o texto no Brasil Escola
Obs.: O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Monografias. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.
Publicado por: ÁQUILA ELISIÁRIO SILVA DE PAULA
"A associação entre uma determinada variedade linguística e a escrita é o resultado histórico indireto de oposições entre grupos sociais que eram e são “usuários” (não necessariamente falantes nativos) das diferentes variedades. Com a emergência política e econômica de grupos de uma determinada região, a variedade por eles usada chega mais ou menos rapidamente a ser associada de modo estável com a escrita. Associar uma variedade linguística a comunicação escrita implica iniciar um processo de reflexão sobre tal variedade e um processo de “elaboração” da mesma. Escrever nunca foi e nunca vai ser a mesma coisa que falar: é uma operação que influi necessariamente nas formas escolhidas e nos conteúdos referenciais.
Os cidadãos, apesar de declarados iguais perante a lei, são, na realidade, discriminados já na base do mesmo código em que a lei é redigida. A maioria dos cidadãos não tem acesso ao código, ou, às vezes, tem uma possibilidade reduzida de acesso, constituída pela escola e pela “norma pedagógica” ali ensinada. Apesar de fazer parte da experiência de cada um, o fato de as pessoas serem discriminadas pela maneira como falam, fenômeno que se pode verificar no mundo todo, no caso do Brasil não é difícil encontrar afirmações de que aqui não existem diferenças dialetais. Relacionado com este fato está o da distinção que se verifica no interior das relações de poder entra a norma reconhecida e a capacidade efetiva de produção linguística considerada pelo falante a mais próxima da norma. Parece que alguns níveis sociais, especialmente dentro da chamada pequena burguesia, têm tendência à hipercorreção no esforço de alcançar a norma reconhecida. Talvez não seja por acaso que, em geral, o fator da pronúncia é considerado sempre como uma marca de proveniência regional, e às vezes social, sendo esta a área da população linguística mais dificilmente “apagada” pela instrução."
https://monografias.brasilescola.uol.com.br/pedagogia/linguagem-escrita-influencia-fala-meio-social-na-utilizacao.html
REFERÊNCIA
BAGNO, Marcos. A língua de Eulália: Novela Sociolinguística. 3 ed. São Paulo: Contexto, 1999.
CAPISTRANO, C. C. Segmentação na escrita infantil. São Paulo: Martins Fontes, 2007. (Texto e linguagem).
CASTILHO, Ataliba T. De. A língua falada no ensino de português. 2 ed. São Paulo: Contexto, 2000.
CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização e Linguística. 10. ed. São Paulo: Scipione, 2001.
GNERRE, Maurizio. Linguagem, Escrita e Poder. 3.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1994.
DIAS, Ana Iorio. Ensino da linguagem no Currículo. Fortaleza: Brasil Tropical, 2001.
BORTONI - RICARDO, Stela Maris. Nós cheguemu na escola, e agora?: Sociolinguística na sala de aula. São Paulo: Parábola Editorial, 2005.
BOURDIEU, P. Cultural reproduction and social reproduction Jn: KARABEL, I., HALSEY, A H. Power and ideology in education. New York: Oxford University, 1977.
MAIA, Eleonora Motta. No reino da fala: a linguagem e seus sons. 3 ed. São Paulo: Ática, 1991.