Prosódia ou fala do português do Brasil. J B Pereira

Meus poemas em Recanto das Letras: https://www.recantodasletras.com.br/poesias/4118632

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"Parole", segundo F. de Saussure (1917), está nos casos de idiossincrasias e tipicalidade ou eventualidade da fala de cada cultura ou língua ou "langue".

Trata-se de casos específicos dos condicionamentos linguísticos circunscritos aos entendimentos cotidianos da sociologia do Brasileiro ou da Lingua Brasileira, diferente do Português de Portugal.

Os motivos são as expressoes idiomáticas de ordem antropológica, sociológica, cultural, geográfica, históricos. O distanciamento de Portugal nos levou a flexibilização da pronúncia e nossas morfossintaxes decorrentes do uso cotidiano da língua. Ademais, houve influência da presença do índigena e da tropicalidade sul-americana. A isso, incluimos, tardiamente, a confluência de africanos e migrantes de outras culturas europeias e asiáticas. Aqui entra também as cacofonias, litotes, hipérboles, metáforas e ditados populares da sabedoria popular, sem autoria própria.

Esse caldeirão nos legou o hidridismo ou sopa linguística diferenciada a que nos faz refletir Olavo Bilac no soneto Lingua Portuguesa:

Língua Portuguesa

Última flor do Lácio, inculta e bela,

És, a um tempo, esplendor e sepultura:

Ouro nativo, que na ganga impura

A bruta mina entre os cascalhos vela...

Amo-te assim, desconhecida e obscura,

Tuba de alto clangor, lira singela,

Que tens o trom e o silvo da procela,

E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma

De virgens selvas e de oceano largo!

Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

Em que da voz materna ouvi: "meu filho!",

E em que Camões chorou, no exílio amargo,

O gênio sem ventura e o amor sem brilho!

Publicado no livro Tarde (1919).

Fonte: https://www.escritas.org/pt/t/12986/lingua-portuguesa

Vejamos os casos triviais que se nos aparecem cotidianamente:

- Quebrar o galho de alguém: ajudar a pessoa;

- Choramingar o leite derramado: não adianta lamentar o que se passou...;

- Andorinha só não faz verão: um apenas, nada muda na história...;

- Cavalo baio não se olha os dentes: não se deve colocar defeito em presente já empenhado;

- Ele é mão de vaca: pessoa sovina ou economiza demais; - paoduragem: pão duro: pessoa supereconômica;

- Ele não joga a casca fora, para não comer banana: pessoa difícil de gastar dinheiro em compras;

- Quem tem um olho, em pais estrangeiro, é rei: as exceções podem fazer a diferença; não subestime as pessoas ...;

- Cão que ladra não morde: não adianta falar demais e nada realizar;

- Defundo que sabe morto faz mais peso ou Não adianta gastar vela em mau defunto: saiba em que investir...;

- Não adianta tampar o sol com a peneira: não adianta adiar problemas ou fingir que não é com você;

- Boi sonso é que arromba curral: pessoa fingida pode fazer estrago em sua vida; - Não jogue pedra no telhado de seu vizinho, pois o seu é de vidro: não brigue com o vizinho, o mal pode se virar contra você...; - Se vir seu vizinho com barba a pegar fogo, coloque sua barba de molho: Não critique ninguém sem saber dos fatos... senão o alvo será você mesmo; - Ninguém tem estrela na testa ou você não tem sangue azul: não se julgue melhor ou superior aos outros... Se contenha em seus julgamentos....; - Casa de ferreiro: espeto de pau: cada ofício tem seus percalços e dificuldades ou "os ossos do oficio" ; - Ele não tem beira e nem eira: é pessoa pobre ou com poucos recursos. No Brasil é em Portugal, as casas dos ricos tinham os beirais em duplas teohas justapostas em enfeites. Indicava condição nobre ou ostentação arquitetônica; - Meus lábios por ti gelam; meu coração, por ti são: cacofonia ( se ler descuidadamente, pode causar outro entendimento diferente pretendido: "lábios = tigela; coracao= timão ou brasa"; - cabeça de bagre: indivíduo com pouca experiência ou percepção de causa-efeito; - pessoa mala ou ácida: indesejada, rancoroso, implicante, irritante...; - No namoro, meu irmão é vela colocada por minha mãe: costume antigo, de colocar um irmão entre os namorados para evitar beijos e abraços; - Ele tem estupim curto: indivíduo colérico ou sanguíneo, capazes de se enfurecer rapidinho...; - Diga-me com quem andas e te direi quem tu és: condena amizades perversas ou maliciosas ou fingidas; - Maçã 🍎 podre contamina o cesto. Sobre as más influências... - Se não gosta, racha fora: some de mimha vida; - Vamos rachar as despesas...: vamos dividir os gastos juntos; - Beleza não põe mesa... Para certos momentos de praticidade ou funcionalidade, não adianta alguma coisa em si apenas com o véu da beleza. Primeiro, a essência; depois a essência. Vinicius de Moraes não aceitaria o ditado acima, pois afirmava em poema: Perdoe-me as feias, beleza é essencial... - Leva devagar o santo no andor, porque é de barro: confia desconfiando; - "Deixe que os mortos enterrem seus mortos, você vem e me siga." Na tradução portuguesa do grego ou Septuaginta ou a do latim ou Vulgata de São Jerônimo, Jesus se apropria do ditado hebraico... para dizer não se servir dos laços da mortalidade, nem pretexto de enterrar os paus ou parentes e não querer seguir Jesus.

Na internet, há Frases que só brasileiros entendem, de Neia Guimarães,

que destaca: - A porta dormiu aberta ( ficou encostada, sem ser fechada à chave); - A luz dormiu acesa. Ficou acesa! - Você segue reto toda vida: para dizer manter-se na mesma via...; - Eu fiquei preso do lado de fora. Fiquei aguardando abrir a casa por muito tempo; - Escrita só pra você ver. Para dizer que a escreveu para confirmar fatos ou para encobrir a realidade...; - Vou só esperar o sol esfriar... Aguardo o sol abaixar ou ocaso solar...; - Não vi nem o cheiro: a figura de linguagem é a hipélage ou inversão de palavras para dizer outra coisa: sentir o cheiro sem se perceber...

J B Pereira
Enviado por J B Pereira em 27/12/2024
Reeditado em 03/01/2025
Código do texto: T8228210
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