O hífen com prefixos e pseudoprefixos

Sou antiarmamentista... Mas não vou delongar o assunto. Estou preocupado, neste post, é com a grafia da palavra. Seria com hífen, como vemos em muitos registros na internet, inclusive em sites jornalísticos?

A resposta é simples, direta e inequívoca: não há hífen. O grande problema das reformas ortográficas é que, durante muito tempo, ficam sendo usadas duas grafias, e o resultado é a confusão, a incerteza. Em síntese, a ortografia não se estabiliza. Ainda há terminais eletrônicos onde se lê ‘auto-atendimento’, mas esse hífen não se usa mais...

No caso de ‘antiarmamentista’, está havendo um duplo desconhecimento, pois, mesmo antes das regras do Acordo Ortográfico (1990), escrevia-se ‘antiarmamentista’, porque, com o prefixo ‘anti’, o hífen era usado quando a palavra seguinte começa com ‘h’, ‘r’ ou ‘s’. Havia outros prefixos nessa situação, mas não cabe aqui citar.

Mas, afinal, o que dizem as regras atuais? Prescrevem que, com prefixos e pseudoprefixos, o hífen é usado quando a palavra a seguinte começa com a mesma letra com que termina o prefixo ou começa com h. Ficou mais simples, ficou mais prático – não há dúvida.

Esses prefixos e pseudoprefixos são muito usuais em nossa língua, como se vê pela limitada amostragem a seguir: acro-, aero-, agro-,alvi-, anemo-, ante-, anti-, auto-, bio-, cardio-, cito-, contra-, extra-, gastro-, geo-, hiper-, macro-, micro-, mini-, pseudo-, semi-,super-, supra-, ultra-, zoo etc.

A partir da relação anterior, concluímos, entre muitas outras palavras, que assim se escrevem: anticoncepção (mas: anti-inflamatório e anti-herói), contraprova (mas: contra-ataque e contra-habitual), hiperacidez (mas: hiper-hidrose e hiper-rancoroso), microeconomia (mas: micro-habitat e micro-ondas), superaquecido, superdivino (mas: super-herói e super-requintado) e por aí vai a longa lista...

Como veem, uma regra bem prática que nos permite resolver grande parte dos problemas com prefixos e pseudoprefixos. Vejam bem: disse grande parte... Há situações especiais, sobre as quais poderemos falar em próxima oportunidade.

Talvez o leitor, que certamente tem a intuição do que seja um prefixo, esteja se perguntando o que seriam pseudoprefixos? Pseudoprefixos (assim mesmo, sem hífen) são radicais gregos ou latinos que passam a ser empregados com o valor semântico integral de uma palavra da qual fazem parte. Por exemplo, o elemento ‘auto’ (por si próprio) aparece em ‘automóvel’, que quer dizer o ‘que se locomove por seus próprios meios’. Mas, em ‘autoestrada’, o elemento ‘auto’ está significando ‘automóvel’. ‘Autoestrada’ não é ‘estrada por si própria’. Trata-se, nessa segunda situação, de um pseudoprefixo. Existem muitas ocorrências desse tipo em nossa língua. Mais um exemplo? Vamos lá... ‘Tele’ é um elemento grego, que significa ‘longe’. Logo, temos ‘televisão’ (visão do que vem de longe); mas, em ‘telejornal’, o ‘tele’ passa a significar ‘televisão’. ‘Telejornal’ é o jornal que passa na tevê, em contraste com os jornais escritos... Clareamos?

Antes de finalizar, uma pequena informação sobre escrita e pronúncia. Escrevamos ‘semirreta’. Vajam: o prefixo ‘semi’ se agrega a uma palavra que começa com ‘r’. Nesse caso, o ‘r’ deve ser dobrado para reproduzir, na escrita, a pronúncia forte como em ‘carro’ (fonema [R]). Escrevamos, ainda, ‘autossuficiente’. Sem hífen, claro, pois o segundo elemento começa com ‘s’; mas, nesse caso, temos que sobrar o ‘s’ para reproduzir a pronúncia de [s] como na palavra ‘samba’. Perfeito?

Repito... Essas são pequenas informações que resolvem muitos problemas do dia a dia sem a ajuda do dicionário. Vamos mesmo ajustando, com facilidade, certas grafias antigas que teimam em sobreviver... *

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