PARA QUE ESTUDAR GRAMÁTICA?

Para que estudar gramática?

Essa é uma pergunta feita por muitos estudantes da rede básica e até mesmo de cursos superiores. Revelam-se assombrados com a quantidade que lhes parece excessiva quando estão diante das regras da gramática normativa. Conforme sugere o nome, trata-se de regras, as quais podem (e devem) ser quebradas. Porém, como romper com a tradição se não a conhece? Esse é um primeiro motivo para estudar a gramática, que aqui se refere ao famoso livro no qual se estudam de fonemas a orações, passando por classes gramaticais e noções de semântica.

Quando me dizem “Português é difícil” fico pensando no tanto de conhecimentos que essa pessoa mobiliza para se comunicar, porém não tem consciência destes para falar, escrever, ler. Se é tão difícil assim, será que quase toda a população é genial? Todavia, entre sabê-la e ser efetivamente proficiente, a ponto de desenvolver um raciocínio mais amplo, produzir um texto oral ou escrito de uma proporção mais sofisticada, ainda que simples, mas não simplória, como uma palestra, um trabalho de conclusão de curso; de fato, não é para qualquer um. Por quê? Porque exige esforço mesmo, exercício de reflexão e aprimoramento linguístico e extralinguístico, que separamos por uma questão didática, haja vista que não se deve conceber língua sem interação, língua sem a sociedade e contextos vários.

A verdade é que, durante muito tempo (infelizmente ainda persiste) a educação básica era privilégio de poucos. Então, as classes menos abastadas – financeira e intelectualmente – viam aquele linguajar desenvolvido na escola com um certo assombro. Daí advém uma série de discursos preconceituosos, que fazem muitos crer que pessoas que falam “a gente vamos”, “nós vai” são desprovidas de inteligência, quando o que lhes faltou foi o acesso à escola para que conhecessem a norma-padrão da língua portuguesa. E o que é essa norma?

A norma-padrão pode ser definida como um ideal linguístico a ser alcançado por uma dada nação para que haja relativa uniformidade em relação a construções linguísticas em contextos formais, como artigos científicos, textos jornalísticos, documentos oficiais, entre outros. Quero destacar que defendo o seu estudo, porque considero a diferença entre ter competência e ter performance. Todos nós temos competências linguísticas diversas, mas – quando nos dedicamos ao estudo sistemático e sério de uma língua – passamos a ter um melhor desempenho, abrindo-nos para maiores possibilidades de manipulação de recursos do idioma. É possível explorar a fonética (som), a morfologia (estrutura), a sintaxe (construção oracional), a pragmática (a intenção), quando saímos de um ensino passivo e enveredamos para uma abordagem ativa das práticas de linguagem.

Essa abordagem coloca o texto como centro do ensino de Língua Portuguesa, aqui tratado em todas as frentes que costumam ser separadas em escolas particulares, sobretudo, mas que também seguem o modelo em escolas públicas, ainda que realizado por apenas um docente. Essas frentes são: literatura, gramática, interpretação de textos e redação. A literatura, não raro, só costuma aparecer no Ensino Médio, ainda prevalecendo mais a história da literatura do que o tratamento do texto literário, haja vista que as obras muitas vezes deixam de ser exploradas. O ensino de gramática – inócuo, como se apenas “eleitos” e “alienígenas” fossem capazes de compreender. A redação fica reduzida ao texto dissertativo. A interpretação de textos resumida a macetes, sendo até sugerido por alguns professores que só sejam lidos o 1º e último parágrafos para a compreensão global... Preciso comentar? Depois dirão que “os jovens de hoje em dia não sabem escrever”. Antigamente sabiam? Há registros da decadente leitura de obras e escrita de textos escolares desde o final do século XVIII, início do XIX. Dá um Google aí e lê a queixa sobre isso do Machado de Assis!

Ah, gente, esse texto já descambou por outro caminho. O fato é que não é só para pensar por que estudar gramática, mas por que estudar a língua nativa de ampla maneira. Vamos colocar os estudantes deste país inteiro (da Educação Básica à pós-graduação) para ler, escrever, ouvir e falar. Mas onde? Como? Quê!? Fica a pauta para outros textos e contextos...

Leo Barbosa é professor, escritor, revisor de textos e poeta.