TROPEÇOS DE/NA LINGUAGEM - III
Tropeços na/de linguagem – 3
01 – Comentando procedimentos a serem tomados para o combate à pandemia de Coronavírus, conceituado comentarista televisivo, aludindo a elogiáveis imunidades de um amigo interiorano, decorrentes, em especial de salutar alimentação, declarou: “Ronaldo come tudo o que planta... por certo, não será atingido, ficará imune”, ironizou.
Naturalmente, queria evidenciar a potencialidade da saúde, fundamentada em produtos isentos de adubos, agrotóxicos e estimulantes congêneres. Em suma, a alimentação natural.
Conforme a expressão em destaque, se Ronaldo plantasse toneladas de produtos, indistintamente, deveria ingeri-los, uma vez que come tudo o que planta. O que nos parece inviável.
Se alterarmos a ordem, afirmando que Ronaldo planta tudo o que come, sobressai-se a coerência. Considere-se ainda a possibilidade do emprego de uma preposição no primeiro exemplo, ou seja: “Ronaldo come DE tudo o (aquilo) que planta. Naturalmente, sem aludir à quantidade. Bem como é viável que deguste alimentos que não sejam cultivados por suas mãos. Para o momento, mais importante do que a correção gramatical é a extinção da pandemia.
02 – Rebentar a boca do balão. Algumas expressões ou palavras, essencialmente respaldadas na analogia, numa linguagem simples, facilmente assimilada, vez por outra revelando a face jocosa, adquirem direito de cidadania.
Numa rapidez impactante, fruto dos veículos de comunicação, disseminam-se sem que atentemos à racionalidade.
Não nos foge ao saber que a expressão em destaque remete-nos ao sucesso, a resultados que revelam expressividade na conquista. Quem sabe, previsíveis ou não. Um balão, também conhecido como bexiga inflável, bola de soprar ou simplesmente bexiga, é um saco inflável, flexível, cheio com um gás, como hélio, hidrogênio, óxido nitroso, oxigênio ou ar. Balões modernos podem ser feitos a partir de materiais como borracha, látex, ou um tecido de nylon, enquanto balões iniciais foram feitos de bexiga seca de animais, como a bexiga de porco.
Ao estourar, como é sabido, rompe-se o corpo da bexiga. No entanto, a boca, uma vez que é reforçada e encontra-se numa posição de entrada e saída de ar, jamais vai rebentar.
03. A poluição só piora nos grandes centros. A redação, quem sabe em discordância com o pretendido (periódico carioca), permite-nos afastar a possibilidade de que ocorra nos pequenos centros. A simples inversão, possibilita-nos que haja coerência – A poluição nos grandes centros só piora. Pode ser observada como pleonasmo.
04. Com a implantação da Nova Reforma Ortográfica (01/01/2009), ficamos limitados a poucos acentos diferenciais. Ei-los: a) pôr (verbo) e por (preposição) b) dá (verbo dar) e da (preposição) c) pôde (verbo no passado) e pode (verbo no presente) d) têm (verbo no plural) e tem (verbo no singular) e) vêm (verbo no plural) e vem (verbo no singular) f) mantêm (verbo no plural) e mantém (verbo no singular)g) convêm (verbo no plural) e convém (verbo no singular) h) detêm (verbo no plural) e detém (verbo no singular) i) intervêm (verbo no plural) e intervém (verbo no singular).
Em algumas sentenças, para eliminar eventuais dúvidas, devemos atentar ao emprego do acento circunflexo, pois ele definirá o número (singular ou plural). Exemplifiquemos: Este medicamento atenua crises a quem tem medo de altura. A quem – aquele que, (inviável a este que) – portanto, (singular) A quem (aos quais), àqueles, a estes. Sendo assim, percebamos: Este medicamento atenua crises a quem tem medo de altura (aquele que). Este medicamento atenua crises a quem têm medo de altura (aqueles que, aos quais).
05. Sua Excelência, a Ministra da Mulher da Família e dos Direitos Humanos, Damares Regina Alves, notadamente conhecida por afirmações aberrativas, ainda que pastora e advogada, em entrevista ao programa do apresentador José Luiz Datena, deixou-se expelir mais uma preciosa pérola, ao comentar comportamentos governamentais: “ sobre este assunto temos verdadeiro ASNO...’ Considerando o emprego asinino, totalmente infundado, uma vez que o correto seria “ sobre este assunto temos verdadeiro ASCO...” nossa conceituada Ministra continua pecando em princípios básicos da Língua Portuguesa, podendo perder dádivas celestes.
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