cordel do português

Cordel do Português - Nova ortografia

--- Walter Medeiros

O mundo é muito bom

Para quem sabe viver

E quem gosta de aprender

Sabe usar palavra e som;

Por isso vou escrever

O que já pude entender

Sem estresse ou frisson.

Falo da formulação

Da nova ortografia

Pois está chegando o dia

De virar obrigação;

E agora, quem diria!

Coisas que a gente escrevia

Não pode escrever mais não.

Não esquente, meu amigo,

Pois não é um teorema

Começando pelo trema,

Pois ele foi abolido;

Agora o novo sistema

Não é mais nosso problema

Só estrangeiro é mantido.

Para ser bem comedido,

Acho bom lhe explicar

Você só vai aplicar

O trema, quando ocorrido,

Se o nome que encontrar

For de país ou lugar

No estrangeiro definido.

Para se ter mais firmeza

Sobre as alterações

Novas normatizações

Para a língua portuguesa

Vêm de acordo dos bons

Que elimina os senões

E que traz muita certeza.

Brotando da natureza

Essa mudança tão boa

Foi assinada em Lisboa

Mas não é uma moleza

Pode não ter mais coroa

Mas é bela a ressoa

De Brasília a Fortaleza.

Sem ardil ou esperteza

Vamos ver o que mudou

O alfabeto ganhou

Três letras da língua inglesa

Todo mundo já usou

Pois não desacostumou

K, w, e y – beleza!

Quilômetro e quilograma

Têm símbolos com k,

Watt com w está

E o k em kafikiano;

Agora vamos grafar

Yang e show em pá

E playground todo ano.

Sem o trema vai ficar

Aguentar, arguir, bilíngue,

Cinquenta, sagui, delinque

Eloquente, ensanguentar

Equestre, frequente, ringue

Lingueta, quinquênio, brinque,

Tranquilo não mais terá.

Precisa também olhar

Toda acentuação;

Em muita situação

As regras irão mudar,

Mas não tem complicação

Basta prestar atenção

Para logo assimilar.

Vamos deixar de usar

Acento em ditongo aberto

Éi e ói não é mais certo

Na penúltima sílaba

Não olhe agora pro teto

Precisa ficar esperto

Prá nova forma encontrar.

A forma certa agora

É alcaloide, alcateia

Androide, apoia, plateia,

Asteroide e boia, ora!

Celuloide e colmeia

Claraboia e Coreia

Estreia, não te apavora.

Tem ainda debiloide,

Epopeia, estoico, estreia,

Geleia, heroico, ideia

Paranoia, paranoico,

Jiboia, joia, odisseia

enfim tramoia e plateia

O acento não é mais lógico.

Todos precisam saber,

Continuam acentuadas

As palavras terminadas

Com aquele mesmo dizer:

Papéis, herói, não mudadas

troféu, troféus muda nada

assim vamos escrever.

Quando for paroxítona

Vinda depois de um ditongo

O rol não é muito longo

Cabe nas cordas da cítara:

Baiuca, Cauila, um gongo,

bocaiuva até no Congo

e feiura sem barítono.

Vamos ver também aqui

Acentos que continuam,

Pois ainda se acentuam

No antes e no porvir;

tuiuiú, até na lua

tuiuiús, do campo à rua

E o majestoso Piauí.

Não se usa mais o acento

Em palavras terminadas

Em êem e ôo(s), cada,

Basta olhar num momento;

A escrita facilitada

Nestas letrinhas dobradas

Parece ser o intento.

Outra medida legal

Para ser apreciada

Pode ser logo adotada

Com o diferencial

Permanece acentuada

Pôde, pôr e quase nada

Só têm e vêm, e tchau.

Usando hífen agora

Não precisa se estressar

A palavra com h

Recebe o sinal na hora;

Quando um prefixo há

O termo composto está

Como em macro-história.

Também em proto-história

E sobre-humano hífen dá

Porém a exceção está

Na palavra subumano

Pois ela perde o h

E vamos ter de grafar

Sem motivo prá engano.

Quando vogais diferentes

Querem juntar as palavras

Hífen ali não se lavra

Nem para ser eloquente;

Forma o que se esperava

Do jeito que se falava

É feito um só elemento.

Aeroespacial

Coautor, coedição

Também autoinstrução

E agroindustrial;

Antiaéreo, irmão,

Autoescola em sua mão

Sem hífen é o normal.

Pode parecer maçante,

Mas é melhor acordar

Não precisa cochilar

Pois tem coisa interessante;

Como é aglutinar

Alguma vogal que há

Com umas certas consoantes.

Hífen vem com r e s,

Outras consoantes não

Como em autoproteção

Veja lá se não esquece

Aneprojeto, então,

Bem como coprodução

O acento não merece.

Parece consolação

Como um amigo disse

Quando se junta com vice

Aparece a exceção;

Não é nenhuma tolice,

Pois tem hífen, como disse,

Da capital ao sertão.

Vice-rei, vice-almirante

E por aí vai em frente

Mas a coisa é diferente

Quando a vogal vem antes

De elemento componente

Com r ou s iniciante

Duplica a letras da frente.

Antirrábico, ultrassom

Cosseno e contrarregra

Contrassenso, aí pega,

Antirracismo é bom

Antissocial é brega

Antirrugas, e a refrega

Minissaia e infrassom.

Para a mesma vogal

Deixar de se encontrar

O hífen tem de entrar

Na composição normal;

Veja contra-atacar

Como em semi-internar

Ficou assim bem legal.

Também com as consoantes

Acontece coisa igual

A mesma letra, e tal,

O hífen lá se garante;

Como em inter-racial

E inter-regional

Fica até bem elegante.

Diferentes consoantes

Se encontrando por ali

O hífen não vai surgir

Por mais que seja falante;

Hipermercado, já vi,

Superproteção senti,

E superinteressante.

Aqui não mostramos tudo

Pois era coisa demais

E nem mesmo os jornais

Mostraram tamanho estudo;

Quem quiser estudar mais

Pode ver os manuais

Que têm todo conteúdo.

Uma mensagem a vocês

Na hora de terminar

Precisam valorizar

Sendo assim o mais Cortez;

Língua mais bela não há

Aqui ou n’outro lugar

Que o nosso Português.

FIM

Walter Medeiros
Enviado por EUGÊNIA em 07/05/2023
Código do texto: T7781918
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