20 – Mais Treinos de Pontuação
Nos últimos dias, preparei alguns treinos de PONTUAÇÃO, com exercícios que fui criando – pois reconheço que cada vez que retomo este assunto, falo dele de uma maneira diferente, e isso poderá ser útil a Leitores que eu sei que seguem estes meus textos para se aperfeiçoarem!
*** I - INTRODUÇÃO
Na minha infância, na escola primária, a minha Professora propunha-nos um exercício que constava de um “DITADO”, sem pontuação. Portanto, um texto “incompleto”, ou “imperfeito”...
Para o CORRIGIR, ou completar, ela relia-o em voz alta assinalando as PAUSAS:
= As PAUSAS BREVES e SUAVES, onde um Emissor DESCANSA a voz, RESPIRANDO, e sem “paragem” continua a falar: as pausas das , , , , (vírgulas)
= As PAUSAS mais LONGAS; aqui, ela baixava a voz! Parava. Eram as pausas dos . . . . (pontos finais).
=...E nós, as Alunas, tínhamos que assinalar as Pausas que ela ia fazendo, dizendo em coro: "Vírgula" - "vírgula" - "ponto final".
Já lá vão uns bons 70 anos...
Nessa época, a LEITURA em VOZ ALTA, a leitura EXPRESSIVA, era um treino para interiorizar a PONTUAÇÃO! E para aprendermos a comunicar de viva voz!
Na minha vida profissional, eu incentivava os meus Aluninhos a lerem com muita expressão, com muita ênfase! Fazíamos vários exercícios, por vezes bem divertidos.
E eu exigia-lhes:
- Vá, agora, Você vai ler melhor do que eu!
Eles riam-se na inocência dos seus 10 ou 11 anos:
- Oh, S’tora, isso é impossível!...
- OK, temos que ler como se fôssemos ARTISTAS de TEATRO!
E agora?
ACTUALMENTE, vejo com muita frequência, o canal TV5 MONDE. Aqui, sou fã do programa “La Grande Librairie”, do jornalista e crítico literário FRANÇOIS BUSNEL.
Ao longo deste último ano lectivo, ele promoveu, nas escolas secundárias de França, um concurso de LEITURA EM VOZ ALTA!
Ele visitava as turmas cujos Professores se tinham inscrito nesse concurso. Os alunos que queriam concorrer, levantavam-se e iam para o topo da sala de aula, junto ao “quadro” – que por sinal já se modernizou e tem em geral um tom mais favorável aos olhos do que o antigo “quadro preto”. Cada Aluno, ou Aluna, lia com toda a expressividade, o melhor que sabia, o texto que tinha preparado para concorrer.
... Em geral, François Busnel fazia-se acompanhar de um “autor”, ou de um “actor de teatro”! que faziam os seus comentários à “performance” de cada aluno!
Finalmente, houve uma sessão nacional, e a entrega dos prémios!
Dar valor à Leitura em Voz Alta não é uma coisa do Passado!
Este concurso da TV5 Monde veio ao encontro da importância que sempre dei à “leitura em voz alta”! PORQUÊ?
= Porque ela consegue aperfeiçoar a dicção,
= Ela tem o valor de INTERIORIZAR os ritmos do “discurso”, ou seja, os RITMOS DO TEXTO;
= Ela transforma o texto escrito num MOMENTO VIVO!
II: Propostas de treino para acertar a PONTUAÇÃO.
Ora bem:
Temos aqui várias propostas de treino para acertar a PONTUAÇÃO.
Recordemos que na grande maioria dos casos, uma frase “é uma história muito, muito, muitíssimo pequena”.
Vamos repetir isto, mas de forma mais elaborada:
Uma frase é o enunciado de uma INFORMAÇÃO.
Assim, conforme os casos, uma FRASE contém TODAS ou quase todas as INFORMAÇÕES necessárias à COMUNICAÇÃO de qualquer facto, ou ideia:
Uma FRASE contempla as tais “questões de Quintiliano”: uma frase contempla:
- a presença de uma ACÇÃO e do SUJEITO que a praticou,
- e as CIRCUNSTÂNCIAS em que essa ACÇÃO se desenrolou:
ACÇÃO = o que foi feito
SUJEITO = quem fez
ACÇÃO + SUJEITO -> são o núcleo da frase:
atenção: NUNCA se separam por , (vírgula)
Por exemplo:
O gato miou...
As CIRCUNSTÂNCIAS:
QUANDO? – esta noite
ONDE? atrás da porta
COMO? muito aflito
PORQUÊ? porque queria vir dormir na minha cama
Agora, organizamos a FRASE duma maneira mais natural:
Esta noite, o gato miou muito aflito atrás da porta porque queria vir dormir na minha cama.
O QUE FOI QUE FIZEMOS?
1º Ordenámos de forma muito natural os diferentes ‘segmentos’ da “INFORMAÇÃO”.
2ª SIMULTÂNEAMENTE, conforme o ritmo da RESPIRAÇÃO e as MODULAÇÕES DA VOZ, pusemos a VÍRGULA no momento certo!
III- COMO interiorizar a PONTUAÇÃO:
Apesar de tudo o que já ficou dito, permanecem dúvidas...
Há alunos que se perguntam:
"Quando estou a escrever, fico desorientado... Onde é que hei-de pôr as 'vírgulas'? e os 'pontos finais'?"
.
Já vimos que a PONTUAÇÃO representa, no texto escrito, o RITMO da fala.
Então:
Penso que um bom processo de INTERIORIZAR uma consciência dos RITMOS do discurso oral, será adoptar o hábito de fazer uns momentos de LEITURA em VOZ ALTA... DIARIAMENTE:
=Escolha um texto ao acaso. Vamos supor - um texto do seu livro de textos da aula de Português, outras vezes, um texto de jornal:
= Reserve uns 10 minutos, diariamente, para ler uma breve passagem em voz alta, RESPEITANDO as PAUSAS:
Nas VÍRGULAS, que representam as pausas breves: SOBE ligeiramente a voz,
Nos PONTOS FINAIS, que representam as pausas longas, quando descansamos para recuperar o fôlego, a nossa voz DESCE..
Tente ler de várias maneiras, sempre com o mesmo respeito pelas pausas indicadas no texto:
= como quem explica uma matéria ao irmão mais novo,
= como quem faz um discurso,
= como quem faz uma confidência,
= como quem canta...
Leia também os seus próprios textos! Sinta onde a sua voz descansa, e registe as pausas breves, e as pausas longas, de que sentiu necessidade!
Vai ver que ao fim de algum tempo, os seus textos vão sair "certinhos", como verdadeiras obras de Autor!
*
Agora, poderá dizer-me:
-Actualmente, os Autores já não usam esta "pontuação à maneira clássica"...
E eu dir-lhe-ei:
- Tem toda a razão! Mas eles sabem o que estão fazendo! Nós lemos, por exemplo, a obra de António Lobo Antunes: "A Morte de Carlos Gardel":
A primeira impressão que temos, é que ele "mistura" tudo... Mas depois, observando bem, o CAOS do seu discurso escrito é só aparente! Sob aquela amálgama de "frases" (de informação), está uma LÓGICA! O seu "discurso" supõe uma sobreposição de vários planos "informativos", supõe vários planos da ACÇÃO, vários planos no TEMPO da história, vários planos na vida interior das personagens!
...Mas para chegar aí, ao nível da escrita dos grandes escritores, eles tiveram certamente o seu próprio tempo de aprendizagem! Tomando ainda o exemplo de António Lobo Antunes:
Entre 1979, data do seu primeiro livro publicado ("Os Cus de Judas") e "A Morte de Carlos Gardel", publicado em 1994, medeiam 15 anos, e a publicação de 8 obras!
Recordo esta frase do aeronauta que foi Santos Dumont (1873-1932):
“Há um ditado que ensina o gênio é uma grande paciência; sem pretender ser gênio, teimei em ser um grande paciente. As invenções são, sobretudo, o resultado de um trabalho teimoso, em que não deve haver lugar para o esmorecimento.”
― Santos Dumont
IV - Para terminar:
É sempre bom ter presente:
= Como dissemos acima, as FRASES iniciam-se por LETRA MAIÚSCULA;
= Terminam por . (ponto final), ou por ponto de exclamação (!) ou por ponto de interrogação (?) .
= Querendo dar a ideia - ou a sensação - de uma ACÇÃO prolongada, uma ACÇÃO bem descrita, bem detalhada: usamos as FRASES LONGAS, com as CIRCUNSTÂNCIAS bem delineadas - é a frase descritiva;
= Querendo dar a ideia de uma ACÇÃO REPENTINA, de uma acção movida pela EMOÇÃO, usamos frases curtas, ou seja, frases breves - é a frase emotiva.
*** EXERCÍCIOS:
Organizar as propostas seguintes em Frases correctas e completas.
Para isso, pronuncie estes enunciados, primeiramente, em voz alta, como se estivesse a conversar com alguém!
Um cuidado importante:
As FRASES começam por letra maiúscula.
1-
ontem comprei aquele vestido que estava na montra a minha mãe ajudou-me fiquei muito feliz
2-
esta manhã fiz um bolo experimentei uma receita nova que vi na televisão
3
o meu marido conseguiu ser promovido vamos comprar uma casa com mais um quarto
porque esta é muito pequena para uma família como a nossa
parabéns
4
duas vizinhas encontram-se à porta de casa trocam impressões
esta manhã fui à praça os preços subiram onde é que vamos parar
olha eu nem sei como economizar já gastei a imaginação
5-
esta manhã fui ao dentista quem é que se lembra de ir ao dentista em vez de ir para a praia
custou muito
não é uma coisa que tem que ser mas na praia está-se melhor
ah ah ah
6-
no ano passado fiz a viagem dos meus sonhos visitei o Rio de Janeiro quem foi que disse que o Rio de Janeiro é a “cidade maravilhosa”
para o ano estou a pensar no norte da europa os países nórdicos são uma beleza dizem que no inverno lá bem ao norte eles fazem hotéis na neve
não é frio
que ideia são muito quentes e confortáveis
bem os Esquimós antigamente viviam nos iglôs e aguentavam os invernos
é a sabedoria da adaptação ao ambiente agora os Europeus aprenderam com eles
========== SOLUÇÕES.
1-
Ontem, comprei aquele vestido que estava na montra. A minha mãe ajudou-me! Fiquei muito feliz!
2-
Esta manhã fiz um bolo. Experimentei uma receita nova que vi na televisão.
3
- O meu marido conseguiu ser promovido! Vamos comprar uma casa com mais um quarto, porque esta é muito pequena para uma família como a nossa...
- Parabéns!
4
Duas vizinhas encontram-se à porta de casa; trocam impressões:
- Esta manhã fui à praça. Os preços subiram... Onde é que vamos parar?
- Olha, eu nem sei como economizar... já gastei a imaginação...
5-
- Esta manhã fui ao dentista... Quem é que se lembra de ir ao dentista em vez de ir para a praia?
- Custou muito?
- Não, é uma coisa que tem que ser... mas na praia está-se melhor!
- Ah ah ah!
6-
No ano passado, fiz a viagem dos meus sonhos, visitei o Rio de Janeiro! Quem foi que disse que o Rio de Janeiro é a “cidade maravilhosa”?
Para o ano estou a pensar no norte da Europa. Os países nórdicos são uma beleza!
- Dizem que no inverno, lá bem ao norte, eles fazem hotéis na neve... Acreditas?!
- Não é frio?
- Que ideia, são muito quentes e confortáveis!
- Bem, os Esquimós antigamente viviam nos iglôs e aguentavam os invernos! É a sabedoria da adaptação ao ambiente! Agora os europeus aprenderam com eles!
===== Leitura complementar
Existem várias teorias sobre os motivos de a cidade do Rio de Janeiro ser chamada de Cidade Maravilhosa. Dentre todas as explicações a que parece mais plausível e real é um registro no jornal “O Paiz” de fevereiro de 1904, durante o carnaval carioca. Depois disso, muitos jornalistas, poetas e escritores passaram a usar o termo para se referir à cidade do Rio.
Em 1935 o termo foi usado na criação da marchinha “Cidade Maravilhosa”, que se tornou hino do RJ anos mais tarde, e foi eternizada nas vozes de importantes intérpretes brasileiros, como Caetano Veloso. Quem não conhece o famoso refrão, “cidade maravilhosa, cheia de encantos mil, cidade maravilhosa, coração do meu Brasil”, não é mesmo?!
E o compositor André Filho estava certo quando escreveu que o RJ é uma cidade “cheia de encantos mil”.
Para continuar a ler, eis o LINK:
https://www.comandantenobre.com.br/sabe-por-que-o-rj-e-chamado-de-cidade-maravilhosa-vem-conferir/
Myriam
8 de Agosto de 2022
O texto foi ampliado em 15 de Agosto.
RESPOSTA AO COMENTÁRIO:
Amigo Papagua
Lamento não saber como responder aos Comentários...
Mas quero agradecer a generosidade do seu comentário!
Comecei a fazer estes textos de Gramática e os de Teoria Literária para me ocupar, durante o período de Confinamento, devido à Pandemia...
Tenho tido muito bom acolhimento! Estou muito grata aos meus Leitores!
Seja sempre bem-vindo!
A nossa Língua é muito bonita! Tem sido valorizada por grandes Autores, aliás, grandes "artistas da palavra"! Cada um de nós pode contribuir para continuar a enriquecê-la, e a renová-la!
Mas para RENOVAR, penso eu, É PRECISO... saber como ela funciona!
Eu vou deixando aqui o meu contributo. E há muitas mais pessoas, aqui no Recanto das Letras, que deixam contributos valiosos! É ir frequentando o que aqui se publica!
Até breve!
Myriam
***